O Presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, Vitor Guerreiro, esteve no programa “Olha Que Dois”, onde fez um balanço do seu mandato e falou da preocupação em relação a um dos projetos que mais polémica tem gerado no Concelho: o Centro de Medicina e Reabilitação do Sul. A entrevista foi conduzida por Nathalie Dias e Victor Gonçalves.
São Brás de Alportel tem 10.662 habitantes, 5.743 deles têm entre 25 e 64 anos e 2.383 têm mais de 65 anos. É, portanto, uma população a caminho do envelhecimento. O que tem o seu executivo feito para contrariar esta realidade?
Vitor Guerreiro - Felizmente, o Concelho de São Brás de Alportel não tem sentido um decréscimo da população, o que é bastante positivo nos tempos que correm. No entanto, existe um êxodo em relação à população que vive na parte mais serrana do nosso Concelho, isto porque é uma população mais idosa e a mortalidade vai-se acentuando mais nestas regiões. Mas o Concelho de São Brás de Alportel foi dos que mais cresceu em termos de população nos últimos censos. Temos uma média de 100 nascimentos por ano, o que é bastante positivo, e a mortalidade anda também muito à volta disto. 100 crianças a nascer por ano significa que nós conseguimos captar casais jovens para o nosso Concelho e nos últimos anos têm sido muitos aqueles cujas famílias têm origem em Loulé, Faro ou Olhão e que procuram São Brás de Alportel para residir. Brevemente, vamos lançar uma medida de incentivo à natalidade, ou melhor, um prémio ou brinde para cada criança que nasce: vamos atribuir um vale de compras para o bebé no comércio local, nas lojas que têm bens de puericultura, ajudando também a economia local.
Relativamente aos mais idosos, estes acarretam a cada dia que passa maiores preocupações para os autarcas, que lidam em proximidade com eles. O que é que o seu executivo tem feito para minimizar as carências e necessidades dos mais idosos?
V.G. – Essa é uma matéria que merece toda a nossa atenção, tal como todos os assuntos que digam respeito à qualidade de vida da população, mas os idosos em especial porque se encontram numa situação mais frágil. Desde há alguns anos, a Câmara Municipal e a Junta de Freguesia lançaram um projeto, o “Seniores em Movimento”, onde colocamos os seniores a praticar exercício físico, o que tem tido resultados excelentes, quer na sua condição física quer no estado psicológico, porque o convívio é fundamental. As pessoas estão mais felizes, não se preocupam tanto com as possíveis doenças e têm mais qualidade de vida com isso. Temos o nosso gabinete de ação social, que tem também o gabinete de psicologia e acompanhamento sénior, que acompanha em especial aqueles que não têm familiares por perto. Vamos criando uma ligação muito próxima com as pessoas também relativamente às questões de saúde, que não é uma competência direta das autarquias, mas obviamente que é da responsabilidade dos autarcas ter em atenção esta matéria. Temos um protocolo com o Centro de Saúde, em que a autarquia tem uma unidade móvel que percorre, duas vezes por mês, todos os sítios do Concelho com um enfermeiro, disponibilizado pela Administração Regional de Saúde, o Centro de Saúde de São Brás, que vai visitar os seniores, tirar dúvidas, acompanhar e dar aconselhamento.
Promovem a sua movimentação em excursões, atividades desportivas, culturais ou oficinais?
V.G. – Exatamente. Nós temos um programa de passeios durante o verão e levamos todos os seniores a visitar a região. No ano passado visitaram Ferreira do Alentejo e também já foram para muitos outros sítios, como Beja ou Lisboa. São cerca de 1000 seniores que vão ao teatro e passear todos os anos.
Como está São Brás servida em termos de centros de dia e lares?
