A procura por casas modulares tem vindo a “crescer exponencialmente” e está hoje no momento mais alto de sempre. O “sucesso" das casas modulares em Portugal é explicado por vários fatores: este tipo de construção é rápido e ecológico, e garante uma elevada eficiência térmica e acústica. E quem são as famílias que mais procuram casas modulares para viver? “A família jovem portuguesa, que se preocupa com questões de sustentabilidade e ecologia” e entende que a industrialização dos processos construtivos resulta numa “melhoria significativa da qualidade de vida”, explica em entrevista Joana Querido, gestora de negócio das Flex House Solutions (FHS), empresa do norte do país que produz e instala casas modulares flexíveis.
Hoje, a construção sustentável e a eficiência energética dos edifícios está na ordem do dia, pressionando investidores e promotores imobiliários a adaptarem os seus empreendimentos mediante o cumprimento de vários requisitos nesta matéria. Foi precisamente “da ambição de criar soluções de alta eficiência, amigas do ambiente e que respondam às necessidades da população em termos habitacionais - reduzindo prazos e garantindo um alto padrão de qualidade - que nasceu a Flex House Solutions (FHS)”, explica Joana Querido em entrevista ao idealista/news. A sua empresa mãe é a Socigom, uma gestora, mediadora e promotora imobiliária sediada em Gondomar.
Estas casas modulares flexíveis são construídas com recurso ao Light Steel Framing (LSF), comumente chamado de aço leve, que confere resistência, flexibilidade e segurança às habitações. Além disso, seguindo o método de construção indoor, “o impacto e desperdício é muito inferior àquele que resulta dos processos construtivos tradicionais”, esclarece ainda a gestora de negócio das FHS.
"É um erro pensar-se que as casas modulares ou pré-fabricadas são casas mais económicas, com menos qualidade ou para classes sociais mais vulneráveis".
É por isso mesmo que muitas famílias que se preocupam com questões de sustentabilidade e ecologia procuram comprar casas modulares para viver, como é o caso dos jovens portugueses. Muito embora Joana Querido reconheça, desde logo, que o orçamento para uma casa modular flexível “não é mais barato do que construir em alvenaria”. Mas também não é mais caro.
Não são só as famílias jovens que procuram este tipo de construção modular em LSF. “Em Portugal, também já sentimos que as promotoras começam a recorrer à construção de raiz em LSF. No entanto, verificamos que o LSF é muito requisitado para reabilitar e ampliar edifícios em cidades com centros históricos, como o Porto, Lisboa, Braga, Guimarães, entre outras”, explica a responsável.
Mas porque é que a construção em aço leve é mais requisitada na reabilitação? Quais são as vantagens de comprar habitações modulares? E como é que a subida dos preços dos materiais de construção está a ter impacto no negócio? Joana Querido, gestora de negócio das Flex House Solutions (FHS), explica tudo em entrevista ao idealista/news, que agora reproduzimos na íntegra.Como nasceu a Flex House Solutions (FHS) no seio do grupo Socigom? Veio colmatar alguma falha no mercado? O que acrescenta ao vosso grupo e ao mercado?
A FHS insere-se num grupo imobiliário - a Socigom - do qual fazem parte também a JBMM – arquitetos, a Socigom – promotora imobiliária e a Socigom II – consultoria e gestão de negócios imobiliários.
A FHS surge da feliz coincidência de dois técnicos apaixonados pela industrialização e inovação cruzarem, um dia, os seus caminhos. Havia uma vontade antiga de um dos sócios, o arquiteto Joaquim Bragança, de estar envolvido num projeto de construção onde a inovação e a tecnologia fossem palavras de ordem. E, a certa altura, surgiu o parceiro certo, o engenheiro Marcus Pacheco, especialista e apaixonado por Light Steel Frame (LSF), que ajudou a materializar o sonho.
A FHS nasce, assim, com a ambição de criar soluções de alta eficiência, amigas do ambiente e que respondam às necessidades da população em termos habitacionais, reduzindo prazos e garantindo um alto padrão de qualidade. Além disso, as FHS apontam no método de construção indoor, cujo impacto e desperdício é muito inferior àquele que resulta dos processos construtivos tradicionais.
"O nosso cliente tipo é a família jovem portuguesa, que se preocupa com questões de sustentabilidade e ecologia".
Como avalia a procura de casas modulares e pré-fabricadas em Portugal? O que atrai as famílias para construir estas casas ao invés da construção tradicional?
