Manuel Azevedo Portela | Professor Adjunto do Instituto Politécnico de Saúde do Norte-CESPU | Presidente da Associação Portuguesa de Podologia

Os pés encontram-se fechados durante dois terços da nossa vida, daí a pouca importância que lhes damos. No verão, a preocupação com o pé é maior devido à sua exposição, mas também é verdade que a falta de cuidados especiais aumenta o número de patologias nos membros inferiores.

O aumento da temperatura, o excesso de transpiração, o calçado aberto ou a ausência dele nas praias e zonas de banho, são o motivo para o aparecimento de algumas doenças típicas de verão.

A xerose cutânea (pele seca) é uma das principais complicações de verão devido à exposição dos pés ao ar e ao calor, às areias e ao excesso de transpiração e à permanência excessiva dentro de água, nas praias ou piscinas. Esta patologia provoca uma pele seca, por vezes áspera e com fissuras nas zonas da planta dos pés e nos calcanhares.

A colocação de protetor solar no dorso e nos dedos dos pés é um gesto indispensável quando estamos expostos ao sol, de forma a evitar queimaduras e prevenir o cancro da pele.

As infeções dermatológicas são também muito frequentes, pela vulnerabilidade da pele seca e fissurada e pelo contato com zonas contaminadas, como espaços de acesso a piscinas, bares de praia e casas de banho ou chuveiros. As infeções podem ser provocadas por diversos micro-organismos, nomeadamente bactérias, fungos e vírus. O aparecimento de dermatomicoses, panarícios, verrugas plantares entre outras patologias nos pés, são frequentes nesta época do ano e o cuidado preventivo é fundamental. O diagnóstico precoce e tratamento especializado pelo podologista são determinantes para o sucesso da recuperação.

Os pés, como alicerce do nosso organismo, necessitam de cuidados diários específicos, fundamentais para permitir um melhor estado geral de saúde do indivíduo, funcionalidade e estabilidade do pé e da marcha.

Lavar os pés diariamente com um sabão de pH neutro, promover uma secagem eficaz sem fricção e aplicar um creme hidratante, são ações fundamentais para manter uma boa integridade da pele. No caso de existir uma hiperidrose, excesso de transpiração, deve ser usado um antitranspirante de forma controlar a perda de água e xerodermia.

Não andar descalço em locais públicos, usar chinelos em instalações como piscinas, balneários e saunas é fundamentalmente para prevenir e evitar o contacto com fungos e bactérias. Esta medida evita, quase na totalidade a contaminação por microrganismos responsáveis por algumas infeções do pé e os traumatismos do pé e da pele.

As unhas têm como função proporcionar o efeito de alavanca durante o caminhar e de proteção da zona distal dos dedos. São suscetíveis a microtraumatismos provocados pelo calçado apertado e vulneráveis a infeções fúngicas e a processos de onicocriptoses (unhas encravadas).

O cuidado com as unhas é igualmente importante, começando com um corte ungueal de forma correta e, perante lesões dermatológicas, o auto tratamento está contraindicado, já que o uso de material não adequado e, na maioria dos casos, não esterilizado, associado às limitações individuais, origina um risco elevado de erro. Atendendo às características das unhas e à sua composição, é igualmente recomendável a sua hidratação e preservação da morfologia. Não devem ser retiradas as “cutículas”, porque estas significam uma proteção e barreira para as infeções, e o corte das unhas deve ser realizado com alicate individual e de forma reta.

Desde que as unhas estejam em condições de saúde normal, sem qualquer alteração, podem ser pintadas durante períodos de tempo curto. Não se devem manter as unhas impermeabilizadas e sem luz mais que 7 dias, correndo o risco de ocultar alguma alteração na fase inicial. Sempre que existem alterações da unha, esta não deve ser pintada, mas sim tratada.

O uso de meias ou peúgas é importante para um melhor controlo da humidade nos pés e para evitar as forças de atrito e fricção entre a pele e o calçado, como bolhas, queimaduras ou feridas. O calçado, para além de ser estável e protetor, deve ser de material natural e com caraterísticas de respirabilidade e sem compromissos de traumatismo. Ter atenção às sandálias com tiras, que podem provocar compromissos de circulação e risco vascular, se forem demasiado apertadas.

Devemos consultar um podologista sempre que existe qualquer sinal ou sintoma nos pés, ou no caso de não existirem alterações, realizar uma consulta de podologia uma vez por ano, como medida preventiva.

O podologista é o profissional de saúde especializado na prevenção, diagnóstico e tratamento das patologias do pé.

 

Por: LPM