V.G. – São Brás vai conseguindo dar resposta. Temos aqui um trabalho muito importante que vai sendo feito pela Santa Casa da Misericórdia de São Brás, quer para o centro de dia quer para o lar com internamento. Não existe a capacidade de resposta na totalidade, como gostaríamos, mas esse é um problema que penso que deva ser transversal à região. Não existe o número de centro de dia e lares que seria necessário para dar resposta à população. No entanto, o acompanhamento das equipas quer do Centro de Saúde quer da Misericórdia, com o apoio da Câmara, acaba por dar um acompanhamento na totalidade a todas as pessoas que necessitem, até em cuidados de enfermagem, na sua residência.
A Câmara Municipal de São Brás dá apoio à população disponibilizando transporte. Também faz isso para outras atividades fora do Concelho?
V.G. – Naturalmente que a prioridade vai sempre para os nossos munícipes e tentamos dar uma resposta na totalidade às coletividades, escolas, educação e seniores em termos de capacidade de transporte. Fizemos um investimento grande nestes últimos meses para adquirimos três autocarros mais pequenos e um de 52 lugares porque é fundamental proporcionar às crianças que estão nas nossas escolas experiências diferentes. As visitas de estudo, para mim, são importantes para a aprendizagem e aumento das capacidades cognitivas das crianças. Temos que ter sempre capacidade de dar resposta e é isso que estamos a proporcionar. Para a prática do desporto e a cultura tem sido feito um trabalho excecional pelas nossas associações. Só podemos ter uma comunidade a participar se aproveitarmos o espirito de voluntariado destas pessoas que estão nas coletividades e à Camara compete dar as condições possíveis, que passam pelo transporte necessário para as suas deslocações e participações.
A propósito da polémica sobre o anúncio da intenção do lançamento do novo concurso para a concessão da gestão do Centro de Medicina e Reabilitação do Sul (CMR Sul), os sociais-democratas apontam-lhe o dedo por não pressionar o atual Governo e os seus correligionários socialistas culpam o anterior Governo pelo enrolar da situação. A que se deve essa necessidade de se estar a pedir uma nova gestão para esta unidade de saúde, estando ela sob a gestão da ARS Algarve?
V.G. – Essa é uma questão muito importante para a região e para o nosso país. Em relação a essas polémicas entre partidos políticos, eu penso que quando nós estamos numa autarquia e temos que defender os interesses da população, temos que olhar para aquilo que é importante para as pessoas e deixar de olhar para os partidos. Eu não olho para o partido A ou B para defender os interesses da população, eu estou cá e fui eleito para fazer aquilo que é importante para São Brás e dar o meu contributo para melhorar a qualidade de vida e o mundo que me rodeia. É essa a minha filosofia. Fui sempre bastante incisivo na minha preocupação em relação ao mau funcionamento do CMR Sul. Aliás, logo na primeira semana que o CMR Sul deixou de ter uma administração público-privada e passou para a ARS, eu pedi uma reunião ao diretor da ARS a transmitir a minha preocupação em relação ao CMR Sul. Na altura não havia problemas e foi-me garantido que ia continuar a funcionar em pleno, como sempre. O que verificámos foi que começaram a sair enfermeiros, não foram abertos os concursos, pelas contingências de contratação de pessoal e do que a lei obriga. Mas a lei é feita pelas pessoas que estão na Assembleia da República, pelos políticos e todos nós temos o dever de alterar as leis que não se adaptam aos interesses da população. Foram embora porque as condições deixaram de ser as mesmas, o que é natural. Uma gestão público-privada poderia dar determinados prémios e regalias aos funcionários que a administração pública não podia dar. Depois começaram também a existir constrangimentos de medicação, dificuldades para terem condições de trabalho, o que desmotiva as pessoas que lá estão em relação à incerteza do futuro. Eu fui sempre acompanhando, marcando reuniões e visitas e sensibilizando o Ministro, tendo tido na altura uma reunião em Lisboa com o Sr.