O Mafra conquistou hoje o Campeonato de Portugal de futebol, ao vencer o Farense, por 2-1, na final realizada no Estádio Nacional, em Oeiras, com um golo no tempo de compensação.

Os algarvios pagaram caro o relaxamento no segundo tempo, face ao golo inaugural de Fábio Gomes, aos seis minutos, que parecia ser suficiente dado o que se ia passando em campo. Porém, o conjunto mafrense veio rejuvenescido dos balneários, com os tentos de Ricardo Rodrigues, aos 74, e de Juary Soares, aos 90+3, a confirmarem o título.

A equipa de Rui Duarte justificou a aposta forte que fez no início da temporada e nem mesmo o desaire com o Felgueiras (0-1) colocou em causa a passagem às ‘meias', graças à vantagem da primeira mão (2-3). A caminhada para a II Liga ficou consumada perante um acessível Vilafranquense, sem argumentos para travar os algarvios nos dois desafios (3-0 e 1-1).

Já o Mafra teve a tarefa mais complicada para assegurar o regresso ao futebol profissional, após duas temporadas no terceiro escalão. Primeiro, deixou pelo caminho o Vilaverdense com dois triunfos, por 2-1 e 2-4. Depois, teve de suar nos dois encontros diante da União de Leiria, garantindo a subida e consequente presença no Jamor, graças ao golo de Hugo Ventosa no empate (1-1) fora de portas, após a igualdade sem golos em casa.

Apesar de jovem, Luís Freire é um treinador que consumou a quinta subida no currículo, mas tinha hoje, talvez, a missão mais complicada da temporada: superar e contrariar o favoritismo dos algarvios. Contudo, o mau início de jogo começou a condicionar a estratégia.

À passagem do minuto seis, a acutilância e a pressão incutida pelo Farense resultou num tento madrugador. O veterano médio Neca, que hoje se despediu dos relvados, cobrou o canto da esquerda direitinho para a cabeça do possante avançado Fábio Gomes.

A diferença de qualidade foi evidente durante os primeiros 45 minutos. O Farense com o objetivo claro de querer resolver o jogo cedo, quase sempre a jogar no meio-campo do adversário e muito rematador. O Mafra jogava a passo, esperava por eventuais erros dos algarvios e apostava forte nas bolas paradas.

O intervalo trouxe um Mafra diferente, mais balanceado para o ataque e com outra vontade para inverter o rumo do resultado, ainda que esbarrasse constantemente na sólida defesa de Faro. O ‘tiro' de Ricardo Rodrigues, sem deixar a bola cair no chão, assustou o guarda-redes Miguel Carvalho, que viu bola passar a rasar o poste da sua baliza.

O relaxamento dos atletas de Rui Duarte acabou por ter consequências para a sua equipa. Numa rara desconcentração da defensiva, os dois homens vindos do banco, Ricardo Rodrigues e Marco Aurélio, combinaram bem e repuseram a igualdade.

Porém, o Farense voltou a ter uma soberana oportunidade para passar de novo a comandar o marcador, mas o experiente lateral Jorge Ribeiro foi displicente ao atirar com estrondo à barra da baliza na marcação de uma grande penalidade, após falta do autor do golo do Mafra, sobre Cássio.

O melhor estava reservado para os instantes finais e quando já todos esperavam pelo prolongamento. Mauro Antunes bateu o livre para o coração da área e, mais forte do que os centrais adversários, o central Juary cabeceou para o golo do título.

 

Jogo realizado no Estádio Nacional, em Oeiras.

Mafra - Farense, 2-1.

Ao intervalo: 0-1.

Marcadores:

0-1, Fábio Gomes, 06 minutos.

1-1, Ricardo Rodrigues, 74.

2-1, Juary Soares, 90+3.

 

Equipas:

Mafra: João Godinho, Hugo Ventosa, Juary Soares, João Gomes, Guilherme Ferreira, Rui Pereira (Marco Aurélio, 69), Lucas Morelatto, Mauro Antunes, Bruninho, Leandro Borges (Alisson Patrício, 84) e Campanholo (Ricardo Rodrigues, 46).

(Suplentes: Rafhael Cruz, Hugo Santos, Sérgio Oulu, Ricardo Rodrigues, Alisson Patrício, Marco Aurélio e Vladimir Forbes).

Treinador: Luís Freire.

-Farense: Miguel Carvalho, Filipe Godinho, Cássio Scheid, Bruno Bernardo, Jorge Ribeiro, Fabrício Isidoro, André Vieira (Alvarinho, 83), André Ceitil, Neca, Fábio Gomes (Tavinho, 68) e Jorginho.

