Por: Luís Pina, Licenciado em Acessoria de administração | aragaopina59@gmail.com

Fernando Santos Graça é já um nome de referência no mundo dos livros, não apenas em Loulé, que o viu nascer no dia 25 de Abril de há 61 anos, como a nível nacional. Casado, duas filhas e três netos, considera-se louletano “dos sete costados”. Começou a sua atividade profissional na área do comércio, promoção de vendas e projetos, onde permaneceu até início da década de 2000, mas a paixão pela escrita, pela história e cultura local e regional acabaram por falar mais alto. E com resultados que não deixam dúvidas e o tempo tem confirmado. Jornalista autodidata, colaborou durante vários anos com os jornais desportivos nacionais Record e Gazeta dos Desportos (como correspondente no Algarve) e revista “Foot”, e com os jornais regionais A Voz de Loulé, Carteia, Terra de Loulé e Distrito de Faro, onde assumiu, nestes dois últimos, as funções de diretor. Entre 1/10/2002 e 31/7/2012 dirigiu o semanário O Louletano e as revistas Louletano e Loulé Magazine, de essência regional e o Construímos&Inovamos, de carater nacional. Foi homenageado pelo Governo Civil de Faro a 10/4/2002; pela Associação de Futebol do Algarve (AFA) a 25/4/2007 (pelos 25 anos ao serviço da comunicação social algarvia); pelo Município de Albufeira a 1/7/2010; Centro de Ciclismo de Loulé (CCL) e a Nova Terra - Cooperativa de Habitação Económica de Loulé, CRL. Assumiu a parceria com o artista plástico Ricardo Inácio para desenvolver projetos editoriais de livros ilustrados.

Ninguém melhor, todavia que o próprio para nos falar de seu percurso e projetos em carteira.

 

V.A. – A construção e os projetos deram lugar a dada altura a outra área de criatividade, a escrita. Como aconteceu, e que o motivou a essa mudança?

F.G.- O bichinho da escrita já vem desde a escola secundária, um tanto ou quanto incentivado pelo Padre Henrique, meu professor de português na Escola Tomás Cabreira, em Faro. Após concluir os estudos e o serviço militar, tive a oportunidade de trabalhar no período estival na Gráfica Louletana e então o Sr. José Maria da Piedade Barros apercebeu-se do meu gosto pelos jornais e escrita e convidou-me a colaborar na A Voz de Loulé, na área desportiva. Penso que os meus conhecimentos de desporto, aliado ao meu gosto pela escrita, foram determinantes para esse pedido de colaboração, que aceitei de bom agrado.

 

V.A. – Ainda trabalhou na imprensa escrita durante algum tempo, nomeadamente na área desportiva. O que destaca desses tempos e dessa experiência?

F.G.- Colaborei durante muitos anos em jornais desportivos nacionais, nomeadamente na Gazeta dos Desportos, Record e revista Foot. Foi uma agradável experiência e de elevado grau de aprendizagem junto de experientes profissionais. Na Gazeta assumi a função de correspondente no Algarve, o que permitiu alargar o meu leque de contatos junto dos principais clubes algarvios, sobretudo do SC Farense, aquando da sua campanha na I Divisão. Mais tarde, colaborei conjunta e simultaneamente com a Gazeta e o Record, sem deixar de parte A Voz de Loulé. Em dado ano tive de escrever a crónica do mesmo jogo para os dois jornais, fazendo-o com textos diferentes, tonando-se desgastante. Isto num tempo em que os trabalhos eram enviados via telefone e gravados pelas redações. Recordo um jogo Louletano-Leixões, para a II Divisão de Honra, a um domingo, às 9 horas da noite, em que fiz a crónica do jogo para os dois jornais, estando ambos à espera dos textos para fechar as edições. Foi stressante, mas extremamente enriquecedor.

 

V.A. – Nasceu a 25 de Abril, data que ficaria para a história em 1974. Que memórias tem desse dia?

