Casou aos 24 anos e quando nasceu o seu primeiro filho, o Bruno, decidiu vir para Loulé, há 26 anos, que considera como a sua terra.
VA- Quando, como e porquê tomou a decisão de voltar a estudar?
SF- Tenho de esclarecer que a minha vida académica não é exemplo para ninguém, pois o meu primeiro alvo eram os namorados, depois a dança, e até um curso de modelo fotográfico e passerelle.
Decidi começar a estudar, quando começo a questionar o que quero para a minha vida, para me sentir realizada e feliz, que exemplo quero deixar aos meus filhos e aos meus netos, se dona de casa, mãe e esposa, ou isso tudo e mais alguma coisa, então decidi por ser mais alguma coisa, é esse o caminho, a pegada a deixar.
VA- Qual foi a reação da sua família? Apoiaram? Ou acharam uma ideia excêntrica? E os amigos mais próximos o que acharam?
SF- Claro que para frequentar as aulas teve de haver uma reunião familiar, todos me apoiaram, os meus filhos foram espetaculares, chegavam a fazer as refeições e arrumar a casa para eu poder estudar para os exames e fazer os trabalhos, pois apesar de estudar, eu trabalhava na empresa antes de ir para a Universidade e conciliar toda a orgânica familiar, da minha parte era um esforço enorme que me levou muitas vezes a querer desistir. A reação que mais me emocionou foi a da minha mãe, o orgulho nos seus olhos valeu tudo! Os amigos, esses apoiaram totalmente, pois sabiam que esse era o meu sonho antigo e sabiam que o iria realizar.
VA- O curso que tirou foi a sua primeira opção ou não?
SF- Desde que comecei a trabalhar e a estudar a área foi sempre secretariado, por isso a primeira opção seria a Licenciatura em Assessoria de Administração. Mas a Universidade do Algarve, fechou esse curso, a alternativa seria um Curso Técnico Superior Profissional em Secretariado Executivo, curso profissional de nível V essa foi a única opção.
VA- Porque escolheu este curso? Quanto tempo durou?
SF- Como disse anteriormente, a minha carreira profissional estava direcionada para secretariado, sempre me vi a ser secretária, mesmo quando comecei com 16 anos eu olhava para as secretárias e pensava que um dia eu iria ser assim. Este curso teve a duração de 2 anos, 3 semestres teóricos e práticos e 1 semestre de estágio.
Eu tinha dois modos de entrar na Universidade ou pelos Maiores de 23, ou pela média de entrada, decidi pôr-me à prova e ver se a minha média do secundário dava para entrar. Qual foi o meu espanto, que fui a primeira da lista. Voltar a estudar depois de estar 10 anos sem o fazer não é fácil, muita coisa mudou, entretanto, tive de reaprender desde o novo acordo ortográfico, até fazer resumos que no meu tempo o mínimo eram 10 páginas, mas com a ajuda dos professores e dos colegas consegui rapidamente estar a par da situação.
Um dia recebi um e-mail do Sr. Reitor da Universidade a informar que tinha ganho um Prémio de Mérito, primeiro pensei que era engano, mas não era para espanto meu. O Prémio de Mérito de melhor média de entrada no curso, senti um orgulho imenso, mas escondi isso dos meus colegas, pois eu era a aluna mais velha e recebia um prémio quando colegas meus mais novos estariam mais habilitados a receber, quem lhes deu a notícia foi a diretora de curso, pois eu não consegui!
VA- Tendo em conta que já tinha uma vida profissional como empresária, o que a levou a tomar a decisão de voltar a estudar e porventura ao desafio de uma nova atividade profissional?
SF- A nossa empresa – a Netassis Lda. já tem 26 anos de existência, sou sócia-gerente, podia muito bem ficar por aqui, cheguei ao topo profissional, mas a empresa tem de acompanhar os tempos. Assim como o meu sócio teve de fazer formação especifica para a sua área de trabalho, eu achei que seria uma mais-valia para a empresa fazer este curso, aplicar os novos conhecimentos na empresa e assim fazê-la crescer e torna-la uma empresa de excelência.
