O presidente da Câmara de Castro Marim, Francisco Amaral, criticou hoje a delegada regional de saúde do Algarve, Ana Guerreiro, por ter «desautorizado» uma decisão do delegado de saúde local que impedia alojar trabalhadores agrícolas estrangeiros em nove «quartos minúsculos».
A posição do autarca foi hoje avançada pelo município num comunicado.
O documento mostra a sua “profunda discordância” com a posição assumida pela delegada de saúde do Algarve, que contraria a que tinha sido adotada pelo delegado de saúde de Castro Marim, Mariano Ayala, tomada para “salvaguarda da população” do concelho.
Em causa está uma posição tomada pela delegada de saúde regional “ao desautorizar a decisão do delegado de saúde Local” de “não permitir que 38 trabalhadores tailandeses ficassem alojados em nove quartos minúsculos na Azeda (Castro Marim)”, contextualizou o município.
Mariano Ayala considerou que, no referido local de alojamento, “não seriam observadas as mínimas condições higiénico-sanitárias normais” para albergar os trabalhadores, sobretudo quando o país se encontra em “situação de pandemia instalada” devido ao surto de covid-19, precisou esse município do distrito de Faro.
“Aconteceu um episódio idêntico há algumas semanas, em Monte Francisco (Castro Marim), tendo o delegado de saúde local e comandante da GNR de Castro Marim, antes da vinda dos 16 trabalhadores asiáticos, visitado as instalações e concluído que não teriam as condições mínimas para o seu alojamento”, sinalizou a autarquia.
Nessa ocasião, a “empresa responsável acabou por alojá-los noutro concelho, com condições habitacionais mais dignas”, e depois esses trabalhadores “desencadearam um foco de covid-19 entre eles”, realçou a mesma fonte.
O autarca lamentou que o delegado de saúde local, que classificou como um profissional “muito competente, responsável” e respeitador “à risca das indicações da Direção-Geral da Saúde, no sentido do confinamento e do distanciamento social” para travar a expansão da pandemia de covid-19, tenha sido agora “desautorizado pela sua superior hierárquica” do Algarve.
“Por não existirem as condições higiénico-sanitárias mínimas e de combate à covid-19 naquelas instalações e, neste momento, existirem no Algarve instalações condignas, dada a crise hoteleira, para receberem aqueles trabalhadores, este município responsabiliza a autoridade sanitária regional pelo que venha a acontecer com aqueles trabalhadores e com a população local”, advertiu a autarquia desse concelho algarvio, que tem registo oficial de três casos de infeção pelo novo coronavírus.
A Câmara apelou ainda ao coordenador regional nomeado pelo Governo para acompanhar o combate à covid-19, o também secretário de Estado das Pescas, José Apolinário, para que tome “uma posição inequívoca e defensora da saúde dos munícipes de Castro Marim e dos algarvios”, que a decisão da delegada de saúde do Algarve não garante.
Os grupos de trabalhadores agrícolas estrangeiros, na maioria de países asiáticos, têm estado na origem de alguns focos de contágio em concelhos algarvios, numa altura em que se iniciam muitas épocas de colheita de culturas existentes na região, como a de frutos vermelhos.
Tavira ou Faro são concelhos onde já se verificaram surtos entre integrantes de grupos de trabalhadores, que foram depois transferidos dos locais onde estão a residir, junto às explorações agrícolas, para áreas específicas criadas para assistir pessoas em isolamento ou tratamento à covid-19.
Portugal regista hoje 880 mortos associados à covid-19, mais 26 do que na sexta-feira, e 23.392 infetados (mais 595), indica o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), que reporta também a existência de um total de 320 casos e 11 mortos no Algarve.
Lusa