º Ministro da Saúde e alguns colegas meus sobre matérias importantes para o Algarve, como o Centro Hospitalar e outras. Assim que o Governo socialista tomou posse, dando algum espaço para as pessoas conhecerem os dossiês, assinei o ofício para o Sr.º Ministro da Saúde mostrando toda a minha preocupação com o Centro de Medicina. O Sr.º Ministro respondeu-me duas ou três semanas depois dizendo que tomou nota e que iria acompanhar o processo. Quando o Sr.º Ministro veio cá para a tomada de posse da nova direção do Centro Hospitalar, voltei a entregar uma cópia desse ofício em mão, com mais um ofício onde transmiti todas as minha preocupações na área da saúde nos cinco municípios onde o ACES central está e as dificuldades que existem, isto depois de falar com a direção dos cinco centros de saúde dos cinco concelhos. Dei duas folhas A4 com uma série de dificuldades e constrangimentos que existem na falta de respostas para a saúde. Em resposta, o Sr.º Ministro disse que ia resolver algumas situações, que para mim seriam de fácil resolução visto que havia ordens do Sr.º Ministro para a não adjudicação e não fazer ajustes diretos para determinados (…) consumíveis ou de manutenção dos edifícios que seriam urgentes e, para mim, fáceis de resolver, como as viaturas que estavam paradas no Centro de Saúde de Faro por falta de manutenção. Essas coisas acabaram por ser resolvidas mais ou menos de imediato, mas há aqui questões de fundo a que eu vou continuar atento e a batalhar, porque ainda há muito por fazer. Em relação ao Centro de Medicina, o Sr.º Ministro disse na frente de todos os Presidente de Câmara que iria encontrar imediatamente uma solução e, se a solução fosse a mais indicada, iria abrir novamente o concurso internacional para uma gestão público-privada.
Quantos anos irá esse processo durar?
V.G. – Eu acredito que um processo destes demora normalmente um ano ou um pouco mais. Mas há uma questão que é muito importante e fundamental. Este é o primeiro passo – abrir o concurso e esperar que vá a bom porto – no entanto, cabe à ARS, que neste momento é que tem a gestão e vai ter até este processo ficar concluído, criar as condições para que aquele centro volte imediatamente a funcionar a 100% no total da sua capacidade.
E isso está previsto para quando?
V.G. – O Sr.º ministro deu a boa notícia, na semana passada, de que iria abrir o concurso e penso que deverá ser esta semana ou na próxima, porque já tinha revisto o caderno de encargos. No entanto, vou ter uma reunião com a diretora do Centro de Medicina para voltar a insistir e pedir uma reunião ao Sr.º Ministro para resolver imediatamente algumas questões, nomeadamente a falta de enfermeiros, que neste momento é a maior necessidade, tal como a falta de administrativos, mas no caso dos fisioterapeutas penso que a situação está resolvida. O que pretendemos é que o Centro de Medicina volte à sua capacidade de tratamento em internamento de 100% e penso que a consulta externa já está perto dos 100%. No entanto, nunca foi colocada em causa a qualidade da prestação dos cuidados de saúde naquela unidade.
Que serviços presta o CMR Sul?
V.G. – É uma unidade de referência internacional na reabilitação. Tem um sistema de trabalho bastante intensivo com o doente durante a recuperação. São essencialmente doentes com problemas cardiovasculares, acidentes de viação ou outros que afetem a medula e tem excelentes resultados, com referência internacional nos resultados que tem alcançado. Gostava de felicitar a grande capacidade de gestão da Dr.ª Arminda, a diretora do Centro de Medicina, que tem lutado de uma forma extraordinária para manter aquela unidade a funcionar, bem como todos os colaboradores que têm sido extraordinários.
O maior empregador de São Brás de Alportel é o município. Escasseando a atividade económica, os são-brasenses mais jovens são obrigados a sair da sua terra para trabalhar e viver noutros concelhos do litoral. O que tem o seu executivo feito para inverter a situação?