VA- Como decorreu esse processo, desde que tomou a decisão até entrar na Faculdade?
SF- Não foi fácil, estava a atravessar um período complicado com o divórcio, pensei em desistir por achar que nunca iria ser capaz de aguentar a pressão e com tudo o que um divórcio implica, mas respirei fundo e dividi a vida em caixas, divórcio, mudança de casa, filhos, Universidade e fui arrumando cada caixa ficando a Universidade para o final. Sou uma pessoa otimista por natureza, por muito que as coisas me corram mal, eu tento tirar sempre algo bom do mau e faço disso força para continuar.
VA- O que sentiu e como foram os primeiros dias de integração neste novo desafio de vida?
SF- No inicio foi um grande choque quando me deparo com 20 jovens numa sala e eu entro, sorriu e penso, “volta para trás isto não é para ti”… Mas levantei a cabeça e lembro-me dos primeiros dias me perguntarem, se queria ir jantar com a turma e a resposta foi “Bora lá!”. A partir desse momento senti que era uma deles, sem distinção de idade, embora ela exista.
VA- A nível de adaptação, como foi integrar-se numa turma onde a maioria dos colegas de turma rondava os 20 a 30 anos de idade?
SF- Foi ótimo, era a pessoa com mais experiência, mas a nível escolar igual a eles, se era para ir para o arraial, bora estamos lá, se era para estudar, pessoal atenção temos exame.
Servia muitas vezes de filtro entre professores e alunos, os pais até sentiam um certo alívio por terem alguém da idade deles a estudar com os filhos.
...com o conhecimento que obtive certamente estarei mais atenta aos acontecimentos no mundo empresarial,
às novas tecnologias …
VA- Que benefícios económicos e sociais perspetiva poder ter com este curso?
SF- Com este curso penso que vou obter mais benefícios económicos para a empresa, com o conhecimento que obtive certamente estarei mais atenta aos acontecimentos no mundo empresarial, às novas tecnologias, …
Ao terem ambos os sócios formação esperamos levar a Netassis Lda. a outro patamar de exigência profissional.
A empresa serviu de parte prática para o curso, abriu-me outros horizontes, a um mundo empresarial que apesar de ter experiência, evoluiu. A imagem da secretária evolui com o passar do tempo, uma boa secretária é o braço direito da chefia e para isso terá de ter formação adequada.
O estágio, esse sim abriu-me para uma realidade social, que me irá marcar para sempre.
A escolha foi a Fundação António Aleixo...
VA- No final do curso teve de fazer estágio. Como foi essa experiência?
SF- O estágio, esse sim abriu-me para uma realidade social, que me irá marcar para sempre. A escolha foi a Fundação António Aleixo, entrei uma Sandra e saí um ser humano mais atento aos que me rodeiam, saí mais humilde e com um “Knowhow” excecional que me permite hoje, olhar para o futuro e pensar, eu sei, eu posso fazer e eu vou fazer!
VA- Sendo uma pessoa já na casa dos 50 anos, acredita que o seu exemplo pode ser um estímulo para muitas outras pessoas da mesma faixa etária?
SF- Deve ser e espero mesmo que sim! (risos)
VA- Que mensagem final quer deixar a outras mulheres, que de uma maneira ou outra querem, mas ainda não tomaram uma decisão que poderá alterar a rotina das suas vidas?
SF- Que mensagem... Acima de tudo devemos fazer o que nos faz feliz. Uma mulher de cinquenta anos não tem que ficar em casa a fazer “tapetes de arraiolos”, a não ser que os façam por prazer.
O papel da mulher dona de casa, mudou há muito, ficar estagnada numa vida familiar, pode ser gratificante para algumas, mas para aquelas que gostam de águas agitadas, não serve, é morrer aos poucos, nunca é tarde, eu sou um exemplo e quantas há por aí!
Este ano acabei este curso técnico, mas para o ano a licenciatura espera-me e assim novos desafios. Aos 54 anos de idade vou começar uma nova aventura da minha vida!
Por: Nathalie Dias