Por: Miguel Peres Santos – Mestre em Gestão Cultural pela Universidade do Algarve – miguelsantostavira@gmail.com

No passado mês de Março, a RTP anunciava e com direito a destaque em toda a imprensa nacional o regresso do Festival RTP da Canção, que se pretendia renovado, próximo dos novos grandes compositores da música nacional. E assim foi o que se viu e ouviu. Por esses dias, e apesar de tantos nomes consagrados e menos consagrados que se viram neste palco, destacava-se um intérprete de voz angelical com uma postura descontraída e adorável mas ao mesmo tempo intensa, claro que estamos a falar de Salvador Sobral.

Foi assim que se chegou a uma vitória improvável de uma música que muitos achavam, apesar da sua qualidade, que tinha pouco para dar num Festival Eurovisão da Canção, o  que levou à divisão de opiniões de todos aqueles que acompanhavam o concurso que serviu para escolher o representante de Portugal neste festival. Mas o que aconteceu foi para surpresa de muitos o contrário, a Europa toda falava desta música e da sua interpretação.

O que muitos ainda se perguntam é: “O que faz com que desta música e desta letra uma grande canção?” “O que faz com que ela encantasse Portugal e a Europa?” “O que faz com que uma música que é cantada em Português e que a grande maioria não entende vença o Festival Eurovisão da Canção?”

Muito se poderá dizer sobre estas questões, muito já foi dito sobre este assunto, mas para mim o facto que responde a estas perguntas reside apenas na sublime simplicidade da composição musical da Luísa Sobral, e não menos importante que isso, na sublime simplicidade do seu intérprete Salvador Sobral, pelo meio de um festival que há vários anos é marcado por música de qualidade duvidosa, marcada por grandes encenações de consumo rápido e muito menos por composições dignas de registo.

Mas o Salvador Sobral e a Luísa Sobral vão mais além do que esta canção e são muito mais que este festival. A Luísa para quem conhece o seu trabalho é uma compositora de exceção, ao melhor nível e com muito trabalho feito, muito dele conhecido do grande público e pertence a uma nova geração da música portuguesa e que ainda tem muito para dar à nossa cultura. Já o Salvador é possuidor de uma voz angelical, que nos embala e liberta para o sonho, tem a capacidade infinita e invulgar de interpretar as mais diversas músicas, mas o que se destaca mais nesta figura é a sua humildade e a consciência que o mesmo tem do que é o mundo das artes, onde o sucesso não é um caminho certo e onde o que vende é mais importante que a qualidade do produto artístico.

A frase mais marcante da noite da vitória de Salvador Sobral é quando o mesmo diz: “A música não é fogo-de-artifício, a música é sentimento…”, e é aqui que se define simplesmente este artista, uma pessoa que sente o que faz e que sabe que o seu caminho será sempre o da defesa da música e das artes naquilo que é a sua essência, não sabemos ainda se conseguiu o seu objetivo neste festival, mas sabemos que a composição soberba e a voz maravilhosa do Salvador Sobral, venceu o festival conquistou o público, não sabemos se industria da música vai mudar, mas sabemos que ainda há pessoas como o Salvador Sobral e a Luísa Sobral, que fazem música e arte com sentimento, pureza e simplicidade, e isso é o mais importante desta história.