Francis Gaudichet, com um sorriso e olhar sonhadores, esboça objetivamente o seu fascínio pela arquitetura e as tradições do Algarve.

As cores de África, os azuis da Nova Caledónia e as terracotas da Austrália, foram forte inspiração para as obras deste artista.

Reformado, casado, natural de França, oriundo de uma família de artistas, Francis Gaudichet escolheu há alguns anos, viver e divulgar a sua arte desde a cidade de Loulé.

Com uma ligação muito forte à sociedade luso-francófona, prepara-se para apresentar uma exposição em Almancil, numa festa temática organizada pelo Rotary Clube Internacional de Lagoa (francófono).

 

A Voz do Algarve: Conte-nos como foram os seus começos, como e onde desenvolveu a sua atividade profissional?

Francis Gaudichet: Costumo dizer que tive várias vidas. No princípio fui responsável pelas aulas de História na Universidade de Abidjan (Costa de Marfim), dava aulas de História Medieval em contexto Europeu, mas também Africano. Foi assim que me interessei pelas primeiras explorações portuguesas. Descobri os vestígios (por vezes abandonados) dos fortes construídos pelos portugueses na costa ocidental africana, quando ainda ninguém lhes prestava atenção. Penso tê-los desenhado a todos nos meus primeiros livros de desenhos! Foi em África que comecei a desenhar e a pintar. A cultura Africana fascinou-me muito cedo. Gostava dessa expressão artística: mistura de naïf e realismo.

Depois desse tempo universitário fui para a Nova Caledónia, no Pacífico. Lá desenvolvi uma atividade comercial e turística ligada a uma forte presença de turistas japoneses. Em simultâneo criei uma Galeria de Arte: A galeria Shango (do nome duma divindade Ashanti) para dar a conhecer e apreciar a Arte Africana.

Quando parei as minhas atividades profissionais fui para a Austrália, onde vivi uma dezena de anos. De facto, vivi pouco tempo em França mas quando cheguei a Portugal, ao descobrir o Forte de Lagos tive um choque: revivia a minha juventude Africana!

 

VA: Considera-se um artista profissional ou amador?

FG: Atividades profissionais vinculativas impediram--me durante algum tempo, desfrutar da felicidade que me dá o desenho e a pintura, que nunca foram para mim um ofício. Não me impede de ser um artista na alma e ocasiões apresentaram-se que me levaram a comportar-me como um profissional da pintura.

 

VA: Para a realização das suas obras, que técnicas utiliza e quais são as suas fontes de inspiração?

FG: Utilizo várias técnicas. Comecei com óleo que abandonei rapidamente, suja muito! (Risos) Porque gostava, desenhava muito. Utilizei frequentemente tinta da china, guache e acrílico. Quando cheguei à Austrália fiquei fascinado pelas areias do deserto e pelas suas fortes tonalidades, muito coloridas. Na Austrália utilizei, sempre que era possível, terras finamente esmagadas para fazer médiuns da minha invenção. Têm a grande vantagem de nunca perder o brilho sob influência de agentes como excesso de luz, humidade, intempéries diversas. Razões pelas quais as pinturas antigas chegaram até nós com uma tonalidade e frescura excecionais. Penso particularmente nas pinturas rupestres dos homens da pré-história.

Sendo natural da região da Dordogne em França, devo ter visitado praticamente todas as grutas rupestres da região, com uma vantagem rara: poder descobrir algumas, antes de serem “comercializadas” porque o meu pai participou nas suas descobertas. Penso em Lascaux, que já não se pode visitar, mas que descobri à lanterna, o que embeleza os detalhes rupestres.

Para voltar ao meu trabalho há uns quinze anos que consagro tempo aos afrescos murais, decorando edifícios públicos, restaurantes ou casas de particulares. Essa técnica era muito utilizada na época Medieval, na Renascença e durante o Barroco, sem ir até à antiguidade Europeia! Este trabalho de afrescos murais era muito utilizado por todas as civilizações através do mundo.

Uma das minhas outras paixões é a escrita. Dediquei muito do meu tempo à criação de “cadernos de viagem” ilustrados. Um deles tornou-se o trabalho oficial de apresentação da Vila de Biot (perto de Antibes na Côte d’Azur).