V.G. – Eu penso que o essencial é darmos uma dinâmica à economia e tentarmos captar o turismo, que já tem expressão em São Brás de Alportel. Temos apostado no turismo de natureza, que é fundamental e tem criado novos nichos de mercado e empregabilidade. Temos também tido jovens que vão inovando e trabalhando na sua terra e é extraordinária a capacidade que têm de se adaptar tão bem e contrariar a crise e a falta de emprego. Da parte da autarquia, temos o gabinete de apoio ao empreendedor, com um técnico superior com conhecimentos nesta área, que ajuda a abrir portas e diálogo com as entidades regionais para incentivar os jovens, e não só, a criar o seu emprego e postos de trabalho. A aposta que temos feito nas acessibilidades dentro do próprio Concelho, com o anel de circulares completo, ajudou a que São Brás se tornasse apetecível também pela forma como se circula. Posso dar o exemplo de uma empresa com cerca de 60 trabalhadores, que estava no Concelho de Faro até há dois ou três anos, e foi fixar-se em São Brás porque achou que ali tinham qualidade de vida. É uma empresa que exporta para mais de 20 países a sua produção ao nível de material eletrónico. Tornar São Brás atrativo passa também pela forma positiva que temos perante a nossa localização e situação face aos demais Concelhos. São Brás está excelentemente localizado, estamos no centro do Algarve e somos servidos por um aeroporto internacional a 20 minutos de São Brás de Alportel. Uma outra batalha que eu tenho com o atual Governo, e que já tinha com o anterior, embora não tenha sido ouvido quer pelo anterior quer pelo atual, independentemente da carta que enviei ao Sr.º Ministro a pedir uma reunião, que remeteu para o Sr.º Secretário de Estado, e que ainda não obtive resposta. A requalificação da EN 2 são apenas oito quilómetros de curvas entre o nó da Via do Infante de Faro e São Brás de Alportel, no entanto penso que essa estrada tem um traçado feito há mais de 50 anos e hoje é possível retificar muitas das curvas, criar uma zona de faixa de lentos e criar uma rotunda no nó Faro – Via do Infante – São Brás de Alportel, que iria melhorar muito a acessibilidade. Ainda não tive oportunidade de ser recebido pelo Sr.º Secretário de Estado ou pelo Sr.º Ministro, mas não me vou acomodar porque o Governo é do PS. Vou incomodar quem tiver que incomodar.
Devido à crise algumas autarquias tiveram mesmo que recorrer a empréstimos para fazer face às suas responsabilidades a curto, médio e longo prazo. O município de São Brás de Alportel também sentiu algumas dificuldades ou passaram-lhe ao lado?
V.G. – Nós sempre fomos habituados a viver em dificuldades. Sempre fomos pobres e quando o somos gerimos muito bem cada cêntimo (risos). Olhamos primeiro para o dinheiro que temos e só depois decidimos o que vamos fazer e não o contrário. Isso faz com que São Brás de Alportel tenha uma boa saúde financeira e, naturalmente, é com muito orgulho que digo isto. Sempre foi apanágio de São Brás de Alportel esta boa gestão financeira e sempre tivemos muito orgulho nisso. Estamos com as nossas finanças bastante saudáveis.
Qual é o orçamento para este ano?
V.G. – Cerca de 12 milhões de euros, idêntico ao do ano anterior. Posso dizer que fechámos as contas de 2015 sem qualquer dívida e com um saldo conta de gerência na ordem dos 900 mil euros, o que é muito bom. Não podemos, naturalmente, fazer tudo o que gostaríamos, mas devemos fazer aquilo que é prioritário e essencial para a qualidade de vida da nossa população e mantendo sempre esta estabilidade financeira ganhamos muito com isso. Quando abrimos concursos para prestação de serviços ou fornecimentos no nosso Concelho, os preços baixam muito porque muitas empresas preferem ganhar pouco mas saber que poucos dias depois o dinheiro está na conta. No entanto, é natural que tenhamos sentido alguma crise porque há um decréscimo das receitas, a construção diminuiu e se há uma diminuição nas receitas nós também temos que diminuir o investimento.
