Testemunhos de acidente com avião da Martinair em Faro em 1992 reunidos em livro

14:00 - 02/05/2019 FARO
O acidente aéreo que há 27 anos matou 56 pessoas prestes a chegar a Faro é o tema de um livro que vai ser lançado em 17 de maio e reúne histórias de sobreviventes, entrevistas e documentos.

Movido pela curiosidade associada à profissão, Pedro Fernandes, responsável de segurança operacional do aeroporto de Faro (Algarve), começou a pesquisar sobre o acidente em 2014, tendo feito várias entrevistas a sobreviventes e outros responsáveis para redigir "A última aterragem".

Na manhã de 21 de dezembro de 1992, a tempestade que se abateu sobre a cidade acabou por revelar-se fatal para 56 dos mais de 300 passageiros que seguiam no voo MP 495 da companhia holandesa Martinair. O acidente deu-se quando a aeronave (um McDonnell Douglas DC-10) estava quase a tocar a pista, provocando também 104 feridos.

O autor disse à Lusa que o livro conta todo o desenrolar do acidente, desde a descolagem da aeronave até às investigações que foram conduzidas para tentar apurar responsabilidades, pontuado pelos testemunhos de intervenientes, exceto da companhia aérea holandesa, que não se mostrou disponível para falar.

Na parte final do livro, Pedro Fernandes tenta avançar com algumas explicações sobre as causas do acidente.

Na altura foi reconhecida em tribunal a ausência de culpa do comandante do voo da transportadora holandesa, que hoje apenas opera com aviões de carga e é subsidiária da Air France-KLM.

Pedro Fernandes considera que poderão ter sido cometidos erros na gestão de risco, "mas não erros de negligência, uma vez que o compromisso [do comandante] foi total na tentativa de aterrar em segurança". Contudo, decidiu prosseguir com a aterragem mesmo perante uma "indefinição de circunstâncias".

Perante o perigo de fortes rajadas de vento, o comandante da aeronave decidiu aterrar, poucos minutos depois de outro avião da mesma companhia ter conseguido pousar em segurança em Faro.

O autor do livro fala ainda na possibilidade de problemas técnicos no aparelho, nomeadamente uma avaria no segundo motor, que era conhecida da tripulação e que reduziu a capacidade de travagem do avião.

"Como sabia que tinha menos capacidade de travagem, [o piloto] sabia que tinha que tocar no início da pista, mas, para isso, tinha de voar mais baixo e mais lento, o que o deixou mais vulnerável", referiu Pedro Fernandes.

Depois de arquivado o processo-crime inicial para apurar eventuais responsabilidades no acidente, que correu no Tribunal de Faro, mais tarde, em 2008, correu um processo no Tribunal Administrativo de Lisboa que opunha a Martinair e respetivas seguradoras à ANA - Aeroportos de Portugal e seguradoras, mas o julgamento foi suspenso, a pedido das partes.

O livro "A última aterragem" é lançado no dia 17 de maio, às 17:30, na Biblioteca Municipal de Faro, estando a apresentação a cargo do diretor do Aeroporto de Faro, Alberto Mota Borges.

As receitas da venda do livro, que pode ser encomendado via email através do endereço info@theflyingtiger.pt, revertem a favor da Cruz Vermelha Portuguesa.

 

Por: Lusa