Ângela Santos, Presidente da Banda da Sociedade Filarmónica Artistas de Minerva de Loulé e José Branco, Maestro, falam sobre a origem da Banda Filarmónica e o impacto que o Covid-19 provocou na mesma, bem como, na Escola de Música e Banda Escolar.
Voz do Algarve: Qual a origem da Banda da Sociedade Filarmónica Artistas de Minervas de Loulé?
Ângela Santos: Eu faço parte da banda desde os 14 anos, saí quando nasceram os meus filhos e neste momento sou Presidente da Banda, no entanto já fiz parte de outras Direções anteriores, bem como do Conselho Fiscal, da Assembleia, etc. A Banda é no fundo, uma menina bonita, não da Cidade de Loulé, mas do Concelho de Loulé desde há 144 anos. Esta é uma Sociedade que nunca se dissolveu, ou seja, esteve sempre em atividade ao contrário de outras Bandas Filarmónicas. Nós tínhamos duas Bandas em Loulé, a Banda da Música Nova que somos nós e da Música Velha que se extinguiu, por motivos políticos, penso eu. Contudo, esta continua sem parar, e isto é muito importante e tem dado muita consistência às pessoas que para cá vêm. Esta banda é muito acarinhada por todos, quer pelas pessoas da Cidade e do Município, como os órgãos diretivos, pela Câmara Municipal e pelas Juntas de Freguesia. Relativamente às atuações, é claro que não fazemos só no Concelho, também vamos para fora. Antigamente íamos muito a Espanha todos os anos, a vários sítios, todavia, isso deixou de acontecer porque aquilo que íamos fazer lá, começou a ser feito por bandas espanholas. Para além disso, também fomos geminadas com uma banda de Espanha, penso eu de Punta Umbría, por vezes eles vinham cá, por vezes, nós íamos lá, e eram feitas trocas. Neste momento, somos 45 elementos, temos uma grande diversidade de gerações e no fundo, somos uma família.
Estamos há meses parados e isso para nós é triste, porque gostamos de música, gostamos desta arte, gostamos dos ensaios e especialmente, gostamos dos convívios. Em relação ao passado, na minha opinião, a qualidade foi gradualmente ficando bastante melhor, e cada vez temos mais alunos, um ia puxando o outro e neste momento temos uma banda bastante bem composta e com muita qualidade, isto comprovado porque temos vários músicos que foram para orquestras, para bandas musicais, e claro que tem a ver com as bases que aqui tiveram. Também é importante referir que nós fazemos a Festa da Mãe Soberana e a Mãe Soberana é muito acarinhada pelo povo louletano, por isso nessa altura ainda mais carinho sentimos por parte das pessoas, é uma das festas maiores e com mais marco para nós.
José Branco: É importante ainda acrescentar que os concertos têm muito mais pessoas novas a assistir, o público despertou-se novamente para as filarmónicas porque as mesmas têm ideias novas e deixaram de tocar só aquelas rapsódias habituais, começando a tocar músicas modernas. Estamos a tentar cativar e arranjar novas estratégias para ir buscar novos talentos. Todas as filarmónicas no geral, em todo o país, estão a procurar esses talentos escondidos, com grupos e pessoas diferentes, com cantores, poetas, grupos de teatro, ou até grupos de rock. Nós por exemplo, este ano, tínhamos a abertura do Festival Med com o grupo Quinta do Bill e também já tocámos com os Virgem Suta, com a Tuna Afonsina, e com tantos outros. Tudo isto, faz com que as pessoas vão assistir às nossas atuações e que tenham mais curiosidade para a evolução das bandas filarmónicas. Deixámos de fazer apenas procissões e desfiles e quando os mais novos começaram a entrar tentamos alterar o nosso reportório e inovar. As pessoas mais velhas, no início criaram barreiras para a entrada desses jovens, ficavam um pouco reticentes e foi bastante complicado esse processo de aceitação. A entrada de raparigas é um exemplo disso, porque eles eram “do antigamente”, deram o seu contributo, mas era sempre um obstáculo a entrada de pessoas novas, especialmente mulheres. Atualmente, isso já não se verifica.
VA: Quais são as perspetivas e objetivos para o futuro da Banda?
