Entrevista | Bruno Maliji apresenta-se em Loulé

15:19 - 27/01/2020 ENTREVISTAS
Lança o «2ª Paragem» num espetáculo intimista no próximo dia 31 de Janeiro no Auditório do Solar da Música Nova

Nascido em Albufeira a 8 de maio de 1978, Bruno Maliji entrou para o mundo da música com 17 anos como baterista, esteve envolvido em várias projetos e bandas, mas foi em 2015 que tudo mudou. Nesse ano Maliji «saltou» da bateria e agarrou-se ao microfone assumindo assim o leme de uma carreira já ela rica em experiência de palco e composição musical.
Em 2018 cumpre-se o seu sonho pessoal com a gravação do seu primeiro trabalho discográfico de temas originais intitulado de aCRUstico.

Jornal A Voz de Algarve– Como e quando despertou para a música? Fale-nos um pouco sobre o seu percurso?
Bruno Maliji –  Basicamente foi numa conversa de café. Estava com dois amigos e colegas de trabalho, um deles tocava baixo (o Nelson) e o outro já tinha tocado guitarra (o Valério), quando de repente um deles disse: «Olha...vamos fazer uma banda. Eu toco baixo, o Valério para a guitarra e tu Bruno...vais p´ra bateria.» E assim foi, nesse mesmo dia fomos à loja de música comprar os instrumentos às prestações. Aquilo acabou por não dar em nada, mas serviu para que o «bichinho» da música entrasse em mim de tal maneira que ainda aqui está e cada vez mais forte. Nessa altura com esses mesmos amigos começámos a ir a concertos (Xutos, Iris, etc.) e fiquei maravilhado com toda aquela atmosfera, sonhando com a possibilidade de um dia tornar o palco o meu habitat natural. Desde aí estive sempre ligado à música quer através de covers e alguns projetos de originais.    

V.A – Qual o significado do seu nome artístico?

B.M. – «Maliji» não surgiu com intensão de ser um nome artístico, mas sim uma espécie de «nome de guerra», algo que de certa forma me motivasse no dia a dia na construção do meu próprio mundo. Se dividirmos ao meio: «Mali» de Malibu «iji» de Fiji e assim se formou a «ilha» Maliji. Uma ilha na qual luto pelo que acredito e por quem eu amo e estimo. O que é certo que o nome pegou e os meus amigos começaram a tratar-me por Maliji dando mais força ao significado que tinha para mim. Mais tarde com as redes sociais, vim descobrir que Maliji é um nome Marroquino, porque de repente comecei a receber pedidos de amizade e até mensagem de Marroquinos a perguntarem-me se era da família. Não deixou de ter a sua graça. 

V.A. – Após o lançamento do seu primeiro trabalho em 2018, intitulado aCRUstico como tem decorrido este desafio?
B.M. –  Quando me meti nesta aventura, sabia mais ou menos ao que ia. Sabia que ia ser um caminho longo, penoso, muitos seriam os buracos e as pedras que iria encontrar, mas como o trabalho não me assusta principalmente quando acredito no que faço, com as devidas cautelas avancei sem hesitar. Fiquei muito satisfeito com o primeiro ano desta aventura. Dos vários locais onde toquei, destaco o Festival Med de 2018, a qualificação para o Programa Masteclass da rádio nacional Antena 1 onde toquei 2 temas do álbum e a entrevista no programa Vozes da Lusofonia dessa mesma rádio onde foi apresentada a maioria das músicas do álbum. Isto veio dar-me força para continuar o caminho de uma forma mais motivante. 

V.A. – O Bruno pode considerar-se o «homem dos 7 instrumentos» já que escreve, compõe, toca guitarra, toca bateria, canta … faz tudo isto como criativo nato ou teve formação musical?
B.M. –  Formação musical a nível académico ou de conservatório não. Tive aulas de bateria durante 1 ano, logo no início do meu percurso. Mais recentemente quando agarrei no microfone tive aulas de canto para tentar perceber melhor como lidar e usar este instrumento «novo» que é a voz, e a guitarra agarrei-me a ela sozinho. Ao nível de escrita e composição não tenho qualquer tipo de formação ou aulas, apenas vêm de mim.

V.A. – Porque o nome «Acrustico»?
B.M. –  Quando me vi agarrado ao meu próprio leme, tocando e cantando, senti uma liberdade criativa de tal maneira que enquanto praticava guitarra, cada acorde novo que aprendia me inspirava para a composição. A cabeça teimava constantemente em criar algo novo. Daí surgiu a vontade forte de realizar um sonho antigo e gravar um disco com as minhas canções foi algo que já não fazia sentido adiar. Inicialmente imaginava um disco tal como queria, com banda, em formato elétrico tal como sonhava. Mas iria ser difícil, pois faltava-me algum conhecimento e as pessoas certas para o realizar. Então, num certo dia fui ver um artista a apresentar os seus temas num bar, conversei com ele, comprei-lhe o CD e a caminho de casa ao ouvir o seu álbum reparei que era um trabalho a solo e em acústico. E porque não fazer algo do género? Só guitarra e voz, a «cru» sem grandes arranjos e como ia ser em acústico foi fácil fazer o trocadilho.