 

VA: Fez algumas exposições, quais acha que foram mais relevantes?

FG: As minhas principais exposições realizaram- -se em Abidjan de início, depois em Alice Spring, na Austrália, em Surfers Paradise, na Gold Coast Australiana (Queensland) e em França. Espero agora poder organizar outras exposições em Portugal.

 

VA: O que acha das tecnologias digitais atuais?

FG: As tecnologias digitais vão criar quadros onde falta o essencial. Para mim, a criatividade humana na Arte deve ser a união da mão e do espírito que a guia. A pintura é um trabalho artesanal. O que fixa a minha atenção na pintura moderna é a riqueza das cores. As cores são eco da natureza e a tudo o que nos rodeia. É o melhor que o nosso olhar permite de visualizar.

 

VA: O que o inspira e qual o seu objetivo ao pintar?

FG: A Natureza inspira-me. Mais recentemente dediquei-me aos retratos. Adoro jogar com a sombra e a luz. O contraste é essencial. Imortalizar uma paisagem é forte em emoção, sentimentos, sensações, afetos, esforço-me para que tudo transpareça no meu trabalho.

 

VA: Sendo um “homem do mundo”, porque escolheu Portugal e mais particularmente o Algarve e a Cidade de Loulé?

FG: Considero que instalar-me em Portugal foi uma sorte! Estou no meu quinto ano de estadia no Algarve, aprecio o relacionamento forte que se mantem neste belo país, na qualidade do contacto humano, beleza das paisagens, simplicidade da vida. Todos estes elementos renovaram os meus laços com a pintura e a escrita.

 

Nathalie Dias


Interview

Francis Gaudichet et sa fascination pour les couleurs de la nature.

 

Francis Gaudichet, d’un regard rêveur et avec le sourire, ébauche objectivement sa fascination pour l’architecture et les traditions de l’Algarve.

Les couleurs d’Afrique, les bleus de Nouvelle Calédonie et les terracotas d’Australie, ont profondément inspiré les œuvres de l’artiste.

Retraité, marié, originaire de France et d’une famille d’artistes, Francis Gaudichet a choisi il y a quelques années, de vivre et faire connaître son art à la ville de Loulé.

Avec un attachement très fort à la société luso-francophone, il se prépare à présenter une exposition lors d’une fête thématique organisée par le Rotary Club International de Lagoa (francophone).

 

A Voz do Algarve: Racontez-nous comment ont été vos débuts, comment et où vous avez développé votre activité professionnelle?

Francis Gaudichet: J’ai coutume de dire que j’ai eu plusieurs vies. Dans un premier temps, j’ai été chargé de cours d’histoire à l’Université d’Abidjan (Côte d’Ivoire), dispensant des cours d’histoire Médiévale: contexte européen mais aussi Africain. C’est ainsi que je me suis intéressé aux premières explorations Portugaises. J’ai découvert les vestiges (parfois à l’abandon) des forts implantés par le Portugal le long de la façade occidentale Africaine quand personne encore n’y portait attention. Je pense les avoir tous croqués dans mes premiers carnets à dessin! C’est en Afrique que j’ai commencé à dessiner et à peindre. La culture Africaine m’a fasciné très tôt. J’aimais cette expression artistique: mélange de naïf et de réalisme.

Après ce temps universitaire, je suis parti en Nouvelle Calédonie, dans le Pacifique. J’y ai développé une activité commerciale et touristique liée à une forte présence de touristes Japonais. Parallèlement à ça, j’ai ouvert une Galerie d’Art: La galerie Shango (du nom d’une divinité Ashanti) pour faire connaître et apprécier l’Art Africain.

Lorsque j’ai cessé mes activités professionnelles, j’ai gagné l’Australie où j’ai vécu une dizaine d’années. En fait, j’ai très peu vécu en France et lorsque je suis arrivé au Portugal, découvrant le fort de Lagos j’ai eu comme un choc: je revivais ma jeunesse Africaine!

 

VA: Vous considérez-vous un artiste professionnel ou amateur?