As receitas também subiram no ano passado devido ao IMI arrecadado?
V.G. – Subiram um pouquinho, cerca de 20%. É muito pouco para os sonhos que temos para realizar.
Que obras estão previstas para São Brás até ao final do seu mandato?
V.G. – Eu nunca me esqueço do slogan da minha campanha: “As grandes obras do futuro são as pessoas”. É essencialmente aqui que temos que trabalhar. Mais do que uma estrada ou uma avenida, o importante é que a nossa população tenha acesso aos cuidados de saúde, qualidade de vida, pratique desporto, se sinta bem e feliz. Se uma estrada fizer feliz a população, temos que fazer essa estrada, mas temos que apostar acima de tudo no acompanhamento da população e criar condições para que se sintam bem. Nós lançámos algumas medidas, como o apoio à aquisição de material escolar no comércio local, o “Vale + Educação”, que lançámos no ano passado e este ano vamos alargar também ao 2.º ciclo, no valor de 30€ por criança. Este tipo de medidas são muito importantes para que a população sinta algum apoio e para dar dinâmica à economia local. Estamos agora a preparar um apoio na área da saúde, com um rastreio no início do próximo ano letivo, numa parceria com os técnicos da Saúde Escolar e do Centro de Saúde. É um rastreio de oftalmologia para as crianças do Concelho e, de acordo com o diagnóstico, iremos depois proporcionar as consultas a quem necessitar, tal como a aquisição dos óculos. Em relação aos idosos, iremos também apoiar na área da oftalmologia, isto porque existe uma lista de espera de um ano e meio a dois anos no Sistema Nacional de Saúde, e a autarquia vai colaborar nesta situação, pois há idosos que precisam de cirurgia e isso muda-lhes totalmente a vida. É algo simples e começam a ver de um momento para o outro. Em termos de grandes obras físicas, eu acredito que também farão felizes a população, darão dinâmica à economia local e tornarão o Concelho mais atrativo. Em relação ao saneamento básico temos ainda muito trabalho por fazer, está neste momento a decorrer uma obra de uma fase, na zona do Peral e no Poço dos Ferreiros, e vamos avançar pela Mesquita e Machados. Iniciámos agora mais uma empreitada de asfaltar caminhos, o que todos os anos fazemos, mas este ano estamos a fazer mais alguns, um pouco por todo o Concelho, que necessitam de colocar tapete e criar condições. Não fica bem ser eu a dizer isto, mas é a verdade, eu convido as pessoas a percorrer as ruas do Concelho, não só da vila mas dos arredores, dos sítios, e acredito que deve ser dos concelhos com melhor rede viária da nossa região. Temos uma obra que vai ser marcante para o futuro do nosso Concelho, que é a sala de visitas, o Largo de São Sebastião, onde está a estátua do nosso poeta Bernardo Paços, cuja última intervenção tem mais de 50 anos e não se adequa aos tempos atuais. Estamos a proceder ao projeto para requalificar todo aquele largo e o primeiro troço da Avenida de Liberdade em frente ao cineteatro. Temos aqui algo que é fundamental e que está relacionado com a questão das acessibilidades e tornar o nosso Concelho acessível para todos aqueles que têm mobilidade reduzida. Isso deveria ser uma prioridade nossa e esta obra do Largo, para além de embelezar os edifícios e criar condições para a população viver aquele espaço, tem, sem dúvida, a questão das acessibilidades.
Em 2017 é ano de eleições autárquicas. Como irá convencer os seus concidadãos a renovarem o seu mandato?
