Leonardo Gandelman, CEO do Linha Direta App, explica-nos qual o objetivo da aplicação, como funciona e como é possível obtê-la. Apela a que a sociedade “baixe” a aplicação para a sua segurança, da sua família e segurança do mundo.

VA: Como CEO da Linha direta conte-nos um pouco da história da criação deste projeto e consequentemente da Aplicação?

Leonardo Gandelman: Este projeto começou porque eu sempre quis garantir proteção para a minha família, para os meus vizinhos e consequentemente para o mundo. Começamos esta ideia porque achamos que era uma necessidade generalizada e porque os índices de violência/violência doméstica estavam e estão a aumentar drasticamente. Iniciamos a criação da aplicação e correu bastante bem, por isso decidimos expandi-lo. No início do ano, direcionamo-lo muito para a violência doméstica visto que é um assunto de extrema importância e que nos preocupa bastante. O projeto foi criado em 2017, mas só em outubro de 2019 de modo mais consistente, começou a ser utilizado, visto que foram necessários dois anos de teste para aperfeiçoamento do mesmo.  Foi durante a pandemia que começou a alargar-se para fora do Brasil, no início do mês de março. Atualmente, já somos 14 a trabalhar neste projeto.

VA: Qual é a finalidade desta aplicação e como se adquire? 

LG: A principal finalidade passa pela segurança das pessoas. Mais tarde, expandiu-se para a proteção das mulheres e para o combate contra a violência doméstica. Por exemplo, uma senhora vítima de violência doméstica enviou-nos uma mensagem a agradecer porque graças à aplicação salvou-se. O marido era alcoólico e naquele dia, quando ela chegou a casa ele estava bêbado e ameaçou-a com uma faca. A senhora acionou o alerta, sendo que os seus contactos de emergência eram o vizinho, o cunhado e o primo. Aqui, no Rio de Janeiro, as famílias vivem todas muito perto, o que facilita, pois chegam em 5 minutos depois do alerta ser acionado e a polícia só chega 20 minutos depois. É também importante referir que a aplicação fecha-se, desaparece automaticamente depois da chamada emergencial.

Basicamente, o que nós fizemos foi ouvir essas mulheres e tentar adequar a aplicação às suas necessidades de segurança. Para além disso, a aplicação tem a localização de quem aciona o alarme e a mesma é enviada para quem vai ajudar. Sem a localização não adiantaria pedir ajuda. O que marca a diferença nesta aplicação é o facto de ser possível escolher a quem se quer pedir ajuda. Por vezes, mais do que dez minutos de espera é o suficiente para que quando a ajuda chegue a mulher já esteja morta. A localização é enviada em forma de mapa o que torna a busca muito mais fluida e a assistência muito mais rápida.

Outra preocupação está relacionada com a ideia de quem quer que esteja a praticar os atos violentos não descubra que a mulher pediu ajuda, se não a violência aumenta substancialmente. O passo a seguir foi ligar para a Apple e expor a situação, explicando que o objetivo é salvar vidas. Penso que até hoje não existe mais nenhuma aplicação que desapareça automaticamente e que não deixe rasto, ou seja, ninguém sabe que deixaram o alerta. A notificação não fica no telefone de quem enviou o pedido, mas sim e apenas no telefone de quem recebe o mesmo, inclusive se tiver som/volume ligado, é acionado um alarme (sirene). Assim, eu fui percebendo que a comunidade te dá um auxílio mais imediato que a própria polícia que tem meios arcaicos e ultrapassados. A polícia, muitas vezes, não consegue “dar conta do recado” e nesse sentido temos de unir esforços. Para que a aplicação funcione todas as pessoas tem que a ter instalada, quem aciona o alarme e quem ajuda.

VA: Como funciona a aplicação passo a passo?

LG: Então, instala-se a aplicação, adiciona-se os contactos/grupos de emergência, depois coloca-se os locais que são mais frequentados por si como a sua casa, o seu trabalho, uma farmácia que vai muito, etc. No momento de pedir a ajuda, e esperemos que ninguém precise, aperta-se o botão, grava-se a mensagem e envia-se, depois a aplicação fecha-se automaticamente. Tudo isto demora aproximadamente 30 a 45 segundos. Esta aplicação está disponível para Android e iPhone e é totalmente gratuita. É possível descarregar a App em qualquer telefone de qualquer país ou cidade do mundo. Neste momento, estamos a traduzir para que qualquer pessoa em qualquer país o possa utilizar facilmente. Algo importante a realçar sobre a aplicação, é que é necessário aceitar todas as permissões que o mesmo sugere, são elas de áudio, vídeo, microfone e localização porque caso contrário não irá funcionar. Para utilizar a App é necessário ter acesso à Internet.

VA: Quais são os objetivos e metas para o futuro?

LG: O essencial que é salvar vidas, este é o nosso propósito e a nossa meta. Quantas mais pessoas tiverem a aplicação, mais pessoas podemos ajudar e mais vidas vamos salvar. Todos estaremos mais seguros independentemente da nossa cor, raça, género, altura, físico, etc. Isto é uma aplicação de todo o mundo, para todo o mundo. Por exemplo, nos últimos 30 dias tivemos mais de 4 mil pedidos de ajuda.

VA: Ao nível das iniciativas, o que já fizeram para cativar as pessoas para que baixem a App?

LG: Com a pandemia nós tivemos bastantes mais pedidos de ajuda, crescemos muito durante o confinamento e tivemos mais visibilidade. Já tivemos pedidos de várias zonas do mundo como por exemplo China, Japão, Turquia, etc. O nosso objetivo é continuar esse trabalho e nesse sentido temos várias parcerias como por exemplo a rede Globo, G1, R7, entre outras. Em Portugal, a associação Talentos Unidos (TU) apoia também o nosso projeto.

VA: O que significa “Linha Direta” e porque a escolha desse nome para a aplicação?

LG: O “Linha Direta” surgiu porque na altura quando tivemos uma reunião, foi o nome que eu dei ao projeto para explicar mais facilmente a ideia às pessoas do meu bairro. O meu objetivo era criar algo rápido e eficaz, ou seja, uma linha direta propriamente dita entre a população e o bairro. A analogia remete para o telefone do desenho animado Batman, isto é, o telefone toca e a outra pessoa atende – linha direta, comunicação direta entre as pessoas. O logótipo é uma sirene que remete para a segurança.

VA: Que mensagem gostaria de deixar às pessoas sobre a aplicação?

LG: Gostaria de deixar clara a mensagem que nós mesmos podemos salvar as vidas das pessoas mais próximas e que quanto mais as pessoas baixarem a App, mais seguros estaremos e mais facilmente tornaremos o mundo num lugar melhor para nós e para as pessoas de quem mais gostamos. Assim se todos fizerem isso, com certeza o mundo ficará bem mais feliz. Se for uma pessoa salva ou um milhão de pessoas salvas, por mim tudo bem, já cumpri o meu papel. Quem salva uma vida salva toda a humanidade.

Por: Carolina Figueiras