A procura de casas modulares tem vindo a crescer exponencialmente, encontrando-se hoje no momento mais alto de sempre. Notamos que este crescimento está relacionado com uma certa mediatização das enormes vantagens que este tipo de construção tem, dando a conhecer um tipo de construção que era ainda desconhecido pelo grande púbico e que começa agora a gerar curiosidade.
O sucesso das casas modulares está relacionado com características que as pessoas mais valorizam na construção de uma nova habitação, como:
- O facto de a construção ser mais rápida do que as construções tradicionais (a habitação pode ficar pronta a habitar em 4 ou5 meses);
- As casas em LSF são comprovadamente muito eficientes térmica e acusticamente;
- A construção em LSF é mais ecológica e sustentável. Por um lado, consegue reduzir os desperdícios de materiais a valores muito residuais, apresentando estaleiros limpos (por ser industrializada, é planeada ao mais pequeno detalhe, o que leva à utilização de quantidades exatas de materiais). E, por outro, dispensa a utilização de água - que, como sabemos, é um recurso cujo consumo deve ser controlado tanto quanto possível para o bem da sustentabilidade do planeta -, uma vez que é uma construção seca, sem recurso a argamassas.
Em Portugal, quem é que mais procura as vossas casas modulares? Famílias portuguesas ou estrangeiras?
O nosso cliente tipo é a família jovem portuguesa, que se preocupa com questões de sustentabilidade e ecologia. Além disso, valoriza a tecnologia e compreende que a industrialização dos processos resulta num aumento da produtividade, maior modernização e, por conseguinte, a melhoria significativa da qualidade de vida.Por parte de promotoras imobiliárias a operar em Portugal, já há interesse em recorrer a este tipo de construção de forma mais massificada, à semelhança do que acontece noutros países, como Espanha, por exemplo?
Em Portugal, também já sentimos que as promotoras começam a recorrer à construção de raiz em LSF. No entanto, verificamos que o LSF é muito requisitado para reabilitar e ampliar edifícios em cidades com centros históricos, como o Porto, Lisboa, Braga, Guimarães, entre outras.
A explicação é simples: quando reabilitamos um edifício e o queremos ampliar em altura, existem sempre muitas reservas em relação à resistência a cargas da estrutura pré-existente. Assim, acrescentar um sistema construtivo leve é sempre mais recomendável sob pena de estarmos a sobrecarregar estruturas muito antigas e correr riscos de fissuração ou até colapso.
Ou seja, o LSF é encarado como a solução mais favorável na reabilitação de edifícios antigos, pois diminui drasticamente as cargas exercidas sob a estruturas pré-existentes, que normalmente já estão fragilizadas, respeitando-as e aumentando o tempo de vida dos edifícios.
As famílias que compram as vossas casas modulares recorrem a crédito habitação ou a financiamento próprio? Têm facilidade em adquirir habitação modular com recurso financiamento bancário?
Sim, quase sempre recorrem a crédito habitação ou crédito à construção e não encontram qualquer dificuldade no processo.
"Construímos casas que foram concebidas por arquitetos de forma individual e personalizada".
Possuem uma oferta de LSF pré-definida? Ou a sua construção é personalizada consoante as necessidades das famílias?
As nossa casas são personalizadas. Construímos casas que foram concebidas por arquitetos de forma individual e personalizada. Defendemos que cada cliente é um cliente e tem desejos, vontades e necessidades individuais que devem ser atendidas. Também, evidentemente, a natureza, a disposição solar, a topografia ou os pontos de interesse do terreno condicionam a arquitetura. Estes são os dois grandes motivos para não apostarmos em modelos fechados de arquitetura: a individualidade das pessoas e do local.
Quais as vantagens em optar pelas LSF em contraponto à construção tradicional? E as desvantagens? Seja ao nível de prazos, preços e outros aspetos.
As vantagens em optar pelo LSF são:
- Mais rápido: construímos moradias de raiz chave na mão em 6 meses;
- Mais eficiente: estudos comprovam que as habitações têm melhores comportamentos térmicos e acústicos;
- Mais ecológico e sustentável: obra seca e silenciosa, sem estaleiro a céu aberto, sem incómodo para vizinhos, sem desperdício de materiais.