(Suplentes: Bruno Costa, Delmiro, Irobiso, Leo Tomé, Tavinho, Nuno Borges e Alvarinho).

Treinador: Rui Duarte.

 

Árbitro: Hélder Lamas (AF Porto).

Ação disciplinar: cartão amarelo para Fábio Gomes (59), André Ceitil (72) e Filipe Godinho (89).

Assistência: 10.018 espetadores.

 

(declarações)

 

Declarações após o encontro da final do Campeonato de Portugal de futebol entre Mafra e Farense, que terminou com a vitória dos mafrenses, por 2-1.

- Luís Freire (Treinador do Mafra): “Foi um jogo emotivo. O Farense fez um golo quase a frio, pouco justificou o golo, que marcou numa bola parada. A minha equipa não perdeu a personalidade e não cedeu à pressão de jogar no Estádio Nacional. Reequilibrámo-nos, confiámos em nós próprios e não nos desorientámos. O que desequilibrou foi o golo, mas também não conseguimos criar grande perigo.

O Mafra quis mandar mais no jogo, o Farense a querer defender o resultado. Fomos felizes no fim. Quando o adversário falha a grande penalidade, o Mafra acreditou e foi mais forte emocionalmente. É o mérito dessa reviravolta com a cabeça e não só com coração. Os jogadores mostraram aqui a sua qualidade. O espetáculo foi bonito.

É uma taça que deu tanto trabalho, horas de treino, conversas e é um sentimento de grande alegria. É para isto que trabalhamos no futebol. É um sonho tornado realidade.

Como é lógico trabalhamos sempre para conseguir dar estas alegrias. É verdade que foi o último jogo, estava definido, mas nunca quis falar sobre isso. Penso que é uma despedida alegre e de coração cheio. Amanhã [segunda-feira] começará outra etapa na minha vida”.

 

- Rui Duarte (Treinador do Farense): “É difícil. Tivemos uma entrada muito forte no jogo, a mandar, a contrariar aquilo que sabíamos que o Mafra era forte. Chegámos à vantagem com todo o mérito. Não nos retraímos, tentámos fazer o segundo golo. Eles têm uma boa equipa com um estilo particular e isso não nos incomodou, mas obrigou-nos a correr bastante. Estávamos preparados para isso.

O futebol tem destas coisas. Podíamos ter feito o segundo golo e matado o jogo e sofremos no último lance. Sim é injusto [o resultado]. Nunca nos retraímos, apensar de estarmos a ganhar. Continuámos à procura do golo, sabíamos que tínhamos de fazer o segundo. Era o plano traçado e continuámos em cima. Fomos penalizados numa situação que já não esperávamos.

Tínhamos o propósito de acabar a ganhar. Fazia todo o sentido nas nossas cabeças acabar com uma vitória e um título. O objetivo foi conseguido, uma época fantástica, faltou a vitória final. Tenho a certeza de que esta derrota não nos vai matar. O clube está a crescer e a dar a volta. Há uma onda positiva em Faro, as pessoas estão com a equipa e depois desta tristeza temos de nos unir e preparar o que aí vem, que é duro.

[Sobre o último jogo do Neca] É um momento difícil na vida dele pela carreira que fez. É um jogador fantástico. Há jogadores eternos e, pelo que fez e representa, é uma tristeza acabar. Vai-lhe faltar o jogo e o treino, mas sente-se feliz pela carreira que fez. Ele deu muito ao futebol. É uma grande referência”.

 

- Neca (Jogador do Farense): “É um momento difícil para mim, depois de 20 de carreira gostaria de ter sido campeão neste último jogo. Não consegui, mas estou orgulho da carreira que fiz, do nosso grupo. Fizemos um campeonato excelente e eliminatórias muito boas. Não conseguimos ganhar, mas temos que dar os parabéns ao Mafra.

Tive alguns [momentos], mas a ida a seleção nacional fica sempre gravada na memória. destaco também a minha estreia pelo Belenenses frente ao FC Porto. Agora vamos de férias, assentar as ideias e pensar no futuro.

Foi uma vida ligada ao futebol. Já me preparei para isso e vou continuar ligado. Vamos conversar nas próximas semanas e ver se há interesse do Farense para que continue ligado [noutras funções]. Só posso agradecer às pessoas que me convidaram mesmo com uma idade avançada para subir de divisão”.

 

 

Por: Lusa