Fátima Monteiro e Sandra Martins, gestora do projeto Histórias Contadas Sorrisos Partilhados e Diretora da Câmara Municipal de Faro respetivamente mostram como é fácil e gratificante ajudar a tornar o dia melhor da população farense mais idosa.
A Voz do Algarve: Como surgiu o projeto Histórias Contadas Sorrisos Partilhados?
Fátima Monteiro: Este projeto foi iniciado hà sensivelmente três anos, no final de 2017, sendo o seu principal objetivo a ocupação dos tempos livres do envelhecimento ativo dos idosos e a promoção da saúde mental. O propósito da parceria com a Plataforma Saúde em Diálogo é exatamente esse porque também é uma das metas deles. Para além disso, é também o de tornar a biblioteca mais dinâmica e chamar este público a visitar o espaço que na maior parte das vezes não se dirige à instituição por diversos motivos. Nesse sentido, organizamos atividades mais ao final da tarde, que vão ao encontro dos seus interesses e tentamos adaptar um pouco as atividades aos seus gostos.
Os nossos encontros são na biblioteca ou no espaço Saúde em Diálogo. Neste momento, com o confinamento reunimos apenas na biblioteca e semanalmente, isto por ser um local mais amplo. As portas estão abertas a quem quiser reunir-se connosco, numa alternativa para que pelo menos consigamos agarrar o grupo. No total são 25 senhoras que se dividem e que se vão repartindo em todas atividades, para que não vão a todas ao mesmo tempo. Neste momento, com toda a situação do Covid-19 temos tido entre 6 a 7 senhoras, semanalmente, mas nem sempre são as mesmas.
VA: Que atividades são realizadas para desenvolver o envelhecimento ativo dos idosos e a saúde mental?
FM: No Espaço Saúde em Diálogo é feito yoga, massagens, exercícios de respiração e relaxamento, manicure e cabeleireiro. Tudo isto é possível graças aos voluntários que nos ajudam quinzenalmente ou mensalmente. Estes serviços são realizados através de marcações tendo em conta a disponibilidade destas senhoras e dos nossos voluntários. Temos ainda para oferecer a atividade intitulada “Os Saberes e Sabores” com a possibilidade para duas vertentes, em que numa delas, uma voluntária fala sobre receitas e alimentação e depois temos a parceria com o gabinete de nutrição onde de dois em dois meses, é realizada uma palestra ou uma sessão para fazer um bolo, um folar, etc.
Sandra Martins: No fundo, é para estarem um bocadinho todas juntas, descontraírem, relaxarem e falarem com pessoas com quem não estão diariamente. Essencialmente, é esse o benefício para elas. É um grupo já formado, e elas sabem que naquele dia, vão ter com aquele grupo e isso é motivador. Para além disso, temos um grupo no Facebook para fazemos partilhas, comentários e exposição de ideias. Relativamente às atividades foram surgindo em função dos voluntários que foram aparecendo e das próprias atividades que foram sendo propostas. Aqui na biblioteca fazemos o “Clube da Agulha”, que é uma atividade quinzenal às sextas feiras e também fazemos uma atividade mensal, na última quinta feira do mês, intitulada “Os momentos” com a participação das colegas do serviço educativo. É uma atividade intergeracional, com crianças e idosos, abrindo as inscrições também para centros de dia. Nessa atividade procedesse à leitura de uma história, onde no final dá-se um momento em que se promove a intergeracionalidade e o contacto entre eles, a partilha de saber e a partilha de afetos, isto porque alguns idosos não tem contacto com crianças e algumas das crianças não tem contacto com idosos. No “Clube da Agulha” são atividades manuais e principalmente a conversa que é aquilo que pensamos que elas necessitem mais.
VA: Quais são as atividades que os idosos mais gostam de desenvolver?
