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Escadarias da sede da Galp foram palco de «aula» contra prospeção

11:33 - 19/05/2018 ALJEZUR
Uma «aula» sobre alterações climáticas teve hoje como «sala» as escadarias da sede da Galp Energia, em Lisboa, numa iniciativa do movimento Climáximo contra a prospeção de petróleo ao largo de Aljezur pela petrolífera portuguesa.

A 'lição', dada pelo biólogo marinho Gil Penha-Lopes, da Faculdade de Ciências de Lisboa, teve como 'alunos' 50 pessoas, algumas empunhando, sentadas, cartolinas coloridas em que se lia "Galp não entende as alterações climáticas" ou "Não furem o nosso futuro! Sol, marés e vento, petróleo para quê?".

Por detrás dos 'alunos', uma outra plateia, 13 polícias, que, além de terem assistido à 'aula', barraram a entrada de participantes e organizadores da iniciativa no interior do edifício da empresa onde se pretendia que acontecesse a palestra.

"Muito bem preparados contra a ciência", ironizou Sinan Eden, ativista do Climáximo, movimento contra a exploração de gás e petróleo, dirigindo-se aos agentes da PSP que se perfilavam à porta da Galp Energia.

Não podendo entrar, as pessoas sentaram-se nas escadarias e, durante meia hora, ouviram a 'lição', empunhando também, algumas delas, telemóveis com que filmaram o momento, para espalhar a 'mensagem' pelas redes sociais.

A iniciativa do movimento Climáximo, à qual foram indiferentes funcionários da Galp e transeuntes, aconteceu dois dias depois de ser conhecida a decisão da Agência Portuguesa do Ambiente de isentar a prospeção de petróleo ao largo de Aljezur, no Algarve, de Estudo de Impacte Ambiental, por falta de "impactos negativos significativos".

Gil Penha-Lopes discorreu sobre os malefícios da queima de combustíveis fósseis, como o petróleo, para a sobrevivência do planeta, lembrando que a libertação de mais carbono para a atmosfera conduz ao aumento da temperatura que, por sua vez, leva ao degelo, à subida do nível do mar, à deslocação de habitantes de zonas costeiras, à acidificação dos oceanos e à extinção de espécies marinhas que são a "base da cadeia alimentar".

A esta lista de consequências, o investigador e professor acrescentou os fenómenos meteorológicos extremos, como as ondas de calor, as secas ou as inundações, assinalando que o Sul da Europa, onde Portugal está inserido, é uma das regiões mais vulneráveis aos impactos das alterações climáticas.

No final da 'aula', justificando à Lusa por que acedeu ao convite do Climáximo, Gil Penha-Lopes disse que é "sensível a movimentos cívicos" que exigem das empresas "a alteração de estratégias" em nome do ambiente e da ciência.

João Camargo, ativista do movimento que se apresentou à assistência como um ex-aluno, de facto, de Gil Penha-Lopes, referiu à Lusa que a iniciativa, a primeira de várias que estão prometidas, serviu para enfatizar o "total desprezo" da Galp com "a ciência climática" ao "ir à procura de mais petróleo".

Em resposta ao "honrar os compromissos contratuais" invocados na quarta-feira pelo Governo para aprovar a prospeção de petróleo no Algarve pelo consórcio italo-português Eni/Galp, João Camargo instou em frente ao edifício-torre da petrolífera nacional o "honrar o planeta".

"Fora, fora daqui petróleo, gás, Galp e Eni!", exclamou a assistência antes da foto da 'praxe', com um cão pelo meio, e do último 'grito de revolta': "Não ao furo, sim ao futuro!".

 

Por: Lusa