Durante 10 dias, milhares de pessoas visitaram a FATACIL, que este ano celebrou o seu 37.º aniversário, com alterações de diversas ordens, o que levou Francisco Martins, Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, a classificá-la como a edição “mais difícil de montar até hoje”. Com a Câmara Municipal de Lagoa à frente da organização e com mudanças significativas na construção do espaço, o autarca garante que, apesar das dificuldades, “é obrigatório passar pela FATACIL, pelo menos uma vez”.

A Voz do Algarve – Como tem evoluído a FATACIL, principalmente nos últimos três anos, sendo, enquanto Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, o principal responsável pelo evento?

Francisco Martins – As duas grandes apostas para este evento são: o espaço físico, com as intervenções que este ano já iniciámos, dando um novo aspeto à FATACIL, tornando-a mais moderna, aberta e atrativa, que acolhe as pessoas de braços abertos; e o evento em si. A FATACIL nasceu muito timidamente como uma amostra dos produtos e da atividade económica de Lagoa. Ao longo do tempo, Lagoa e o Algarve foram perdendo cada vez mais a sua presença dentro do certame. Este é o maior evento que se realiza no Algarve e eu quero que seja cada vez mais uma montra do Algarve para quem nos visita. O grosso dos visitantes da FATACIL nem sequer são da região e eu gostaria que essas pessoas levassem daqui muito mais informação sobre aquilo que o Algarve tem para oferecer. Sol e praia é um produto que se esgota e por isso queremos que esta feira seja a montra da região.

 

V.A. – Foi por esse motivo que se estabeleceu uma parceria com a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve (DRAPAlg)?

F.M. – Sim. Este ano lancei o repto à DRAPAlg para a alteração do local, o que suscitou alguma dúvida, como é normal. Mas eu sabia que era uma aposta ganha, o que hoje é reconhecido. Trouxemos o Algarve para o meio da feira, para a parte nobre, ao contrário do que acontecia nos outros anos, em que estava num dos extremos. É uma montra da nossa gastronomia, dos nossos produtos, desde vinhos, compotas, produtos da terra e do mar. Tem sido uma aposta ganha e é para continuar.

 

V.A. – Tendo sido a primeira vez que a Autarquia organizou sozinha esta Feira, já tem uma perceção das dificuldades e também das vantagens que trouxe essa alteração?

F.M. – Este foi um ano de mudança a vários níveis. Deve ter sido a FATACIL mais difícil de montar até hoje, isto porque foi organizada pela Câmara, quando houve a necessidade de extinguir a empresa que organizava este evento, o que traz todos os constrangimentos da contratação pública. Os procedimentos são complicados. Até para ter o fundo de maneio de uma noite para as bilheteiras, que necessita de ter dez mil euros em trocos, só podemos ter um fundo permanente de 500 euros. São 500 euros a dividir por dez bilheteiras, portanto, se a bilheteira abre as 18h00, às 18h10 já não há trocos. Este é apenas um exemplo de como há tanta complexidade numa coisa tão simples. Estamos a falar de procedimentos com algum valor e por isso surgiu a necessidade de criar regulamentos e taxas. Mas com muito trabalho e muitas noites mal dormidas, conseguimos montar esta feira. Para o ano será muito mais simples porque todos estes procedimentos já estão feitos.

 

V.A. – Quantas pessoas estão envolvidas na organização da FATACIL?

F.M. – Muitas. Uma Câmara inteira. Nós temos 420 trabalhadores na Câmara e todos eles estão aqui envolvidos. Os que estão diretamente envolvidos, na água, saneamento, limpeza, contabilidade e recursos humanos, são de praticamente todos os setores da Câmara. Os que não estão envolvidos tão diretamente, estão na Câmara a assegurar o que os colegas estão aqui a fazer. Portanto, envolve toda a máquina da Câmara Municipal.

 

V.A. – Quanto tempo demora, em média, a organizar um evento como este?

