por Diogo Duarte | Jurista, Licenciado em Direito e Mestrando em Direito Internacional | diogoduarte@campus.ul.pt

Num recente texto de Katharine Viner, a jornalista do The Guardian, veio a expor, num artigo de magnifica exemplaridade, quais as ameaças que o moderno jornalismo enfrenta perante o crescente alargamento das redes sociais, com especial acuidade para o facebook.  

A ideia central da autora assenta na verificação de uma correlação, cada vez mais óbvia, entre a degradação do jornalismo e a veiculação da informação pelas redes sociais. Refere Katharine Viner que a sideração do tradicional modelo de financiamento da comunicação social, arrastou-a para um pântano (des)informativo, onde tudo vale para obter mais cliques e visualizações, em vista de alcançar o fim último de potenciar as receitas publicitárias. Neste sentido, a autora considera que a visão dos meios de comunicação transformou-se radicalmente, e a factualidade e a veracidade das notícias divulgadas surgem como um mero adereço dos conteúdos publicados. A incapacidade de financiamento tem assim levado a um abandono progressivo da principal missão do jornalismo: investigar e comunicar com exatidão e veracidade os factos que concernem aos interesses gerais e legítimos de uma sociedade democrática.

A culpa (se assim o podemos dizer) encontra-se nas redes sociais e na volátil disseminação da informação. Os algoritmos utilizados pelo facebook levam ao leitor conteúdos que, potencialmente, são do seu agrado. Com base num conjunto de informações e de padrões de comportamento online dos seus utilizadores, as redes sociais fornecem conteúdos informativos alinhados com o perfil de cada utilizador, incentivando-o a um maior dispêndio de tempo na internet. Assim, os utilizadores são contemplados com notícias que se alinham com o seu pensamento e com a sua “verdade”, raramente acedendo a conteúdos opostos às suas visões e opiniões.

Não é meramente coincidente que as receitas financeiras do facebook e doutras redes sociais tenham aumentado, e se verifique simultaneamente um depauperamento das redações jornalísticas. Grande parte dos meios de comunicação foram impelidos a alimentar o grande público, sedento de informação, com histórias de pouco ou nenhum interesse, recorrendo muitas das vezes a notícias vagas, despromovidas de veracidade, e com um escandaloso défice de rigor. Não surpreende que assim o seja. Os veículos de informação mudaram, porém, o modelo de negócio permaneceu imutável. A publicidade continua a ser o combustível da sustentabilidade jornalística, e neste momento, os meios de comunicação social vivem numa luta desigual com as gigantes redes sociais.

Com evidência, a transmutação do status quo, não justifica a entrega dos meios de comunicação à junk information (informação-lixo).  O jornalismo tem uma missão a cumprir, cuja essencialidade para a democracia assenta na divulgação de factos e informação fiável, que permita colocar em balanço os poderes instituídos e que motive a opinião público à crítica sensata e intelectualmente honesta. Neste sentido, os meios de comunicação social, com particular ênfase nos jornais, terão que obrigatoriamente reconsiderar o seu posicionamento e a sua missão. O jornalismo de proximidade (no caso dos jornais locais e regionais) e o jornalismo de investigação continuam a prestar um salutar serviço aos leitores. Todavia, o mesmo não se pode dizer dos jornais nacionais, que muitas vezes têm servido de intermediários e de tradutores da informação e das notícias provindas de outros jornais internacionais. É compreensível que os leitores se retraiam na hora de comprar jornais de grande tiragem, considerando que à partida é consabido que tais jornais padecem de rigor informativo e que traduzem e replicam notícias estrangeiras que doutra forma permanecem acessíveis, gratuitamente, pela internet.

A minoração da presença da comunicação social não coarta a sua essencialidade. O jornalismo continua a ter um papel necessário para a sociedade, e nenhuma rede social terá a capacidade de o substituir. Compete agora aos meios de comunicação social, contrariarem a tendência do pós-verdade, não se entregando à veiculação da empty information (informação vazia) e do clickbait (isco para o clique).