V.G. – Eu sou muito autocrítico e gosto de me colocar no lugar dos outros. Muito sinceramente, no dia em que tomei posse, comecei a campanha. Eu penso que a campanha em si é o resultado do trabalho que fizemos nos últimos quatro anos e tentar chegar à minha população a seis meses ou um ano das eleições, convence-los para votarem em mim, isso não se coaduna com a realidade. Devemos fazer o melhor que podemos e chegar a todos dentro daquilo que são as prioridades e o que é fundamental para o Concelho. Os resultados virão com o trabalho que fizemos nos últimos quatro anos e acredito que a nossa população veja a abertura que existe sempre, porque nós fomos um dos Concelhos pioneiros com o orçamento participativo, que é uma forma de envolver a população na gestão do próprio município. À parte disso, a abertura total que existe da minha parte e dos meus colegas do executivo, da vice-presidente Marlene e do vereador Acácio, faz com que nós tenhamos uma proximidade muito grande com a população, ouvimos as sugestões e as críticas porque nós não somos detentores da razão, todos em conjunto é que fazemos um Concelho melhor. A minha escola fundamental foi como dirigente associativo e eu não me esqueço que, quando ia falar com o Presidente da Câmara José Pires, ia reivindicar pela minha coletividade e batalhar por aquilo em que acreditava.
Não tendo praias, como é que um Concelho do interior consegue atrair turistas?
V.G. – É fácil, muito fácil. Basta mostrar aos turistas e às pessoas que visitam a nossa região as maravilhas que São Brás de Alportel tem e como é bom passar lá uns dias. O convívio com a natureza e o ar puro. Não foi por acaso que se construiu um sanatório no início do século passado em São Brás. Bastava as pessoas terem uma boa alimentação e respirar aquele ar que se curavam as doenças nos pulmões. São Brás tem um grande potencial, com uma grande proximidade ao Aeroporto de Faro, em 20 minutos as pessoas estão em São Brás, são 16 quilómetros. Já foi feita uma proposta para atribuir o nome Gago Coutinho ao Aeroporto porque ele não deveria ser Aeroporto de Faro, está mais próximo de São Brás.
Os estrangeiros costumam escolher a serra para se instalarem após se reformarem nos seus países. Estão a aparecer novos residentes estrangeiros no seu Concelho?
V.G. – Felizmente! Belgas, holandeses e franceses, alguns em idade laboral, mas mais reformados. Existe uma série de benefícios fiscais nestes países da Europa e isso leva-os a procurar Portugal e o Algarve. São Brás tem um espaço que tem captado muitas pessoas, que é o Museu do Traje, que é essencialmente comparticipado pela comunidade estrangeira que vive na região e que dinamiza inúmeras atividades culturais, angariação de fundos e tem um papel social muito importante. Tem dado uma grande dinâmica ao Concelho e tem levado inclusive alguns dos estrangeiros reformados que vivem noutros Concelhos do Algarve a participar nestas atividades e a frequentar o museu e que, por isso, optaram por comprar casa em São Brás. Estes nossos turistas residentes também falam de São Brás e fazem divulgação. São Brás tem uma ótima oferta em termos desportivos, temos piscinas cobertas e acessibilidades que são fundamentais para estas pessoas seniores, porque os outros países do norte da Europa estão sensibilizados para esta questão. Nós temos apostado nisso e tem feito toda a diferença.
O que tem São Brás para dar a degustar aos amantes da boa mesa?
V.G. – Em São Brás temos seguramente uma dúzia de restaurantes de grande qualidade e a base da gastronomia é a cozinha mediterrânica, que é extraordinária. Temos uma doçaria fantástica e a restauração e as fábricas dos bolos assumem um papel importante na constituição de postos de trabalho. A doçaria tem inovado e foram as nossas doceiras que criaram o Bolo de alfarroba, a doçaria de amêndoa e figo. De facto, quem for a São Brás fica muito agradado com a nossa gastronomia e doçaria.