FG: Des activités professionnelles contraignantes m’ont éloigné un temps de la joie de dessiner ou de peindre, ce qui pour moi ne fut jamais un métier. Il n’empêche, je suis un artiste dans l’âme et des occasions se sont présentées qui m’ont amené à me comporter en professionnel de la peinture.

 

VA: Pour réaliser vos œuvres quelles techniques employez-vous et quelles sont vos sources d’inspiration?

FG: J’utilise des techniques variées. J’ai commencé à l’huile, que j’ai abandonnée rapidement, c’est trop salissant! (rires). Par goût, j’ai énormément dessiné. J’ai souvent employé l’encre de chine, la gouache et l’acrylique. Quand je suis arrivé en Australie j’ai été fasciné par les sables du désert et leurs tonalités violentes, très colorées. En Australie j’ai utilisé, chaque fois que c’était possible, des terres finement broyées pour fabriquer des mediums de mon invention. Ils présentent un grand avantage, ne jamais perdre leur éclat sous l’influence d’agents multiples: excès de lumière, humidité, intempéries diverses… Raisons pour lesquelles les peintures anciennes sont arrivées jusqu’à nous avec une tonalité et fraicheur exceptionnelles. Je pense particulièrement aux peintures rupestres des hommes de la préhistoire. Étant originaire de Dordogne, j’ai dû visiter pratiquement toutes les grottes rupestres du département, avec un avantage rare: pouvoir en découvrir certaines avant leur “commercialisation” car mon père a contribué à leur “invention”. Je pense à Lascaux, qu’on ne visite plus, que je découvris à la lampe ce qui magnifiait les détails rupestres.

Pour revenir sur mon travail, depuis une quinzaine d’années j’ai consacré du temps aux fresques murales, décorant des édifices publics, des restaurants ou la demeure de particuliers. Cette technique était très utilisée à l’époque Médiévale, à la Renaissance et au temps du Barroque, sans remonter jusqu’à l’antiquité Européenne! Ce travail de décoration sur parois murales a concerné toutes les civilisations de par le monde.

L’une de mes autres passions est l’écriture. J’ai consacré beaucoup de mon temps à la création de “carnets de voyage” illustrés. L’un d’eux est devenu l’ouvrage officiel de présentation de la Ville de Biot (proche d’Antibes dans la Côte d’Azur).

 

VA: Avez-vous fait des expositions, lesquelles ont été les plus importantes pour vous?

FG: Mes principales expositions se sont tenues à Abidjan au tout début puis, plus tard, à Alice Spring en Australie, à Surfers Paradise sur la Golf Coast Australienne (Queensland), et en France. J’espère maintenant pouvoir organiser d’autres expositions au Portugal.

 

VA: Que pensez-vous des technologies digitales actuelles?

FG: Les technologies digitales vont créer des tableaux où il manque l’essentiel. Pour moi, la créativité humaine dans l’art doit être l’union de la main et de l’esprit qui la guide. La peinture est un travail artisanal. Ce qui retient mon attention dans la peinture moderne est la richesse des coloris. Les couleurs font écho à la nature et à tout ce qui nous entoure. C’est le meilleur de ce que notre regard permet de visualiser.

 

VA: Qu’est-ce qui vous inspire et quel est votre objectif lorsque vous peignez?

FG: La Nature m’inspire. Plus récemment je me suis adonné aux portraits. J’adore jouer avec l’ombre et la lumière. Le contraste est essentiel. Immortaliser un paysage est fort en émotion. Sentiments, sensations, affections, je m’efforce que tout apparaisse au travers de mon travail.

 

VA: Etant “citoyen du monde”, pourquoi avoir choisi le Portugal, et en particulier l’Algarve et sa ville de Loulé?

FG: Je considère que m’installer au Portugal a été une chance! J’en suis à ma cinquième année de séjour en Algarve. J’apprécie le relationnel fort qui perdure dans ce beau pays, la qualité du contact humain, beauté des paysages, simplicité de vie. Tous ces éléments m’ont fait renouer avec la peinture et l’écriture.

 

Interview réalisée par Nathalie Dias

Traduite en français par Fátima Guerreiro

fatima@dominiooriginal.com