a «Creche de Loulé», vai fazer 75 anos, sempre ligados ao amor pelas crianças.

«Ao longo da sua história pautou a sua intervenção por uma educação inter/multicultural, aberta à diversidade, à inclusão alicerçada nos direitos humanos e nos direitos da criança, e este vai continuar a ser o seu caminho», disse-nos Ivone Silva, Diretora da Casa da Primeira Infância

Neto Gomes

A Casa da Primeira Infância de Loulé, ao longo da história perpetuamente designada como a «Creche de Loulé», comemora no próximo dia 10 de Junho 75 anos de vida, e nunca uma ponte, entre os primeiros dias de vida e o momento que agora vive, 75 anos depois, foram tão exatos.

Com efeito, foi sob a bandeira trémula, quase impiedosa, da sua fundação, no distante dia 10 de Junho de 1945, que veio ao mundo, a «Creche de Loulé», sob o calor e o amor eterno de Maria José Cabeçadas e os seus seguidores, com a posterior consequência e fulgurante ação de Catarina Farrajota, que esta marca social e humana cresceu e fez crescer o amor aos outros.

A Directora Ivone Silva, com a equipa de educadoras, um dos grandes motores da Instituição

De igual modo, agora pelo saber e experiência organizativa de José Teiga, aquele que durante mais tempo tem elevado a fasquia da Instituição, vive-se um imprevisível e doloroso momento com o Covid-19 dramaticamente anunciado, a qual que por agora labuta com todas as suas pacificas armas, que são o amor pelas crianças, para se reerguer e regressar ao caminho do amor, como se espelhava e era tão visível, no começo deste ano.

Num mundo em constantes e estranhas mudanças e cambalhotas, por mais que juntemos as mãos aos céus, 75 anos, quase que não são coisa nenhuma, mas para a «Creche de Loulé» e para os filhos e filhas, que aqui nasceram, entre muitas e muitos que já são saudade, mas que aqui se fizeram mulheres e homens, é um tempo de pura e ardente filosofia de amor, de uma estranha vontade de pegarmos em tudo e irmos a correr por aí fora, cavando e semeando no instante seguinte, o melhor e o mais belo para todas as crianças.

Hoje, vamos fazer uma curta viagem de setenta e cinco anos de história, de mãos dadas com Dr.ª Ivone Silva, Diretora da Casa da Primeira Infância, para melhor entendermos, como caminha e como vai continuar a caminhar a «Creche de Loulé», sob a ternurenta bandeira da Casa da Primeira Infância.

O que representa para a instituição estes 75 anos de vida?

A Casa da Infância, inaugurada a 10 de junho de 1945 iniciou a sua atividade com seis bebés, com uma função essencialmente assistencialista e neste momento conta com 195 crianças onde se assume uma função socioeducativa. Independentemente da quantidade de crianças que têm vindo a frequentar esta instituição ao longo de 75 anos a sua missão de educar para a paz, para o Bem e para o Belo mantem-se, quer na educação de infância, quer nos projetos de índole solidária dirigida a famílias, crianças e jovens em defesa dos seus direitos.

Esta instituição tem como principais objetivos proteger, alimentar e educar crianças e jovens mais desfavorecidos.

A sociedade, no decurso das últimas décadas, tem sofrido grandes mudanças e transformações acompanhadas necessariamente por alterações políticas, sociais e educativas, onde a inovação e a criatividade desempenham um papel fundamental. A instituição acompanhou essas mudanças e readaptou-se constantemente às políticas educativas e sociais tornando-se uma referência na área da Educação de Infância.

Ao longo da sua história pautou a sua intervenção por uma educação inter/multicultural, aberta à diversidade, à inclusão alicerçada nos direitos humanos e nos direitos da criança.

A Directora Ivone Silva (centro), com a Equipa da Secretaria da Casa da Primeira Infância

Este espaço social e educativo sempre foi um local para todos, reconhecendo a instituição  “o protagonismo efetivo de cada um, seja criança ou adulto, admitindo a identidade cultural (…) e ao mesmo tempo respeitando a cultura do outro” (Sarmento, 2009, sp), desempenhando um papel fundamental na diminuição das desigualdades sociais, onde a criança assume efetivamente a sua importância e papel na sociedade.

A explosão do conhecimento e fontes potenciadoras do saber veio colocar grandes desafios à instituição, aos seus dirigentes e aos profissionais, tendo em conta sociedade onde a criança tem acesso a fontes de conhecimento diversificado.

A Casa da Primeira Infância é e sempre foi um complemento, bem como um apoio às famílias ao longo de décadas de intervenção socioeducativa, verificando-se uma caminhada lado a lado de crescimento e bem-estar de todos os envolvidos.

São 75 anos de experiência a educar com amor e afeto crianças de ontem que são adultos hoje com a memória de uma infância feliz.

Este foi seguramente o pior período da vida da instituição

Este é um período difícil para a instituição tendo em conta que foi a primeira vez na sua história que teve de encerrar algumas das suas valências, nomeadamente a creche e pré-escolar e necessidade de restruturar e repensar o funcionamento do Centro de Acolhimento Temporário “os Miúdos”, o Projeto “Espaço K”, e preparar a reabertura das valências encerradas a 16 de março.