Há no seu município uma tradição festiva, sendo as mais marcantes a Feira da Serra e a Festa das Tochas Floridas. Estas festas ancestrais e tradicionais ainda atraem muitos cidadãos?
V.G. – Sem dúvida que esses são os dois eventos marcantes. Nos últimos anos temos aproveitado a vinda de muitos turistas para mostrar precisamente a nossa doçaria, até porque fazemos a quinzena gastronómica nessa altura para divulgar a nossa gastronomia. São eventos que levam muitas pessoas a São Brás de Alportel e é uma oportunidade para mostrar o que de bom temos. Este ano vamos para a 25.ª edição da Feira da Serra, são as bodas de prata, vamos inovar e por isso mesmo o tema este ano é a inovação, os produtos tradicionais trabalhados ou confecionados de forma inovadora. Felizmente temos muitos jovens que têm inovado e feito uma ligação com os artesãos. Temos um cartaz de qualidade, que começa por envolver as associações e os grupos culturais e depois convidamos nomes nacionais, apostando também na qualidade, diversidade e animação para tentar depois chegar aos vários tipos de público.
Como vai o associativismo no seu concelho?
V.G. – Sem dúvida que é um privilégio ser autarca num Concelho como São Brás, que tem uma população tão participativa. As pessoas envolvem-se nos projetos, gostam de participar em atividades culturais, desportivas e ocupam o seu tempo livre nas muitas coletividades que temos no Concelho. No fim-de-semana temos muitas situações de eventos culturais e desportivos e a autarquia também participa e está presente, porque eu sei o que é estar do outro lado. O associativismo tem muita gente a participar e cabe à Autarquia acarinhar, nem que seja com palavras positivas, mas também com apoio logístico e algum dinheiro, para poderem realizar as suas atividades.
A indústria corticeira tem uma importância não apenas económica mas histórica e cultural no seu Concelho. Apesar de algumas dificuldades, devido à concorrência com outras regiões, ela continua a ter uma forte implementação, havendo no concelho algumas indústrias com boa tecnologia e que estão a exportar para diversos países. Há quem diga que a “melhor cortiça do mundo” é colhida no montado de sobro, na Serra de São Brás de Alportel. Fale-nos um pouco dessa atividade.
V.G. – É uma atividade que tem uma natureza histórica. Eu diria que a criação do Concelho de São Brás de Alportel teve origem na dinâmica e importância económica potenciada pela cortiça. Neste momento, felizmente, existem algumas fábricas que estão a marcar uma posição de notoriedade em termos internacionais, nomeadamente a Novacortiça, que tem apostado no turismo e tem feito visitas guiadas à própria fábrica, e a marca Pelcor, que tem levado o nome de Portugal pelo mundo fora. Temos a vantagem de ter o sobreiral da Serra do Caldeirão, onde é produzida uma das melhores cortiças do mundo, devido às condições meteorológicas. Naturalmente que devemos continuar a insistir para beber vinho e que seja engarrafado e tapados com as rolhas de cortiça natural e defender este produto que é nosso, bem português e natural.
Os últimos fogos que ocorreram no Caldeirão chamuscaram a galinha dos ovos de ouro do concelho - A Cortiça. As vítimas já foram ressarcidas dos prejuízos?
V.G. – Nós tivemos uma resposta pronta da parte da Sr.º Secretário de Estado da Segurança Social, que acompanhou a questão das habitações, do apoio às famílias que ficaram sem casa e na restauração das próprias habitações, em parceria com a Autarquia. Quero aqui agradecer e felicitar o Sr.º Secretário de Estado e o Sr.º Ministro da altura que acompanharam e deram uma resposta rápida. Um sobreiro leva cerca de 40 anos até voltar a ter cortiça com qualidade, o que levou alguns proprietários com mais idade a baixarem os braços e ficar desmotivados. Mas São Brás é um pouco diferente, porque existia algum poder económico e conforto para os reformados visto que, de nove em nove anos retiravam cortiça. Bastava ter meia dúzia de sobreiros e já tinham ali um rendimento de nove em nove anos. Muitos perderam isso e ficaram afetados.
