Rui Mogo, Presidente da Junta de Freguesia de Boliqueime, entrevistado no programa “Olha que Dois”, com Nathalie Dias e Vítor Gonçalves.
Leva já 10 anos como Presidente da Junta de Freguesia de Boliqueime. Curiosamente, fez parte das listas do PS (dois mandatos) e do PSD (atual). Por esse motivo, não resisto a perguntar-lhe: com qual se deu melhor?
Rui Mogo - Durante os anos que passei nas listas do Partido Socialista, tive sempre um entendimento ótimo com o executivo municipal, que na altura era PSD, mas mesmo assim tive sempre a porta aberta. Mas mais importante que isso eram as obras que se iam fazendo na Freguesia de Boliqueime. Como apanhei o primeiro e o segundo mandato ao meio, já lá vão 14 anos como presidente e sinceramente tive muitas facilidades, houve muitas obras e investimento em Boliqueime. Refiro-me, em primeiro lugar, ao saneamento básico, no qual foi feito um investimento de milhões. As pessoas muitas vezes não se apercebem disso mas já existe água e esgotos. Na zona da Patã, Agostas-Malhadais, Cabo e Benfarras, Vale de Covo e Maritenda, as infraestruturas já estão colocadas, apenas o saneamento básico ainda não está ligado por motivos que se prendem com a requalificação da EN 125. Obviamente que não está tudo feito, mas o investimento que fizemos foi muito grande. Voltando à questão inicial, houve de facto um excelente relacionamento com o executivo municipal, que fez investimento e apostou na freguesia. Passando à situação contrária, estando eu nas listas do PSD e a Câmara Municipal sendo PS, posso dizer que o investimento na freguesia é zero. Sabe-se que o executivo não tem investido muito, apesar de ter 40 milhões de euros em caixa neste momento e de ter liquidado o que estava para liquidar. E os planos não preveem investimentos nem no Concelho nem na Freguesia de Boliqueime. Existe e ficou por concluir uma conduta de saneamento básico ao longo da EN 125, concretamente entre a Maritenda e o desvio das Benfarras, que vai atingir 60 moradias e casas comerciais, o que não foi concluído na altura pelo simples facto de estar prevista a requalificação da EN 125. Havia um projeto inicial, mas ele não teve pernas para andar devido às dificuldades que o país atravessou e porque era um projeto megalómano e trazia quatro faixas para a zona de Benfarras. As pessoas manifestaram-se contra, o que levou a Estradas de Portugal a um impasse e o projeto não avançou. Essa é uma conduta única e tem dois quilómetros de extensão.
Apesar da sua pequena dimensão, a Freguesia de Boliqueime tem uma razoável quantidade de instituições sociais, desportivas e recreativas. Estão todas ativas e cumprem o seu papel para com a sociedade onde se inserem?
R.M. – Todo o Concelho de Loulé é rico em associações. No caso concreto de Boliqueime, a grande maioria está ativa, mas isso não quer dizer que estejam a trabalhar a 100%. Deixou de haver o apoio das entidades responsáveis e hoje em dia não é fácil manter uma associação ou coletividade se não tiver apoios públicos
Que orçamento dispõe para este ano?
R.M. – Para este ano dispomos de um orçamento que ronda os 300 mil euros. É menor que o de anos anteriores e tem vindo sempre a decrescer.
Durante as autárquicas de 2013, prometeu que iria fazer tudo para resolver a situação do saneamento básico (água e esgotos). Já viu a luz ao fundo do túnel?
R.M. – Eu nunca prometo nada às pessoas, não só capaz de prometer algo no ato eleitoral que não sou depois capaz de cumprir. Se eu sei de antemão que o saneamento básico não está nas minhas mãos, não me passaria pela cabeça prometer isso. O que nós dizemos sempre é que nos comprometemos a falar com os executivos municipais no sentido de serem colocados águas e esgotos em vários sítios. É essa a nossa intenção e forma de estar com as pessoas. Nós damos sempre a cara e eu ando de cara direita e a minha forma de estar na vida nunca foi dizer que as coisas vão ser pretas quando vão ser brancas.
Para quando a concretização dessas obras de saneamento e que área irá abranger?
R.M. – A Freguesia de Boliqueime é de habitação muito dispersa e eu costumo dizer que estamos num determinado ponto da freguesia e olhamos para a frente e para trás e estamos sempre a ver habitações e por tanto é necessário que haja acessibilidade para isso. As pessoas hoje em dia exigem e estão no seu direito de ter água, mas não é fácil chegar com água e esgotos por toda a freguesia. Como tal, a parte nordeste da freguesia ainda não está infraestruturada devido a essa complexidade habitacional.
E quanto ao apoio aos carenciados, o que já se fez para atenuar essas necessidades?
R.M. – Em relação a essa matéria, nós temos entidades na freguesia responsáveis por isso, como a Santa Casa da Misericórdia, o Centro de Saúde e o Centro Comunitário, que são a resposta a estas situações na área social.
