DIOGO RODRIGUES: O PONTAPÉ CANHÃO E O CONTEXTO

14:58 - 23/10/2019 OPINIÃO
Por Luís José Pinguinha | Vice-presidente do Louletano | FUTEBOL | Acompanhando as jovens promessas do Louletano | pinguinhaluisjose@gmail.com

Nome: Diogo Jorge Silva Rodrigues

Ano nascimento: 2005 (5 julho)

 

É uma verdade imutável, apodíctica e universal: na análise a qualquer coisa, a qualquer situação, há que considerar o seu contexto. Não se consegue entender o nosso 25 de abril de 1974 sem, antes, contextualizá-lo na realidade da sociedade portuguesa dos anos 50 e 60 e dos primeiros anos da década de 70 do século passado (aliás, sem esta contextualização nem o famoso refrão sem letra com mais letra que há e a sua razão de ser da forma que é – o da música “Natal dos simples” do saudoso Zeca Afonso – é compreensível).

Como, igualmente, e sem a análise dos contextos em que se inserem ou em que se inseriram, não se compreenderá a Revolução Francesa de 1789; não se compreenderão as duas Guerras Mundiais; não se compreenderão os atentados terroristas consubstanciados em ataques suicidas coordenados pela organização fundamentalista islâmica Al-Qaeda em 11 de Setembro de 2001 contra os (e nos) Estados Unidos; não se compreenderá a visão apaixonada e em sintonia com os seus adeptos que a administração do Liverpool tem do futebol, contrastando com a visão mais mercantilista da, por exemplo, administração do Real Madrid e nem se compreenderá o porquê do ex- Louletano e natural de Loulé, Manuel Mendonça (atualmente capitão dos Iniciados do Sporting) ser uma das maiores promessas do futebol português da geração de 2005.

Também nascido em 2005, e amigo pessoal do “Manel”, de quem foi companheiro de equipa, é Diogo Rodrigues, conhecido nos meandros futebolísticos como Canhão.

Para além de outros predicados futebolísticos, Diogo Rodrigues tem como imagem de marca a potência do seu pontapé, um autêntico pontapé-canhão. Tal capacidade proporcionou-lhe ao longo da sua carreira no Futebol 7 alcançar imensos golos e obrigava os adversários a terem uma redobrada atenção com os seus movimentos, bem como, e igualmente, um assumido e justificado receio da violência dos seus disparos.

Hoje, sendo Iniciado de 2º ano, fazendo parte integrante da equipa de Iniciados do Louletano DC que disputa o Campeonato Nacional da categoria, o contexto é diferente. Forte fisicamente e voluntarioso, Diogo Rodrigues, alinhando no meio campo, denota assinalável inteligência no que ao entendimento do jogo diz respeito, é rigoroso a defender, fechando bem os espaços, evitando, assim, que o adversário utilize a zona central do terreno para atacar. Com boa visão de jogo e colocando bem a bola à distância, Diogo é também muito útil no processo ofensivo da equipa, e ainda melhor seria se, quando imprime velocidade, conseguisse conduzir a bola mais perto do pé.

Mas é no capítulo do remate que a mudança de contexto é mais evidente. É a mudança do Futebol 7 para o Futebol 11. No Futebol 7, e na grande maioria das vezes, ao ultrapassar um adversário a baliza está ali á mercê, isto é, um jogador com a capacidade de remate que o Diogo Rodrigues tem fá-lo e, normalmente, com êxito.

No Futebol 11, e jogando Diogo Rodrigues na zona central do terreno, a realidade é outra. É outro contexto. A bola é diferente (tamanho nº 4 no Fut 7, tamanho nº 5 no Fut 11), a extrema aglomeração de jogadores nessa zona nevrálgica do campo tem o efeito de anular as chamadas “linhas de tiro”, ou seja, as brechas onde surge o caminho (entre o pé de quem remata e a baliza) para a bola andar ou voar, no caso de rematada por Canhão.

Esta diferença de paradigma, o tal contexto, parece-me estar, de alguma forma, a inibir o Diogo Rodrigues de fazer jus ao carinhoso cognome de Canhão. É diferente do Futebol 7? É. É mais difícil ter linhas de remate no Futebol 11? É. Mas a crença de que se é capaz e o acreditar nas nossas potencialidades tem de prevalecer sobre o receio de falhar. Porque desperdiçar um dom como o que Diogo Rodrigues tem (remate fácil, forte e colocado) é um crime lesa futebol.

Até porque, de imediato, a equipa de Iniciados do Louletano, na sua caminhada para disputar o Campeonato da 1ª Divisão Nacional da próxima época, apuramento que se deseja e em que se acredita convictamente, certamente, agradecerá ter esse dom à sua disposição.

E Diogo Rodrigues, “Canhão” para os amigos, se já de si é um jogador deveras interessante, ainda melhor será.