Foi apresentada a Hemeroteca Digital do Algarve na sede da Fundação Manuel Viegas Guerreiro em Querença no dia 8 de dezembro de 2019.

Mais de 160 anos de história do Algarve disponíveis em hemeroteca digital

A Hemeroteca Digital do Algarve, que disponibiliza milhares de páginas de revistas e jornais algarvios publicados entre 1810 e 1974, foi apresentada ao público no passado dia 8 de dezembro em Querença, no concelho de Loulé.

«Temos finalmente disponível a plataforma que reúne, num único ponto de acesso, todas as publicações do Algarve [naquele período]», afirmou à Lusa Patrícia de Jesus Palma, coordenadora do projeto.

O carregamento das 300 mil imagens de 400 títulos «ainda está a decorrer», com algumas a serem transferidas da Biblioteca Nacional para os serviços de informática, mas já é possível consultar publicações em hemeroteca.ualg.pt.

O registo digital é feito em ficheiro PDF, permitindo não só uma reprodução mais fiável e com melhor qualidade dos exemplares, mas também uma pesquisa por palavra, o que torna mais prática a procura por «assunto, acontecimento ou personalidades».

Os direitos de autor limitaram agora a disponibilização na internet das publicações até ao ano de 1949, mas será possível consultar todo o conteúdo, num circuito próprio, na Biblioteca da Universidade do Algarve.

O restante espólio já digitalizado «será libertado» ano após ano na internet, permitindo a sua consulta em qualquer parte do mundo.

«Em 2020 passará a ser disponível todo o ano de 1950», destacou a investigadora.

Os constrangimentos financeiros limitaram a digitalização de mais publicações, mas, sendo um projeto comunitário e colaborativo, «não está fechado» e em qualquer altura quem tiver em sua posse um exemplar ainda não registado na plataforma pode contactar a equipa da Universidade do Algarve.

Este registo é considerado de vital importância para o estudo da história da região, já que reúne num só local publicações que estavam dispersas «um pouco por todo o país», afirmou à Lusa Salomé Horta, coordenadora executiva do projeto.

«Estes jornais contam a história da região e, muitas vezes, os acontecimentos só se conseguem recuperar e reconstituir a partir das leituras da imprensa da altura, porque não há bibliografia que permita aos investigadores chegarem a essa informação», afirmou a também coordenadora técnica da biblioteca da academia.

Muitos destes jornais estão em «grande estado de degradação», o que dificultava o seu acesso e manuseamento, mas a hemeroteca permite preservar um património que «rapidamente se podia perder», realçou.

O financiamento para este projeto foi obtido ao abrigo do Orçamento Participativo de Portugal de 2017, numa ideia original Fundação Manuel Viegas Guerreiro, mas ainda assim «não permitiu digitalizar» todas as publicações até 2019.

Na proposta, a fundação justificava a importância do projeto com o facto de a região possuir centenas de títulos de publicações periódicas de âmbito público, desportivo, turístico, religioso, de associações de classe e de feição comercial que «registam cerca de 180 anos da história do Algarve».

A apresentação da Hemeroteca Digital do Algarve contou com a presença da secretária de Estado da Inovação e da Modernização Administrativa, Maria de Fátima Fonseca, e da secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural, Ângela Ferreira.

 

A ideia
Luís Manuel Mendes Guerreiro (1960-2017)
Engenheiro civil de formação e homem de letras e cultura por vocação, dedicou parte da sua vida à pesquisa e divulgação da história do Algarve, a sua grande paixão.
Ao longo da sua carreira, promoveu inúmeras iniciativas culturais marcantes para a região e para o aprofundamento da sua história.
Foi um dos principais impulsionadores da criação da Fundação Manuel Viegas Guerreiro, em Querença, da qual era presidente, e onde reuniu um importante acervo bibliográfico sobre o Algarve.
O seu interesse pela imprensa periódica regional fez-se sentir desde sempre, refletido numa das primeiras iniciativas culturais que organizou enquanto funcionário da Câmara Municipal de Loulé, recuperando o primeiro jornal impresso no concelho, O Algarvio,  assim como no seu desejo de vir a constituir uma coleção que reunisse e pudesse contribuir para a preservação e divulgação desta incontornável e insubstituível fonte de informação, projeto que perseguia há vários anos.
Devido às suas constantes pesquisas, Luís Guerreiro cedo compreendeu que a história estava plasmada nestas publicações e elas próprias fizeram, não raras vezes, a história da região. Daí, o seu inestimável interesse e importância para a elaboração de trabalhos sobre o Algarve e das relações deste com as demais realidades nacionais e internacionais.
A Hemeroteca Digital do Algarve é, pois, ideia e projeto seus, acarinhada pela comunidade que a votou, desenvolvida por colegas e admiradores da sua obra.