A segurança também fazia parte das suas preocupações durante a campanha. A que tipo de segurança se referia? Rodoviária ou de pessoas e bens?
R.M. – Não há muitos assaltados na nossa freguesia, mas há já alguns anos que temos vindo a realizar uma série de reuniões com vista a criar um posto da GNR na freguesia, mas chegámos à conclusão que é muito complicado devido ao número de efetivos que é necessário e os custos que é necessário cobrir. Não vale a pena ir por aí, até porque se até o posto de Loulé necessita de mais militares, como é que nós iriamos conseguir?
O Rui Mogo veio dizer a terreiro que concordava com a destruição do denominado Poço de Boliqueime tendo em conta que aquilo não representava nada de simbólico para a freguesia. Considera então que o poço não estava lá a fazer nada, bem pelo contrário?
R.M. – As coisas não podem ser postas dessa forma, temos de enquadrar todo o processo. Na minha opinião, aquilo não era o poço verdadeiro de Boliqueime. O poço foi requalificado em 1967: a profundidade do poço foi aumentada, neste momento está com 12 metros de profundidade, aquilo foi tudo rebocado por dentro, foi criada uma laje por dentro de cerca de meio metro de altura e uma dispensa ao lado com quatro torneiras e um contador elétrico lá dentro. Por tanto, o poço estava todo rebocado e isto não é património nenhum. Eu fiz uma reunião, depois de me ter reunido com a RAL, e fui informar a população de que o poço ia ser demolido porque não havia condições de segurança para se meter ali uma rotunda e para a circulação rodoviária. Então, a laje que lá estava vai ser baixada ao nível do solo e vai ser criada uma réplica no centro da rotunda daquele poço que existia há 100 anos em pedra, isto para manter o simbolismo, que é o mais importante.
Vítor Aleixo discorda que as Infraestruturas de Portugal estejam a avançar com obras na EN 125 sem terem feito qualquer diligência junto da Câmara de Loulé, no sentido de saberem se o município iria arrancar entretanto com obras de saneamento básico. O caricato é que por essa falha as obras nessa via irão ficar prontas e, logo depois, a autarquia de Loulé vai ser obrigada a abrir novas valas, destruindo o pavimento, para fazer passar as tubagens do saneamento. E assim vai o nosso dinheirinho para o boneco, por falta de diálogo e entendimento dos organismos do Estado. Que opinião tem sobre esta triste história?
R.M. – Agradeço a sua questão, é muito pertinente e importante. Tenho 19 anos ligado à Freguesia de Boliqueime e tenho que conhecer a minha freguesia e conheço-a muito bem. Quando se começa a falar da requalificação, eu sou um dos primeiros a dizer que é necessário colocar o saneamento básico antes dessa requalificação da EN 125. Há uns meses, quando se voltou a falar deste assunto, alertei a Câmara Municipal para terem esse cuidado quando avançassem com as obras e falei também das rotundas devido ao saneamento básico. O diálogo existe e ele é feito no local certo. Eu pedi uma reunião com o Presidente da Câmara, mas ela ainda não foi concedida, mas seria aí que iriamos falar destas coisas e de outras, mas como não tenho essa possibilidade de reunir com o Presidente da Câmara, acabei por fazê-lo em Assembleia Municipal e isso está gravado e em ata. Há um diálogo aqui, nem que seja só de uma parte para a outra.
Faltam menos de dois anos para terminar o seu mandato, o último dos três possíveis. O que gostaria de ver concretizado até lá?
R.M. – Gostaria de ver o saneamento básico colocado em toda a freguesia, de ver todas as acessibilidades em termos de alcatrão construídas e estou a acabar um parque de estacionamento, que tenho vindo a pedir à Câmara há já algum tempo e que demorou três anos para ser concluído, e por tanto também gostaria de o ver terminado. Também são necessários alguns melhoramentos dentro da freguesia no que diz respeito às suas duas principais ruas que necessitam de um tratamento urbano e pavimentação, estacionamentos e iluminação pública e é uma vergonha que a situação esteja como está. Não há intervenção e é buracos atrás de buracos. Todos os anos, apresento estas necessidades para a freguesia e até aqui nada. Na última conversa que tive com o vice-presidente da Câmara sobre esta matéria, ele disse-me que o mandato são quatro anos e por isso ainda faltam dois anos.
Já tem planos para quando pendurar as botas como Presidente de Junta ou vai prepará-las para outros voos?
R.M. – Vou acabar o mandato com 58 ou 59 anos, é natural que quando termine o mandato saia. Mas toda a gente sabe que eu tenho uma ligação especial ao turismo.
Esta entrevista foi realizada por Nathalie Dias e Vítor Gonçalves no Programa “Olha que Dois”, uma parceria da “Total FM” com “A Voz de Loulé” emitido no dia 02 de março.
Oiça aqui esta entrevista.
Outras entrevistas em direto, às quartas-feiras, pelas 10h da manhã, no programa “Olha que Dois”, nos 103.1 e 104. da Total FM e nos 94.6 da Sagres FM.