 

V.A. – Quais as suas referências artísticas/ musicais e o que o inspira?
B.M. –  Desde sempre que me lembro de ouvir música em casa, principalmente fado, muito por causa do meu pai, ele que tinha sido fadista em Lisboa antes de rumar ao Algarve. Mas há um episódio ainda fresco na memória, a primeira vez que fiquei realmente em delírio com uma música. Foi a «Maria» dos Xutos, a partir daí ficava sempre por perto do rádio à espera que passasse novamente. Por isso posso dizer que o Xutos e Pontapés e os nossos Iris foram quem de certa forma fizeram-me apaixonar pela música principalmente pelo rock. Mas depois comecei a ouvir mais coisas, como Resistência, Jorge Palma, Rui Veloso por aí fora.
A minha inspiração não vem de nenhum artista ou música em específico, mas sim das pessoas e de acontecimentos. Quando escrevo, normalmente é porque vivi certo acontecimento, ou porque tenho o meu ponto de vista sobre determinado tema, ou porque deparei-me com alguém que me motivou para tal. Tenho canções que escrevi ainda à moda antiga...num guardanapo de papel enquanto estava no café a observar o que me rodeava.

V.A. – Com mais de duas décadas dedicado à música, como vê a evolução musical no Algarve?
B.M. Sinto que está a melhorar, principalmente a nível artístico, temos projetos muito interessantes dos mais variados estilos. Alguns que estão a começar e outros que já deram cartas até fora de fronteiras nacionais o que é de louvar.
No que diz respeito às oportunidades que são dadas aos nossos artistas, até tem havido algum trabalho positivo, nomeadamente aqui em Loulé com um conjunto muito interessante de iniciativas culturais, mas ainda há muita coisa para fazer. Creio que é preciso continuar a apostar mais na divulgação dos espetáculos dos nossos artistas, mas também acho que se deve fazer algo para que o trabalho dos mesmos chegue às pessoas.   

 

V.A. – Como define o seu estilo musical?
B.M. – No aCRUstico apresento-me sozinho só com a guitarra e a voz, mas as músicas foram pensadas para serem trabalhadas com banda em bom rock Português, mas sem esquecer também o formato acústico. O que pretendo com os meus originais é poder dar importância à canção, criar uma história ou mensagem em cada música que faço independentemente do formato em que me apresente.

 

V.A. – Como algarvio, que oportunidades de trabalho pode esperar na região que o viu nascer. Como tem sido esse acolhimento no algarve? E fora do algarve?
B.M. – Tem sido fantástico. Eu adoro o Algarve e quererei tocar sempre que possível «Aqui bem a sul», mas também posso dizer que ambiciono fazer-me à estrada mais vezes e levar a minha música pelo nosso país afora.

 

V.A. – Depois do álbum aCRUstico, para quando um novo trabalho? Teremos novidades em breve?

B.M. – Muito para breve, ou seja, já este mês irei lançar o meu segundo trabalho de originais, desta vez com banda. Este álbum vai-se chamar: 2ª Paragem.

V.A. – E como vai ser o estilo desse novo álbum? É uma continuação do álbum anterior, tem originais? Covers? Ou é algo inovador?
B.M. –  Vai ser um álbum de rock, com uma sonoridade muito genuína e diferenciada. Terá 10 canções de minha autoria, 3 delas pertencem ao álbum aCRUstico e as restantes são inéditas. Neste trabalho decidi convidar a participar em alguns temas outros artistas de áreas distintas do rock como é o caso do Ricardo J. Martins na guitarra Portuguesa, o DJ «Gijoe», Luís Santos (guitarrista dos Iris e Fuza Flowz) e o ator Vítor Correia que declamou um poema numa canção muito especial.

V.A. – Tem percorrido todo o algarve e o País em inúmeras apresentações. No próximo dia 31 de janeiro vai estar no Auditório do Solar da Música Nova, desvende-nos um pouco o que vai ser esse espetáculo?
B.M. –  Este espetáculo vai ser especial porque trata-se do lançamento do «2ª Paragem». Vou apresentar os temas do álbum e irei tocar outras canções do aCRUstico, mas com uma roupagem diferente. Além disso vou contar com a presença dos convidados do disco.

V.A. – Como é o seu espetáculo? Apresenta-se a solo, ou tem banda de apoio?
B.M. –  Vou apresentar-me com a banda e irei ter um momento de «à volta da fogueira» em que de uma forma mais intimista há uma interação com o público. Aliás, é muito importante que o público se envolva no espetáculo, e para tal criei também umas «ilustrações sonoras» para determinados momentos. Ah...e claro, a famosa paragem dos autocarros também sobe ao palco.

Por: Nathalie Dias