O português João Rodrigues (W52-FC Porto) disse hoje ter feito “algo especial e histórico” ao vencer a 81.ª Volta a Portugal em bicicleta, que terminou com um contrarrelógio entre Vila Nova de Gaia e Porto.

“Ainda não caí em mim. Sei que acabei de fazer algo especial e histórico, mas espero desfrutar com a minha equipa, que me ajudou a conquistar esta corrida, que será algo marcante na minha carreira”, resumiu, em declarações aos jornalistas.

O algarvio de 24 anos destacou os “meses de muito trabalho” para chegar ao triunfo, dedicando a vitória a todos os envolvidos, dos apoios da família a “toda a equipa”, e disse que a vitória “tem mais sabor por ter sido no último momento”.

Chegar ao Porto tornou o final “bastante especial, com todos os adeptos”, e quer guardar “para sempre os momentos únicos” que hoje viveu, ao vencer o ‘crono’ para acabar 27 segundos à frente de Jóni Brandão (Efapel) na geral final.

O vencedor da 81.ª edição lembrou ainda o espanhol Vicente García de Mateos (Aviludo-Louletano), que desistiu na nona etapa, e que “infelizmente teve uma doença que o impossibilitou de acabar, porque estaria na discussão de certeza”.

“Hoje, foi homem a homem, e fui mais forte”, declarou.

O diretor desportivo dos ‘dragões’, Nuno Ribeiro, deu os parabéns ao seu corredor, que junto com o espanhol Gustavo Veloso, terceiro, eram “as apostas” depois da lesão de Raúl Alarcón.

“Disse, no final da Volta ao Alentejo [que João Rodrigues venceu], que seria um favorito a ganhar, se não este ano, nos próximos. Com a infelicidade do Raúl, teve uma oportunidade ainda maior. Aproveitou-a e bem”, afirmou.

O diretor escusou-se a comentar a possibilidade de o corredor de 24 anos sair para uma equipa no estrangeiro, dizendo apenas que deve “escolher o melhor para ele e fazer a melhor gestão de carreira”.

“Se conseguir uma equipa que lhe dê satisfação e para que evolua no futuro, será importante para ele e o ciclismo português”, atirou.

Por seu lado, João Rodrigues não quis comentar uma possível saída, por não estar “a pensar na próxima época”, mesmo assumindo a possibilidade de correr noutro sítio. “Poderei ter, ou não, outras oportunidades, depois deste grande feito”, referiu.

Quer “defender as cores da W52-FC porto até ao fim”, dando “tudo na estrada”, e por agora vai “desfrutar o momento” que faz dele uma ‘estrela’ na aldeia perto de Tavira de onde é natural.

“Não há ninguém famoso lá, mas acho que agora vou ser o mais conhecido de Faz Fato”, brincou.

 

João Rodrigues, o algarvio que se impôs dentro e fora da equipa para vencer a Volta

 

O português João Rodrigues (W52-FC Porto) veio de Faro para se afirmar, aos 24 anos, como o mais forte ciclista do pelotão nacional, conquistando a 81.ª Volta a Portugal em bicicleta a pedir ‘voos’ maiores na carreira.

O mais novo dos três candidatos, a par do líder Jóni Brandão (Efapel) e do ‘veterano’ espanhol Gustavo Veloso (W52-FC Porto), acabou por ser o mais forte, numa vitória ‘anunciada’ por bons resultados nos últimos anos.

Em 2018, e depois de ter ficado de fora da edição de 2017 por uma infelicidade, arrancou um sétimo lugar, então dentro da ‘armada’ do bicampeão espanhol Raúl Alarcón, ao lado de Veloso.

Esta temporada, foi na zona sul do país, por onde a Volta a Portugal pouco passou, que começou por se evidenciar, ao ser nono na Volta ao Algarve entre o pelotão WorldTour e vencer a Volta ao Alentejo com autoridade.

Os bons resultados deixaram-no à porta de novo ‘brilharete’ na Volta, mas esperava-se, então, que fizesse parte da equipa que levaria Alarcón a um ‘tri’. O chefe de fila caiu no Grande Prémio Abimota e a ausência da prova abriu-lhe as portas.

Ainda assim, a presença do ‘veterano’ Veloso na equipa, que vestiu a amarela por cinco dias, podia ter-lhe tapado a ascensão, apesar da amizade entre os dois corredores, evidenciada dentro e fora da estrada.

Na Torre, na quarta etapa, brilhou, ao vencer à frente do colega de equipa mais experiente, numa vitória que já bastaria para o inscrever nas páginas de glória da Volta, e o segundo lugar manteve-se até ao fim.

Na nona etapa, na subida à Senhora da Graça, foi segundo e ganhou um segundo ao camisola amarela Jóni Brandão, colocando-se a 41 centésimos da liderança numa Volta disputada como nunca até ao fim.

No contrarrelógio, acabou por se mostrar mais forte que o rival e vencer, após uma prova em que os seus dois lados foram sendo revelados ao público e aos jornalistas, fruto da forma autêntica como reagia aos resultados.

Vindo de Tavira, impôs-se a adversários pela geral dentro e fora da equipa, numa W52-FC Porto apostada em não abrir o jogo sobre o real líder, e bateu Jóni Brandão na edição mais disputada e equilibrada dos últimos anos, como destacou por várias vezes, apontando para as "forças muito igualadas" dos principais nomes, mesmo que alinhasse na 'onda' da equipa em isolar Brandão como o grande candidato.

O João sorridente da Torre, após a “maior vitória da carreira”, dava lugar a um João cabisbaixo e com ar de ‘poucos amigos’ com maus resultados, numa Volta ‘nervosa’ e com trocas de ‘galhardetes’ sobre quem seria o real candidato.

Na nona etapa, tanto João como Jóni prometeram correr “à morte” o ‘crono’ do Porto, e foi nesse esforço de 19,5 quilómetros a fechar a ‘maratona’ que se revelou como o vencedor da 81.ª edição, agora a pedir ‘voos’ maiores aos 24 anos.

O algarvio começou por correr nas equipas de Tavira e foi nos ‘dragões’ que deu o salto qualitativo, ‘explodindo’ em 2018 e confirmando, em 2019, o potencial de vencedor que lhe vinham apontando ao longo dos anos.

Até final, sempre se mostrou humilde e foi apontando “um dia de cada vez”, elogiando Veloso e mostrando a vontade de “chegar à vitória final”. “Não queremos dar espetáculo, queremos ganhar a geral”, disse, após a Torre.

“Já sonhei bastante em vencer, mas até isso se realizar era uma diferença grande. Esta e a Senhora da Graça são etapas que se adaptam às minhas características. É o culminar de muito trabalho, tenho de agradecer aos meus companheiros”, dizia, após a subida da Serra da Estrela, numa citação que bem se pode aplicar à vitória na Volta a Portugal.

 

Lusa/fim