Contudo, apesar das dificuldades sentidas, quer a nível organizacional, quer económico a instituição contou com o apoio das entidades públicas, nomeadamente da Câmara Municipal de Loulé, e com uma experiência de décadas para adequar e reinventar-se neste momento difícil.

Que Futuro?

A instituição tem como objetivos a curto prazo preparar a reabertura das valências encerradas, manter o bom funcionamento das outas valências, bem como perspetivar o próximo ano letivo, encontrando-se neste momento todas as vagas preenchidas. A par do combate ao Covid-19 com um plano de contingência adequado a uma instituição de elevado número de crianças e um espaço exterior de grande potencial pedagógico, pretendemos continuar a educar e a acolher com amor e manter os serviços às famílias e crianças.

Pretendemos ainda cuidar do bem-estar dos nossos colaboradores de forma a minimizar o impacto desta crise nas suas vidas.

Para nós continuar a prestar apoio socioeducativo à comunidade através do serviço das nossas valências e projetos é fundamental num momento de aumento de desigualdades sociais.

Como é que a instituição vai reagindo à pandemia?

Com o apoio das entidades competentes, Ministério da Educação, Instituto da Solidariedade e Segurança Social, Direção Geral da Saúde, Câmara Municipal de Loulé e outras entidades privadas readaptou o seu plano de contingência no combate à pandemia e adequou e reinventou a sua intervenção educativa de forma criativa.

O apoio às famílias, logo após o encerramento de algumas valências, foi feito pelas vias digitais de forma a que se sentissem apoiadas. Neste momento, com a sua reabertura as crianças e as famílias vão regressando à instituição de forma gradual tendo em conta as suas necessidades laborais. Os colaboradores, apesar das restrições impostas, continuam a acolher, cuidar e educar com o mesmo amor e afeto.

Esta reabertura iniciou um novo ciclo na instituição, tendo em conta que muitas famílias estão a solicitar o recálculo das mensalidades, bem como o apoio de técnicos especializados de forma a ultrapassarem as dificuldades económicas, mas também psicológicas causadas pela pandemia.

É importante que os nossos colaboradores atualizem conhecimentos e práticas de forma constante para minimizar e ultrapassar este momento único.

Como está a ser o regresso?

O regresso foi preparado pela equipa durante vários dias, quer com a desinfeção dos espaços, quer a readaptar o plano de reabertura tendo em conta as medidas das entidades oficiais. Foram assim adequados procedimentos, bem como realizada formação interna e externa aos colaboradores.

As famílias tiveram oportunidade de participar em momentos próprios no processo de mudança necessário à reabertura.

As crianças estão a regressar progressivamente tendo em conta as necessidades das famílias, o que nos permite adaptar e restruturar procedimentos.

A reação das crianças, após preparação por via digital, foi de alguma surpresa na alteração das suas rotinas e espaços. Contudo, adaptaram-se facilmente, mantendo uma felicidade e espontaneidade nas suas brincadeiras próprias para a sua idade.

Que medidas de confinamento

Várias foram as medidas criadas e que estão a ser implementadas na instituição das quais destaco as seguintes: preparação, higienização e sinalização do espaço; realização do teste ao covid-19 por todos os funcionários que testaram negativo; contar com vários colaboradores em reserva para o caso de ser necessária a substituição; entrada de funcionários e acolhimento e entrega de crianças em horários e locais desfasados, tendo em conta as diversas entradas da instituição; reorganização dos grupos com um número pequeno de crianças, bem como utilização de cinco espaços exteriores diferentes o que permite muito momentos ao ar livre; utilização do refeitório de forma alternada permitindo a devida higienização do espaço e materiais; adequação de atividades e rotinas tendo em conta as medidas de distanciamento, bem como a preparação/formação de colaboradores de forma a minimizar situações de contágio.

Durante este longo período como funcionaram

Ao longo do período de encerramento de algumas valências alguns funcionários foram destacados para outras que permaneceram sempre abertas, outros ficaram em teletrabalho com as famílias diariamente através das plataformas digitais de forma a acompanhar cada criança neste momento de confinamento.

A instituição assegurou o bom funcionamento do Centro de Acolhimento temporário “os Miúdos” de forma a manter e adequar os cuidados às crianças e jovens, bem como promoveu através do projeto “Espaço K” o apoio social e educativo a dezenas de jovens que pela sua condição socioeconómica necessitaram da presença dos técnicos de forma a diminuir o distanciamento social e promover igualdade de oportunidades.

Houve ainda a necessidade de assegurar os serviços administrativos e logísticos de forma a acompanhar a evolução da pandemia, bem como atender as famílias e perspetivar soluções para o futuro da instituição.

O que representa para instituição cada criança?

Quando nasce uma criança, nasce mais uma flor no nosso jardim.

Uma flor que é “regada” e cuidada com amor e afeto.

Cada flor traz ao seu jardineiro crescimento e aprendizagens constantes.

Cada flor, cada criança deste colorido jardim é um ser vivo único e especial onde a alegria e a espontaneidade no brincar torna a vida de todos mais feliz.

 

Na hora de ensinar a crescer e a amar