Já a desvantagem neste tipo de construção prende-se com a menor inercia térmica. No caso das construções FHS, esta questão resolve-se colocando placas PCM (que contribuem para o aumento da inercia térmica porque absorvem a temperatura), levando a que a nossa habitação tenha níveis de inércia térmica semelhantes à alvenaria.
Se estivermos a falar em orçamento de obra, não é mais barato construir em LSF do que em alvenaria. A boa notícia é que também não é mais caro. Se considerarmos que a casa fica pronta em 6 meses e que na construção tradicional dura, em média, 2 anos, é só fazer as contas: se eu estiver a viver numa casa arrendada por 700 euros/mês, terei de pagar renda por mais 18 meses. Logo pagarei mais 12.600 euros. Então, construir em LSF é mais barato do que a construção tradicional.
Estas casas são mais seguras do que as de construção tradicional? O que lhes confere tal resistência? Considera que há a ideia generalizada do contrário?
Cada vez há menos essa ideia generalizada de que a casa não é segura. Se estamos a falar de segurança contra intrusão, todos concordamos que os ladrões preferem entrar por portas e janelas e não por paredes, logo as nossas casas são tão seguras como as outras na medida em que têm as mesmas janelas e as mesmas portas. Se por segurança estamos a falar em segurança contra intempéries ou fenómenos atmosféricos adversos, verificamos que no caso de chuvas e ventos fortes a resistência destas habitações é muito semelhante à construção tradicional.
No caso de sismos têm uma resistência superior. A casa de tijolo colapsa perante um sismo, já em LSF os revestimentos começam a partir e soltar-se, mas a estrutura, por ser mais flexível, move-se e mantém-se sem colapsar. No caso de incêndios, todos os materiais utilizados são da classe exigível por elemento de resistência ao fogo e temos a garantia de que cumprem o imposto pela legislação no que respeita aos tempos de evacuação do edifício e a segurança dos habitantes.
"Uma das características das nossas casas tem exatamente que ver com a eficiência térmica e acústica das mesmas, muito graças aos revestimentos secos que usamos"
As FHS também asseguram padrões de eficiência térmica e energética. Que características têm estas casas modulares que as torna mais eficientes? Como quantifica a poupança no longo prazo num momento de crise energética?
Uma das características das nossas casas tem exatamente a ver com a eficiência térmica e acústica das mesmas, muito graças aos revestimentos secos que usamos, como por exemplo:
- Capoto de 80 mm;
- OSB de 12 mm;
- Lã de mineral de 70 kg/m3 e 80 mm;
- Placa de gesso de 12,5 mm – em paredes exteriores.
Naturalmente que promovemos sempre, junto dos nossos clientes, sistemas de produção de energia não fóssil (por exemplo, através de painéis fotovoltaicos) tornando a habitação mais sustentável, autossuficiente e independente. Certo é que atingimos com muita facilidade certificações energéticas Classe A+ nas nossas habitações.
A subida do preço dos materiais é um facto incontornável que nos afetou a nós e a todo o mercado e que impacta diretamente o orçamento do cliente. Durante este ano vimos preços de alguns materiais serem aumentados em 70-80%, o que fez com que toda a construção ficasse mais cara. Apesar dos desafios de escassez de material, sentimos que conseguimos manter os prazos de entrega.
"É um erro pensar-se que as casas modulares ou pré-fabricadas são casas mais económicas, com menos qualidade ou para classes sociais mais vulneráveis".
A construção de casas acessíveis em alvenaria está a tornar-se insustentável dado o aumento dos custos da construção num contexto de inflação. No seu ponto de vista, qual é a solução para esta questão? Passa pela construção de casas modulares e pré-fabricadas de custo mais reduzido?
O aumento de custos na construção é transversal a todo o mercado, logo o impacto que esse aumento tem na construção em alvenaria é igual ao da construção em LSF. Por outro lado, é um erro pensar-se que as casas modulares ou pré-fabricadas são casas mais económicas, com menos qualidade ou para classes sociais mais vulneráveis. O LSF é apenas uma alternativa estrutural ao betão e tijolo, todos os restantes acabamentos são variáveis e ajustáveis às necessidades, orçamento e desejos do cliente.
Qual é a estratégia da FHS no médio prazo? Pretendem alargar a oferta? Ou expandir o negócio a nível geográfico?
Sermos reconhecidos como uma empresa tecnológica que está na vanguarda do desenvolvimento e inovação para a construção de casas, onde a industrialização é a base dos nossos processos com vista a desempenhos de elevados padrões de qualidade.
Por: Idealista