Um lince-ibérico reintroduzido na natureza em 2015, no vale do Guadiana, no Algarve, percorreu nos últimos sete meses mais de mil quilómetros, tendo sido detetado na Catalunha, em Espanha, para surpresa dos técnicos que monitorizam a espécie.

O Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), responsável em Portugal pelo Centro de reprodução do lince Ibérico de Silves, no Algarve, e pelo projeto de reintrodução da espécie na natureza, foi informado a 29 de maio da presença na Catalunha deste exemplar de lince-ibérico, que tinha sido libertado em território português a 14 de maio de 2015, disse à agência Lusa fonte do Ministério do Ambiente.

Os responsáveis pela monitorização dos animais libertados na natureza conseguiram manter o seu trajeto rastreado até ao ano passado, mas perderam depois o seu rasto e não esperavam que o animal pudesse percorrer uma distância tão grande, segundo a mesma fonte.

“O transmissor GSM deixou de transmitir há cerca de 7 meses, quando o lítio se encontrava na área do Arade, em Portimão, por falta de bateria, ou por se encontrar em áreas de má receção de sina GSM”, justificou a fonte ministerial.

Questionada se foi com surpresa que os técnicos viram a distância percorrida por este animal, a fonte respondeu que já existiam “registos recentes de machos jovens com grandes dispersões”, mas reconheceu que “não era previsível uma deslocação tão grande”.

“Sobretudo tendo em conta os diversos obstáculos (fundamentalmente infraestruturas lineares viárias) que teve de ultrapassar”, frisou, exemplificando que este exemplar de lince-ibérico “pelo menos atravessou diversas autoestradas, vias férreas e rios”.

A mesma fonte observou que só “a sua eventual e desejável captura e mudança de colar” do animal permitirá “saber o percurso que fez”, porque o colar tem, mesmo sem emitir sinal, “capacidade para armazenar até 6.000 registos pontuais de localização”, o que permitira conhecer com maior rigor o percurso que fez.

Os técnicos responsáveis pelo projeto consideram que “a dispersão de machos jovens é natural” e afastam qualquer ideia de o afastamento destes exemplares das áreas onde foram libertados se dever a uma deterioração das condições necessárias para a existência de lince-ibérico, designadamente haver uma população saudável e de coelho-bravo, o seu principal alimento.

“Aliás, o termo ‘deterioração’ não se aplica de forma nenhuma à área do Vale do Guadiana. É exemplo disso a capacidade de reprodução que as fêmeas introduzidas têm demonstrado, o que evidencia muito boas condições de tranquilidade e de disponibilidade alimentar”, garantiu o Ministério do Ambiente.

A fonte ministerial considerou também que “a deteção destes animais é importante para o conhecimento da espécie”, embora o afastamento dos machos da zona de libertação prevista possa afastá-los de fêmeas e dificultar o acasalamento e a reprodução.

“Nunca se restringe em absoluto os movimentos de dispersão de um animal reintroduzido, com estas características. É evidente que, se o colar ainda estiver a transmitir, ou se for detetado um animal num local que não seja, aparentemente, favorável, poderá sempre pensar-se em capturá-lo e voltar a libertá-lo num local que tenha ainda melhores condições à sua sobrevivência. Essa situação está a ser avaliada por peritos, relativamente ao lítio”, revelou.

Os técnicos estão também a trabalhar para conseguir “a melhoria dos métodos de seguimento, a promoção de intervenções físicas visando a desfragmentação de habitat, o desenvolvimento e adoção de mecanismos e dispositivos ativos e passivos de afastamento dos animais das estradas, autoestradas e outras estruturas lineares viárias”, disse ainda a fonte do Ministério.

 

Por: Lusa