FM: As nossas participantes tem gostos muito diversos, por exemplo, algumas delas gostam da cozinha e da parte culinária, muitas delas praticam yoga e fazem aulas para aprender a respirar corretamente e relaxar, outras tantas participam no “Clube da Agulha”, onde para além de comunicar-mos e falarmos sobre a nossa vida, fazemos trabalhos como tricô, costura e crochê entre outras muitas outras atividades. Por exemplo a Cecília Peres adora fazer trabalhos manuais e artesanato.
VA: Qual foi o impacto do Covid-19 provocou no projeto?
FM: Teve um impacto negativo, porque baralhou isto tudo. Nós fomos para casa e perdemos o contacto destas senhoras, entretanto tentamos agarra-las através de telefonemas e apesar de estarmos em regime de teletrabalho, tínhamos as suas moradas e fomos dividindo funções para que elas nunca se sentissem sós. Começámos por telefonar semanalmente, depois expusemos um conjunto de propostas de atividades, quer físicas quer intelectuais, como por exemplo a de assistir ao tele ensino para que na semana seguinte fizéssemos perguntas sobre o que viram. Tentamos também abordar a estimulação cognitiva como sopas de letras ou trabalhos manuais.
VA: O que sentem os vossos voluntários ao fazer parte deste projeto?
FM: Os voluntários adoram. Nós sentimos que para eles isto é muito mais do que simplesmente fazer voluntariado, é algo que lhes traz muita satisfação. No fundo, tudo isto acaba por ser um encontro de amigas e sei que somos uma família, sinto que todos nós gostamos daquilo que é feito aqui, gostamos deste grupo e guardamo-nos umas às outras no coração. O confinamento dificultou bastante tudo isto porque tivemos de utilizar mais o telefone e o que nós gostamos e onde nos sentimos realmente bem é através dos abraços, do contacto e do toque. Sentimos por parte dos voluntários uma gratidão inigualável, sentimos que é um bem mútuo e sentimos que há uma motivação generalizada, tanto por parte das senhoras como por parte dos voluntários. Por isso, penso que ao despenderem uma hora do seu tempo para virem ter connosco acaba por não ser perder tempo.
VA: Como é que os voluntários podem chegar até vós?
FM: Podem dirigir-se até à biblioteca e expor o seu desejo em fazer parte do projeto, ou virtualmente através do nosso endereço de e-mail e por fim através da página do Facebook. No site da Câmara Municipal de Faro também tem uma zona onde podem aceder e informar-se sobre o projeto e sobre todas as rubricas relacionadas com o mesmo.
VA: Porquê a escolha deste nome “Histórias Contadas, Sorrisos Partilhados”?
FM: A escolha do nome “Histórias Contadas, Sorrisos Partilhados” é exatamente como o nome indica para que se contassem histórias do antigamente e do agora e que se partilhassem sorrisos. A ideia é que tanto os participantes como os voluntários saiam daqui mais leves e mais felizes e que sintam que podem sempre partilhar tudo aquilo que os preocupa.
SM: Ou seja, a ideia das histórias tem duas vertentes, as histórias de vida que elas nos contam e as histórias que a biblioteca conta a estas senhoras com a atividade “Os momentos” que já falamos anteriormente.
VA: Quais são os objetivos e metas para o futuro?
SM: A ideia é continuarmos com o projeto, esperemos que o coronavírus se vá embora e que nos dê tréguas. Queremos continuar o trabalho que temos feito até agora e o nosso objetivo é ampliar o grupo, porque sabemos que há muitas mais pessoas que precisam disto, só que ainda não chegámos até elas ou elas não chagaram até nós.
VA: Que mensagem gostavam de deixar para futuros voluntários e participantes?
FM: Para os voluntários que já participam deixamos uma mensagem de muita gratidão. Para os voluntários que queiram vir experimentar, que venham cheios de alegria, de coração aberto e que queriam fazer o bem pelo próximo. Aos participantes e futuros participantes que queiram um bocadinho de alegria nas suas vidas, que queriam respirar em conjunto amor e carinho, venham e experimentem.
Por: Carolina Figueiras