A Paróquia de Tavira inaugurou uma colecção visitável de Arte Sacra, no dia 8 de dezembro, pelas 16h00, tendo estado presentes o Bispo do Algarve, D. Manuel Neto Quintas,

o Secretário de Estado da Descentralização e da Administração Local, Jorge Botelho, o Presidente da Assembleia Municipal de Tavira, José Baía, o Vereador da Câmara Municipal de Tavira responsável pelo pelouro da Cultura, João Pedro Rodrigues, o Presidente da União de Freguesias de Tavira, José Mateus Costa e Alexandra Rodrigues Gonçalves, Diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve. A mostra está, agora, aberta ao público na Igreja de Santa Maria do Castelo, no horário normal de funcionamento ao público deste local.

Intitulada «Assim na terra como no céu»(passagem do Evangelho de S. Mateus - 6,10 - e um dos excertos do Pai-Nosso), torna ainda mais clara a forte ligação da cidade de Tavira à Fé Católica. Nas palavras dos seus curadores, Marco Lopes (Diretor do Museu Municipal de Faro) e Daniel Santana (Técnico de Património da Câmara Municipal de Tavira), há «uma forte carga religiosa e espiritual, que tem repercussão natural na história, na arquitetura e na arte em Tavira, quer na conquista do território, na administração dos templos, na construção de novos edifícios religiosos e nos hábitos sociais da comunidade local, que participa nos ofícios litúrgicos ou nas procissões».

Assim, este «Assim na terra, como no céu», significa que a Igreja, enquanto intérprete da vontade divina, estabelece as regras e os comportamentos da sociedade e dos ministros da Fé, traduzindo-os depois numa série de objetos artísticos que devem respeitados e adorados».

Este local que agora será inaugurado esteve fechado ao público durante algum tempo, tendo sido feito um trabalho de renovação do espaço expositivo, «utilizando as mesmas salas e mantendo alguns dos objetos», explicam os curadores. «Além de um novo mobiliário, que destaca e valoriza as peças, sem esquecer as questões de conservação, este núcleo expositivo terá textos explicativos, que desenham um fio condutor entre a história de Tavira e a vida religiosa local, durante os séculos XV e XVIII».

Do mesmo modo, houve o cuidado de que as peças não se limitassem a ter «uma legenda lacónica, com data e títulos, mas a uma descrição breve do seu significado histórico e artístico». Todos estes textos serão, também, traduzidos para a língua inglesa, já que a cidade é muito «frequentada por turistas estrangeiros», que deste modo poderão acompanhar «todo o raciocínio da exposição e a identidade das peças», salientam os dois responsáveis pela preparação e organização da coleção visitável, que, oportunamente, também terá «um catálogo, com textos mais desenvolvidos em relação aos temas e às peças em exibição».

Os visitantes encontrarão «essencialmente peças de caráter religioso, com funções devocionais, usadas em contexto de cerimónia litúrgica ou como elementos de culto», explicam Marco Lopes e Daniel Santana. Desde «pinturas, a imagens religiosas de vulto, passando por extraordinárias peças de arte nanbam, paramentaria, livros e ourivesaria, muitos deles originais de Santa Maria, outros de Santiago e alguns de São Paulo», todos estarão acessíveis e com informação que explicará a sua origem e função.

«A razão da escolha destas peças obedece a dois critérios, um cronológico e outro temático, que andam lado a lado», referem os dois especialistas em património e museologia. «A história da cidade de Tavira é indissociável da vida religiosa, desde logo da igreja de Santa Maria. Quisemos dar testemunho, no início da exposição, à entrada dos cavaleiros santiaguistas e ao culto dos mártires, mas também ao contacto internacional desta localidade, patente em obras ou artistas que têm origem longínqua. Depois entramos no barroco, com peças dos séculos XVII e XVIII, que nos situam numa época de luxo artístico, de muitas construções religiosas em Tavira e no aparecimento de várias confrarias, em que a encenação e o espetáculo dominam no interior dos templos».

A seleção das peças foi, na perspetiva dos curadores, o maior desafio, já que houve que atentar ao número e qualidade das mesmas, de forma a escolher as que pudessem caber nas salas reservadas a esta mostra. «Existia uma ideia bem definida dos temas, que tinha de se adaptar a um espaço pequeno», esclarecem, mas consideram que «por ser um núcleo de peças relativamente bem conhecido, quer por ter entrado em exposições anteriores, quer pela investigação feita à sua volta, a preparação não teve grandes dificuldades».