Foram implementadas algumas defesas para que de futuro, em caso de fogo, ele não atinja as proporções dos anteriores?
V.G. – Nós temos feito investimentos nesta matéria. Esse foi um fogo com características muito próprias que tomou as proporções que tomou. Nós temos as linhas de contenção de combustível e é limpo cerca de 100 metros de linha ao longo de alguns percursos na serra, temos investido bastante na melhoria dos caminhos corta-fogo porque permite que as pessoas limpem os seus terrenos e em caso de incêndio se possa aceder rapidamente aos vários pontos do Concelho. Temos, em colaboração com os bombeiros, nas alturas mais críticas, colaborado para ter uma equipa deslocada na própria serra, em permanência e de intervenção rápida, e isso ajuda a minimizar possíveis situações.
As comunicações e a articulação entre as várias entidades estarão agora mais atentas para que a confusão anterior não se repita?
V.G. – Eu acredito que sim. Todos nós temos que aprender com aquilo que corre menos bem e num incêndio como aquele algumas coisas correram menos bem e todos nós temos de aprender com isso e melhorar toda essa comunicação para que no futuro as coisas corram melhor.
Na área da educação ou ensino, São Brás está bem servido?
V.G. – Está bastante bem servido. Temos um agrupamento com uma grande dinâmica, um grande envolvimento dos professores e dos auxiliares, temos um parque escolar que está bastante bom. Naturalmente que temos feito todos os anos muito investimento na manutenção desse parque escolar, porque é fundamental mantê-lo em perfeitas condições, no entanto tem uma dificuldade que é a falta de funcionários, visto que ainda estamos impedidos de contratar pessoas para nos auxiliar mais nas escolas. Mas acredito que no próximo ano letivo já possa ter este problema minimizado.
Foi em São Brás de Alportel que nasceu Gago Coutinho, geógrafo, cartógrafo, oficial da Marinha Portuguesa, navegador e historiador - pioneiro na aviação civil, ao fazer a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, em 1922, entre Lisboa e o Rio de Janeiro, conjuntamente com Sacadura Cabral. Os são-brasenses, em geral, têm conhecimento desse feito?
V.G. – Eu gostava de ter assim tanta certeza de que foi lá que nasceu o Gago Coutinho (risos). Existem muitas dúvidas. Dois grandes historiadores que temos no nosso Concelho, o prior Cunha e o padre Afonso, que têm feito um trabalho extraordinário a aprofunda a nossa história local, mas ainda não conseguiram chegar a essa conclusão. Não temos assim tanta certeza, mas espero que se confirmem esses dados e se assim for certamente que temos que fazer um monumento ao Gago Coutinho.
Qual é a sua opinião sobre a importância e relevância dos jornais locais e regionais para a população?
V.G. – Os meios de comunicação são fundamentais para podermos comunicar e informar a população. Uma população informada acaba por dar um contributo mais positivo na gestão do próprio território e na organização de tudo aquilo que nós queremos fazer para a população. Naturalmente que eu lamento que muitos órgãos de comunicação tenham encerrado por falta de apoios e por uma série de contingências da legislação, que criaram muitas dificuldades. Lamento também que o Estado não crie condições para que os órgãos de comunicação de âmbito nacional possam estar na região e também cabe a nós autarcas manifestar essa importância. Nós queremos comunicar e temos forma de o fazer, por isso eu louvo a forma como trabalham todos os dias para informar a população.
Esta entrevista foi realizada por Nathalie Dias e Vítor Gonçalves no Programa “Olha que Dois”, uma parceria da “Total FM” com “A Voz de Loulé” emitido no dia 6 de abril.
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