Com mais de metade da pena cumprida, Paulo Simplício, um dos reclusos que até final de maio estão a limpar a ilha da Armona, em Olhão (Algarve), encara a experiência como o início de uma mudança de vida.

“Ajuda na integração na sociedade. A sociedade vê-nos e não nos teme. É um passo muito importante na vida de um recluso que anda cá fora”, disse à agência Lusa o pescador olhanense, de 48 anos, que já cumpriu três anos de uma pena de cinco anos e seis meses.

A iniciativa, que se repete pelo segundo ano consecutivo, corresponde a uma parceria entre a Câmara Municipal de Olhão e o Estabelecimento Prisional local, na sequência de um desafio lançado pela autarquia com o objetivo de potenciar a reinserção social dos presos.

Todos os dias, desde o dia 14 de maio e até dia 30, os cinco reclusos trabalham várias horas na limpeza da ilha e da praia da Armona, um dos núcleos da ilha da Fuseta, recolhendo chorões e o lixo acumulado ao longo de um ano, sejam resíduos trazidos pelo mar ou deixados pela população.

Os presos envolvidos já cumpriram metade das suas penas e, através de bom comportamento e participação nas atividades do estabelecimento prisional, estão agora em regime aberto, o que lhes permite participar nestas brigadas de trabalho.

“Qualquer um destes homens tem a sua situação jurídico-penal praticamente definida e têm a possibilidade porque já deram provas nas saídas ao exterior que poderão usufruir deste benefício”, salientou à Lusa o diretor do Estabelecimento Prisional de Olhão, Júlio Melo.

Os cinco reclusos são vigiados por apenas um elemento de vigilância, existindo “um grau de confiança” entre o estabelecimento e os presos, que têm “noção da responsabilidade”, sublinhou o responsável.

A autarquia olhanense garante o seguro de acidentes de trabalho e paga cerca de 26 euros por dia aos reclusos: metade da verba é-lhes fornecida de imediato, a outra metade fica reservada e só será entregue no momento em que saem em liberdade.

“Há um benefício que, sendo relevante, poderá não ser tão importante como o segundo, que é o facto de auferirem uma quantia interessante para pessoas que estão privadas de liberdade. Mas mais do que isso, é um enraizamento de hábitos de trabalho”, frisou Júlio Melo, elogiando “a vontade de estarem a fazer qualquer coisa em prol da sociedade” .

Desde janeiro de 2016, mais de duas dezenas de reclusos do Estabelecimento Prisional de Olhão participaram em 38 brigadas de trabalho, em diversas áreas e em colaboração com várias instituições.

“Agricultura, limpezas, pinturas, pedreiro. Tudo e mais alguma coisa que haja para fazer, nós fazemos, com vontade e gosto”, afirmou Paulo Simplício, sobre o trabalho que tem efetuado ao longo dos últimos meses.

O pescador quis aproveitar as oportunidades que lhe foram dadas no estabelecimento prisional, onde foi parar depois “de um mau momento na vida” causado pelas dificuldades financeiras que sentia na altura.

“Claro que é o melhor para nós. Temos alguma ajuda financeira e temos de nos esforçar para a ter, porque se não for assim a gente não tem nada”, acrescentou o recluso, que não pensa voltar à prisão depois de cumprir a pena.

“A família não nos perdoa de certeza e isso é o mais importante para nós”, concluiu.

O diretor do Estabelecimento Prisional de Olhão admitiu que, independentemente do trabalho que é feito na instituição, não há sucesso em todos os casos de reclusos que saem da prisão.

“Há outros casos onde, de facto, há mudanças de vida. E este género de iniciativas está precisamente vocacionada para a mudança de um projeto de vida. Isso é essencial”, ressalvou Júlio de Melo.

 

Por: Lusa