AS: Para além de manter a atividade, pretendemos continua a inovar cada vez mais, continuando a contactar com diferentes grupos e a fazer espetáculos em conjunto, na esperança de nunca nos fecharmos. Para além de que temos o apoio da Câmara Municipal exatamente para isso, sempre que temos ideias diferentes falamos com eles e sentimos sempre uma grande abertura, isto sem falar do contrato programa que nos dão, bem como os apoios com a Escola de Música que perfazem um total de 240 alunos praticamente todos anos. No fundo, a Câmara Municipal quer desenvolver a música no Concelho.
JB: Neste momento, a banda tem 45 músicos, o máximo que já tivemos até hoje foi um total de 56 músicos, e temos a banda escolar com 30 a 35 alunos. Quando o maestro da banda escolar faz a seleção e vê que as pessoas estão com capacidades para passar à banda propriamente dita, o mesmo faz a sugestão. É uma espécie de aquário que vai crescendo, crescendo até que estejam habilitados de entrar para a banda filarmónica. Este ano, teriam entrado cerca de 8 novos talentos na banda. Os ensaios estão parados, mas as aulas de música continuam individualmente. A escola completa este ano o terceiro ano letivo, onde é possível ter aulas de canto, violino, acordeão, guitarra, flauta, clarinete, saxofone e trompete. Agora, por exemplo, por causa do Covid, tivemos de deixar em suspenso, mas estávamos a preparar um concerto de solistas com muitas surpresas e algo totalmente diferente daquilo a que estamos habituados a fazer, entre a Festa Pequena e a Festa Grande da Mãe Soberana. Cada vez mais temos de apostar na legalização, e não estamos a dizer que somos ilegais, mas sim modernizar a Associação e organizar a mesma, isto é, cada vez mais informatizar. Basicamente, o que nós queremos é o estatuto de utilidade pública, ou seja, não queremos apenas depender de subsídios.
VA: Que apoios é que as pessoas podem dar para ajudar a Banda?
AS: As pessoas podem ajudar, tornando-se sócias, nós queremos angariar mais sócios. A cidade pode gostar muito de nós, as pessoas podem gostar muito de nós, o Concelho gosta muito de nós, Loulé gosta muito de nós, mas se nós não formos até as pessoas para serem sócios, também elas não virão até nós. Gostaríamos muito que para além dos músicos que já são sócios, tivéssemos mais sócios ainda, temos apenas meia dúzia de sócios e não custa nada ajudar, visto que é só um euro por mês.
JB: O problema que se coloca hoje nas grandes cidades e principalmente na cidade de Loulé, passa pelo facto de não termos uma sede social, em que as pessoas vão lá e comunicam. Qualquer associação tem sedes, tem tudo, incluindo outras atividades, mas nós primamos pela música. Quando alguém sai da banda, depois não é possível que exista um elo de ligação, algo que os faça continuar a manter a ligação com a banda, porque só temos o ensaio e não uma sede social.
VA: Qual é a história do atual edifício de ensaios da banda?
AS: Passaram apenas dois anos desde que este edifício foi inaugurado, a Câmara Municipal tomou conta disto e cedeu-nos este edifício. Não tem nada a ver com o que era antigamente, agora já podemos ensaiar, já pode vir cá qualquer pessoa, é bastante funcional. Antes estávamos a ensaiar num armazém improvisado e este local, com estas salas e esta acústica própria foi uma grande vitória para nós.
A Banda é no fundo, uma menina bonita, não da cidade de Loulé, mas do Concelho de Loulé desde há 144 anos.
VA: Como funcionam os ensaios da Banda?
JB: Os ensaios são uma vez por semana, todas as sextas-feiras das 21:30 às 23:30. Relativamente às aulas, são todos os dias dependendo dos instrumentos. Por exemplo, como em abril, maio e junho tivemos parados, agora em julho, agosto e setembro vamos ter aulas seguidas para compensar, isto para os alunos não perderem o hábito. Em relação à banda escolar, o ensaio é ao sábado. Só não temos atividades ao domingo.
VA: Relativamente aos espetáculos, como funcionam e com que regularidade?
