Por Luís Pina | aragaopina59@gmail.com

Uma vaga de fundamentalismos tem fustigado a nossa sociedade no anunciado pressuposto, a meu ver arrogantemente abusivo de ser portadora de fórmulas e receitas milagrosas para a saúde, para a longevidade e mesmo para a justiça, em áreas de maior ou menor abrangência. Com total desrespeito por tradições, princípios e valores que, esses sim e em grande parte, eram e ainda são garante de maior sustentabilidade, autenticidade e durabilidade. Do ambiente à gastronomia, das relações humanas e sociais às ideologias, passando pela própria relação com os animais, assiste-se a um radicalismo estonteante, diria preocupante, responsável aliás em passados recentes por episódios que marcaram a história com páginas sombrias. À exceção da vertente ambiental que, essa sim, importa levar em conta muito seriamente com vista a minimizar efeitos catastróficos, (muitos deles infelizmente já irreversíveis), diria que não é só no mundo físico que o plástico se converteu numa das maiores pragas do planeta. Tudo, ou quase tudo o resto tem vindo inexoravelmente a ser “plastificado”, sacrificando aquela que me parece constituir afinal um dos condimentos essenciais da vida: o sabor! Sim, o sabor das coisas, das relações autênticas, da lealdade, da amizade verdadeira… o sabor nos alimentos, nos sons da natureza e até na música, a que se tem cortado, como consequência de uma terrível falta de imaginação e criatividade, aquela componente melódica que ficava no ouvido e trauteávamos pela vida fora. Com a necessária remoção do plástico no topo das prioridades ambientais já não tenho, porém, grandes expectativas numa “desplastificação” destes atuais modelos de vida em que o virtualismo imposto pelas tecnologias e redes sociais, socio-degradável e descartável, nos ilude quanto aos verdadeiros e genuínos conceitos de felicidade.