Miguel Neto, Pároco de Tavira, esteve, naturalmente, envolvido no projeto, tendo sido, desde a sua chegada a esta Paróquia, em 2017, uma das suas maiores preocupações, a salvaguarda do património e a sua disponibilização ao público em condições que garantissem a fruição e compreensão das peças e a sua relação com a história da cidade, bem como a segurança e a recuperação deste acervo tão vasto e tão importante. «Desde logo que a minha inquietação foi encontrar formas, nomeadamente ao nível dos recursos financeiros, para poder investir num projeto deste tipo», explica o sacerdote salientando que «as receitas geradas pela cobrança de entradas e pela loja da ARTgilão são as que efetivamente custearam esta mostra, pois não há investimento algum de dinheiro público neste projeto e ele monta os 22 mil euros».

A Paróquia de Tavira contratou para vir a melhorar o trabalho de preservação dos seus espaços e património, duas técnicas de restauro e esse trabalho tem dado frutos. Gerou, igualmente, algumas parcerias, nomeadamente com a Santa Casa da Misericórdia de Tavira, com quem têm sido realizadas algumas outras exposições. «Acredito que a comunhão se gera no trabalho conjunto, um trabalho sincero, honesto, voltado para a valorização do património, mas também do sentido de comunidade, pois o que mais gostaria, no final do meu percurso por estas terras, era perceber que as pessoas são capazes de abdicar da si mesmas, das sua particulares idiossincrasias, para criarem valor para todos, para serem verdadeiras testemunhas da sua história, da sua tradição, preservando-as», conclui.

Também Marco Lopes e Daniel Santana consideram que este trabalho que agora se torna público «é acima de tudo um ato de respeito e dignificação do património e da memória histórica, quer da cidade, quer da paróquia», bem como «um sinal dos novos tempos, em que estes tesouros começam a ser valorizados do ponto de vista expositivo, mas também da sua conservação e da sua divulgação turística». E acrescentam: «Se hoje em dia as igrejas valem por si enquanto espaços de interesse cultural e turístico, esta exposição, vem ampliar a oferta do roteiro de visitas nos espaços religiosos e no centro histórico de Tavira».

E todos – curadores e sacerdote – estão de acordo num ponto: o trabalho não deve terminar por aqui. «Este é um passo importante para o inventário destas peças e de outras que estejam nas igrejas tavirenses, para a monitorização do estado de conservação e recuperação daquelas que tenham essa necessidade e para abertura de novos núcleos de arte sacra», afirmam os curadores, considerando mesmo que «pode ser um ponto de partida para uma politica de proteção, estudo e valorização destes bens artísticos, que fazem parte da história local e têm um potencial enorme nas vertentes museológica e turística».

Da parte da Paróquia de Tavira, o seu Pároco, Miguel Neto, acredita que este é somente mais um passo no trabalho que há pela frente: «Gostava, um dia, poder apontar Tavira como um exemplo no que toca à conservação do património e, para isso, conto com a colaboração de todos, pois este é um trabalho que vale a pena, sobretudo porque não pensamos somente em nós, mas nas gerações futuras, que merecem ter uma cidade especial, onde a Fé é uma marca identitária, com um património religioso devidamente cuidado- como diz o slogan da ARTgilão, “A Arte de uma Cidade de Fé”.

Por isso, tenho de agradecer o trabalho e a generosa colaboração do Marco Lopes e do Daniel Santana, que desde a primeira hora se empenharam na concretização desta iniciativa, bem como da Marta Pereira e da Maria Inês, nossas técnicas de restauro e da Sandra Louro, que se encarregou da museografia e das colaboradoras da ARTgilão e do David Gonçalves, o grande responsável pela montagem e concretização prática de todo este projeto. E não esquece os seus paroquianos: «Agradeço a todos os que colaboraram mais diretamente e todos os que são sempre solidários ou que desafiam a minha perseverança e capacidade de trabalho. Sem eles, nada seria feito, nem nada faria sentido, pois volto a afirmar: o que mais importa é cimentar o sentido de comunidade através do respeito e da fruição do património por todos».

Os curadores consideram este «um projeto desafiante e enriquecedor», salientando o trabalho de equipa realizado e deixando «uma palavra final ao Padre Miguel Neto, que tem assumido o património artístico da sua paróquia como uma medida prioritária, em que este projeto museológico será uma das suas meritórias realizações».

FICHA TÉCNICA DA COLEÇÃO VISITÁVEL:

Organização - ARTGilão Tavira, Lda

Coordenação-geral – Pe. Miguel Neto

Curadoria - Daniel Santana, Marco Lopes

Textos - Daniel Santana, Marco Lopes

Tradução - Sandra Moreira, Joana Venâncio, Luís Santos

Conservação e Restauro - Marta Pereira, Maria Inês Costa

Design gráfico - Sandra Louro

Montagem - David Gonçalves, Letras Gregas

Iluminação - David Gonçalves

 

Por: Diocese