AS: Nós no verão temos sempre muitas procissões, na altura da Mãe Soberana temos sempre o concerto e somos normalmente participantes no Festival Med por exemplo, no palco do Cerco do Convento na noite livre, que é da nossa organização. O ano passado, em conjunto com a nossa banda escolar, tocamos um ou dois conjuntos com os miúdos, o que para eles foi um sucesso. Eramos à volta de 85 músicos em palco. O nosso objetivo é focarmo-nos num concerto mais importante para a filarmónica, que é a Mãe Soberana e que esperemos que seja possível realizar no próximo ano. Na altura do aniversário, em maio e junho, organizamos o ciclo de bandas e trazemos cá duas bandas por fim de semana, chegando a trazer à cidade de Loulé doze filarmónicas ao ano, o que agora é impossível porque apesar de estarmos a fazer pequenos ensaios divididos, isso não é a mesma coisa e as pessoas estão receosas.
VA: Quais são as maiores dificuldades e anseios até hoje sentidos pela banda?
JB: A maior dificuldade e o maior anseio, foram a aquisição deste espaço que agora temos e que já esperávamos há 30 anos. Nós não tínhamos uma sede em condições, nós tínhamos um armazém adaptado para que fizéssemos os nossos ensaios, não tínhamos um espaço condigno para receber outras bandas e isso sempre foi muito importante para nós. Nós próprios fizemos o isolamento do sítio, para melhorar a acústica, e agora finalmente temos um espaço como deve de ser.
VA: Qual foi o impacto que o Covid trouxe à banda?
AS: A nível económico não sentimos nenhum impacto significativo porque a Câmara Municipal de Loulé, como principal patrocinador da banda, manteve os apoios e o contrato programa e isso para nós foi muito importante. O que aconteceu foi que tivemos de parar os ensaios e espetáculos, como é normal. Sentimos sim o impacto de não conviver, de não sair e de não atuar. Houve no fundo um impacto negativo artístico e não económico. Ao nível do prejuízo podemos apontar para os 10 mil euros com a escola de música porque as aulas pararam em março, mas nós tivemos de pagar aos professores na mesma.
Em relação ao passado, na minha opinião, a qualidade foi gradualmente ficando bastante melhor, e cada vez temos mais alunos, um ia puxando o outro e neste momento temos uma banda bastante bem composta e com muita qualidade, isto comprovado porque temos vários músicos que foram para orquestras, para bandas musicais, e claro que tem a ver com as bases que aqui tiveram.
VA: Que medidas foram tomadas para combater o Covid?
JB: As aulas e os ensaios foram logo suspensos, só em julho é que retomamos as aulas na sede da banda, aulas essas que são individuais e quando há no mesmo horário alunos diferentes, alteramos para que não se cruzem, nem que seja apenas 10 minutos. As salas também são diferentes, nós tomámos todas as medidas que nos foram impostas pela Direção Geral de Saúde, criámos uma sala de isolamento, é obrigatório a higienização das mãos, procedemos à constante desinfeção, não há partilha de instrumentos e à uma equipa que faz a higienização de maçanetas, cadeiras, espaços, etc. Para além disso, colocámos marcas no chão, organizamos tudo isto, tiramos fotografias e mandamos as mesmas para a Delegada de Saúde que aprovou com sucesso o plano para o nosso espaço. A nossa sala neste momento tem capacidade para 12 pessoas, daí termos as marcas no chão, isto porque não vamos fazer ensaios com a totalidade da banda e teremos de nos dividir.
VA: Que mensagem gostaria de deixar aos alunos, professores e população em geral, sobre a banda?
AS: Em nome da direção e da equipa que aqui trabalha, a mensagem que gostaria de deixar é que acarinhem cada vez mais a música que é a nossa área, que se façam sócios da banda e que nesse sentido nos apoiem. Aos alunos, venham para a banda porque é algo saudável, dá-nos a possibilidade de desanuviar do dia a dia e dos problemas. Apoiem-nos, aconselhem os filhos a aproveitar e a virem aprender um instrumento. Nós aqui somos uma família, uma segunda casa e criamos amizades para a vida. A escola de música, é uma escola de vida também, por isso venham experimentar. Nunca esqueçam que a música é algo que nos preenche a alma. Na nossa página do Facebook, lançámos uma campanha onde podem marcar uma aula experimental de um instrumento à escolha, por isso visitem as nossas páginas e sigam o nosso trabalho.
Por: Carolina Figueiras