F.G.- Tenho boas recordações desse dia. Andava no antigo 4º ano de escolaridade na velha Escola Conde Ferreira, em Loulé, atual Cerca do Convento. Quando a notícia foi divulgada, fui, conjuntamente com os meus colegas, festejar, sem saber bem ao certo o quê, para a pastelaria “Faz Tudo”, ali mesmo ao lado da escola. Através do pequeno televisor procurei saber o que na realidade estava a acontecer. Foi uma enorme alegria quando se confirmou a “Revolução dos Cravos”, no dia em que comemorei quinze anos.

 

V.A. – O conjunto dos seus trabalhos remete-nos geralmente para a cultura, o património e as tradições populares com um cunho muito próprio e obrigando a alguma investigação. É nesta linha temática que pretende continuar?

F.G.- Sem dúvida que sim. Sou um apaixonado pela história, artes, tradições e cultura locais e regionais, até porque nasci no barrocal louletano e vivi muitas atividades retratadas nos meus textos. Anteriormente já desenvolvia este tipo de trabalho, nos jornais e revistas que dirigia, em particular a revista Loulé Magazine, dedicada às freguesias. Mais tarde, em parceria com o artista plástico Ricardo Inácio, abraçamos o projeto do livro Lendas Algarvias ilustradas, aprovado e apoiado pela Direção Regional de Cultura do Algarve. A partir daí seguiram-se os livros de lendas concelhias coloridas e para colorir a história das freguesias ilustradas. Individualmente, lancei os livros sobre os Cinquenta Anos de História da Festa da Espiga de Salir, os Noventa Anos de História do Café Calcinha, Alvor com História e mais recentemente os 104 Anos de História dos Mercados de Olhão. Como vê todos eles estão ligados ao património cultura e tradições populares. É nesta base temática que pretendo continuar estando para breve o lançamento de mais umas quantas novidades.

 

V.A. – As novas tecnologias obrigaram a alterações e adaptações profundas, sobretudo com as redes sociais, obrigando a reformular o próprio conceito de informação. Neste sentido, como vê o panorama da imprensa local, atualmente?

F.G.- Vejo com profunda tristeza o desaparecimento dos jornais locais, que outrora fizeram as delícias dos seus leitores, independentemente da sua periodicidade. Loulé perdeu vários e marcantes periódicos. Hoje, A Voz de Loulé é o único órgão que se publica quinzenalmente no concelho, fazendo jus aos seus quase setenta anos de existência. Longe vão os tempos dos carolas que, com maior ou menor dificuldade, se orgulhavam das suas publicações. Muitas delas serviam de fonte aos órgãos nacionais, que aí vinham beber muita informação. Hoje, vivemos o mundo digital, onde as novas tecnologias e as redes sociais vieram alterar muitos dos nossos hábitos, sobretudo do público consumidor de notícias, que aquelas não conseguem satisfazer.

 

V.A. - Com a pandemia na ordem do dia, condicionou de algum modo o seu trabalho? Como têm lidado com esta situação?   

F.G.- É claro que a pandemia afetou muito o meu trabalho de escrita, apesar de já trabalhar em casa e de ter muitas matérias arquivadas. Condicionou-me na ida aos arquivos e bibliotecas consultar as publicações e recolha de elementos. Uma das áreas mais prejudicadas foi a apresentação e venda de livros, nomeadamente nas feiras do livro. Com o lançamento do livro Lendas Alentejanas, em parceria com o Ricardo e com o apoio da DRC do Alentejo, tínhamos várias apresentações agendadas em feiras no Alentejo e na Casa do Alentejo, em Lisboa e todas elas foram canceladas. Claro que isso prejudicou a sua venda e naturalmente o nosso rendimento.

 

V.A. – Que balanço faz no tocante à aceitação de seus trabalhos e de que novos projetos nos pode falar?

F.G.- Posso dizer que a aceitação dos trabalhos editados tem sido particularmente positiva. De uma maneira geral, todos os livros têm sido do agrado das entidades que me têm confiado os trabalhos, sobretudo por parte das juntas de freguesia. Alguns deles vêm preencher lacunas existentes nos seus arquivos e centros de consulta socio-histórica. Brevemente, será editado o livro único e inédito - Artes, Ofícios, Tradições e Figuras Típicas de Loulé, com o apoio da Câmara Municipal de Loulé e Porches com História, edição da Junta de Freguesia local.