por João Carlos Santos | Licenciado em Património Cultural - Historiador | jcsantos87@gmail.com

A investigação histórica é um processo demorado, exigente e acima de tudo complexo. Recolher inotoormação, analisar, organizar e em seguida dar origem a conhecimento científico, permite ao Historiador desenvolver uma incrível perspicácia na identificação daquilo que poderemos chamar de “suportes históricos”. Tratando-se por vezes, de um documento em mau estado de conservação, uma notícia de jornal ou até mesmo uma fotografia. Estes suportes informativos podem surgir-nos nas mais diversas vicissitudes, e dessa forma desencadear todo um processo de investigação, do qual podem resultar as mais maravilhosas correlações. Caro leitor, o Passado vive no Presente e temos o dever de o perpetuar e salvaguardar, e é nesse sentido que partilho consigo o seguinte relato: Na tarde de 18 de Outubro de 2016, após ter lecionado mais uma aula de História Local, pus-me a caminho de casa e optei por passar pela Av. Infante de Sagres, até que me deparo com um contentor de entulho repleto com o recheio de um apartamento. No meio de cadeiras, móveis e outros artigos, vejo uma moldura de madeira, quase desfeita e protegida por um vidro bastante empoeirado. Faço uma breve limpeza, o suficiente para constatar que tratava-se de uma foto de grupo, possivelmente com uma centena de pessoas, datada de 1930. Tentei saber quem era a pessoa que habitava no apartamento em questão, mas sem sucesso. Entretanto, um dos trabalhadores na sua boa vontade em ajudar-me a retirar a fotografia da moldura, já muito destruída, acabou por danificar um pouco a base em que a mesma se encontrava colada. Por vezes não conseguimos controlar todas as variantes, mas perante a total destruição da mesma, figurou-se-me um mal menor. Após uma análise mais cuidada, pude identificar o fotógrafo através do carimbo com o qual assinava as suas obras, tratando-se de Joaquim Silva Nogueira, segundo a sua biografia, lia-se: “Quando inicia a sua carreira, no final dos anos de 1930, Joaquim Silva Nogueira (1892-1958) era o grande fotógrafo das vedetas do teatro e do cinema. Retratista profissional, o seu estúdio (Fotografia Brasil) era o local obrigatório de passagem de toda a classe artística nacional, sendo também da sua autoria, a título de curiosidade, um dos primeiros retratos oficiais de Salazar.” Ao iniciar a sua carreira em 1930, estamos perante um dos seus primeiros trabalhos. Inclusive retratou Amália Rodrigues, entre os anos de 1942 e 1954. Amália Rodrigues, que anos mais tarde, em notícia do Jornal A Voz de Loulé datada de 3 de Setembro de 1968, viria atuar à Praia de Quarteira, no dia 15 de Setembro, no grande palco da Esplanada da Junta de Turismo de Quarteira. A correlação dá-se por via de um humilde pedido, tal como o achado da foto de Joaquim Silva Nogueira, e por este ser fotógrafo pessoal de Amália Rodrigues, despontou a ligação com a visita da mesma a Quarteira, peço ao leitor que se tiver qualquer tipo de registo acerca da vinda de Amália à localidade, que possa partilhar através do meu contacto de correio eletrónico e desta forma aumentar o nosso conhecimento histórico acerca deste acontecimento. Esta inesperada fotografia de Joaquim Silva Nogueira, será doada à Fototeca da Câmara Municipal de Loulé, para que seja devidamente conservada e salvaguardada.