por Luís Pina | aragaopina59@gmail.com

Abordada com crescente em pertinente veemência, a igualdade de género e as lutas a ela associadas é tema recorrente de uma sociedade que se quer mais evoluída e civilizada, em conformidade com os padrões do século XXI. E muito justamente, já que a sociedade se tem privado a si própria, por demasiado tempo, ignorância e estupidez dogmática, de todo o potencial de inteligência, capacidade de trabalho, dimensão afetiva e de muitos outros fatores inerentes às mulheres. A elas pois, o seu pleníssimo direito a uma emancipação e igualdade em todos os domínios que, (importa reconhecer), demorará ainda muito tempo a atingir plenamente. Igualdade em valor, com certeza, nas diferenças óbvias que devem determinar também papéis diferentes: “apenas” papéis diferentes, entenda-se, que não necessariamente de submissão ou subalternidade de umas em relação a outros. De entre inúmeros aspetos a maternidade será sem dúvida um dos mais sensíveis, por tudo aquilo que implica e envolve. A absoluta honra, a absoluta dignidade, (perdoem-me a hipérbole), das entranhas ao mais profundo do ser, do seu próprio sangue às dimensões mais nobres, recônditas e imperscrutáveis do seu coração, do seu psiquismo, dos seus afetos… são aspetos que envolvem a gestação e criação de um filho. Ou não são? Como é possível, pois, que uma mulher aceite “alugar” a sua barriga para um outro, que não seu companheiro, namorado ou marido, por maior e mais atrativo que seja o “cahet” entretanto envolvido? Um filho, uma criança em si e por si gerada e que, ainda por cima, não voltará provavelmente a ver por força dos anonimatos contratualmente estabelecidos. “Alugar uma barriga”? Usar desta ligeireza, banalidade, frieza e “sentido mercantilista” em dimensões tão delicadas e sensíveis constitui, a meu ver, uma afronta à dignidade da mulher, à respeitabilidade e amor que lhe são devidos. Não consigo entender! “Retrógrado, conservador, machista”? Nem por isso, mas não importa! Permitam-me, isso sim, e no uso do meu direito à livre expressão, deixar bem vincada a minha perplexidade nestes tempos conturbados que vivemos.