F.M. – Para ter uma noção, a FATACIL 2017 vai começar em outubro deste ano. O meu staff já sabe que em outubro nos vamos juntar com as plantas, o levantamento que foi feito a todos os expositores e com o que se quer para o ano que vem, para que em janeiro comecemos com a promoção do evento e em março/abril já termos a feira praticamente montada em termos de ocupação do espaço. É sempre uma feira feita com bastante tempo.

 

V.A. – Já têm tema pensado para o próximo ano?

F.M. – Ainda não. Em outubro vamo-nos sentar, avaliar esta edição de 2016 e só depois pensar no ano que vem.

 

V.A. – Este ano houve também uma forte aposta no espaço equestre. É para manter e reforçar ainda mais nos próximos anos?

F.M. – É para continuar. O próprio projeto que temos para este espaço leva precisamente à criação de uma zona para a parte equestre com outras condições, uma vez que esta zona onde atualmente decorre foi arranjada para o efeito, mas, devido à complexidade e adesão que está a ter, leva-nos a saber que é um setor que está em crescimento. Vai ser feito um investimento neste parque nos próximos três anos, faseado e tendo em conta as nossas dificuldades. Este vai ser um produto que vai ficar ligado à FATACIL.

 

V.A. – Anunciou recentemente um investimento na remodelação do parque de feiras. Como está faseado esse investimento? Conta com fundos comunitários ou apenas com o orçamento camarário?

F.M. – Nós temos um processo de candidatura a fundos comunitários, o Portugal 2020, que é muito abrangente e que tem várias linhas. Temos um gabinete a trabalhar nessa matéria para saber se é uma candidatura conjunta ou se é por setores. Tenho que ter essa disponibilidade, daí este ser um investimento a três anos. Se há fundos comunitários que nos possam ajudar com este espaço, ótimo, porque assim toda a tesouraria que nós tenhamos poderá ser canalizada para outras obras.

 

V.A. – Em que consiste essa reconversão?

F.M. – Será um aumento do espaço mas não só. Temos terrenos disponíveis, a zona atrás do parque, a zona do mercado, adjacente à FATACIL, onde agora se encontra o estacionamento. Este é um espaço onde, basicamente, só se realiza a FATACIL e Lagoa não tem um parque urbano convidativo. O projeto que está a ser desenvolvido e o que eu pretendo é que este seja um parque de uso diário pelos lagoenses, com uma ligação ao lado de lá da EN125. Quero que seja um parque urbano onde facilmente se possa montar a FATACIL. E a verdade é que onde se monta uma FATACIL monta-se qualquer coisa. As intervenções que aconteceram no espaço já este ano estão em linha com aquilo que está a ser preconizado.

 

V.A. – Em relação ao número de expositores, tem noção de quantos são atualmente e de quantos poderão vir a ser depois dessas intervenções?

F.M. – As quantidades nunca são a minha grande aposta. Nem mesmo aquela esgrima do número de visitantes. O que me alegra é o grau de satisfação de quem nos visita, isso é que faz a feira crescer e não termos mais um ou menos um stand. É isso que nos leva a voltar lá, quer para expor ou visitar.

 

V.A. – Como descreve a FATACIL a quem ainda não a conhece?

F.M. – É o maior evento a sul do Tejo. É o evento que sabe e que assumiu que tem que se saber reinventar. Este ano, mesmo ao nível do cartaz musical, apostámos em criar atratividade para uma geração mais jovem. Temos aqueles que já vêm à FATACIL à 30 ou 35 anos e agora queremos os mais jovens, para que comecem a criar gosto por este evento. É uma feira que decorre durante dez dias e é, acima de tudo, uma festa. Não é um festival de música, porque tem a complementaridade de uma feira, mas também não é uma feira que tem um pequeno espetáculo para entreter, é muito mais que isso. É um evento único na nossa região e é obrigatório passar por cá, nem que seja uma vez.

 

 

Por Nathalie Dias