«A situação social e económica decorrente da pandemia faz com que ninguém possa virar costas à região»
José Apolinário, José Pacheco e Elsa Cordeiro são a nova equipa dirigente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve. José Apolinário, Presidente da CCDR, deu uma entrevista à Voz do Algarve onde fala sobre os principais projetos e desafios que se avizinham. O antigo Secretário de Estado das Pescas defende que é necessário dar uma resposta conjunta para apoiar as empresas e as pessoas, fazendo face à crise decorrente da pandemia que está instalada na região algarvia.
VA - O que é que o leva a sair do Governo para um desafio regional?
JA - A situação social e económica decorrente da pandemia faz com que ninguém possa virar costas à região. Nós precisamos de todos e de todas. É preciso unir esforços. Faço notar que no final de setembro tínhamos 21 mil desempregados, um aumento do desemprego na ordem dos 150% em termos homólogos. No final de outubro vamos chegar aos 24 mil/ 25 mil desempregados. É preciso fazer um esforço acrescido entre o Estado, o Governo, a CCDR e as autarquias para apoiar as empresas e o emprego.
“É preciso mobilizar todos para ter respostas face ao efeito da pandemia”
VA - O facto de ter sido autarca motivou-o a voltar?
JA - A razão da minha disponibilidade tem mais a ver com a leitura que faço da situação social e económica da região, com a necessidade de mobilizar todos, repito, todos, para apoiar as empresas, para procurar salvar os empregos, para ter respostas sociais face ao efeito da pandemia.
VA - Como correu a apresentação da sua equipa de trabalho em cada um dos 16 concelhos algarvios?
JA - Eu julgo que as reuniões que fizemos com os autarcas, das assembleias municipais, câmaras municipais e juntas de freguesia demonstraram uma enorme vontade de participação na coisa pública, por parte de todos e reforçou as nossas convicções. É preciso concertar vontades. É preciso melhorar a cooperação entre as próprias entidades do Estado e da região e, sobretudo, repito, é preciso pensar nas pessoas, no emprego e nas empresas. Precisamos de puxar pelas empresas e ajudá-las neste momento particularmente difícil para todos.
“Precisamos de mobilizar, quer fundos europeus, quer
fundos nacionais para dar apoio às empresas”
VA - Quais são os principais projetos que pretende implementar enquanto Presidente da CCDR?
JA - Neste momento, enquanto entidade responsável, vamos ter de começar a preparar o próximo Programa Operacional em termos de utilização dos fundos europeus. É um desafio que se colocará nos próximos meses, mas, repito, no imediato, como tenho dito há duas matérias que nos parecem absolutamente essenciais: por um lado, a resposta integrada, a resposta de todos à situação social e económica da região. Precisamos de apoiar as empresas, apoiar a manutenção e salvaguardar os postos de trabalho. Precisamos de mobilizar, quer fundos europeus, quer fundos nacionais para este apoio às empresas e à salvaguarda dos postos de trabalho. Por outro lado, precisamos de ajudar as empresas que exportam, as empresas de uma linha mais industrial e do setor primário, que são empresas que se mostraram resilientes nesta fase da pandemia. Precisamos de apoiar essas empresas.
A terceira prioridade tem de ser o acompanhamento, a preparação do Plano de Recuperação e Resiliência, o chamado PRR, onde, quer na área da eficiência hídrica, quer na área da habitação ou dos Cuidados Continuados, há um conjunto de possibilidades que têm de ser aproveitadas. Temos de mobilizar vontades e agentes, sejam as autarquias, sejam as empresas, as IPSS’s para a boa utilização desses fundos do Plano de Recuperação e Resiliência.
“Temos uma estrutura competente e empenhada
em defender os interesses da região”
VA - Como é que vê a sua relação com a Administração Central na região, nomeadamente, a ARS, APA, Direção Regional de Educação, Direção da Juventude e Desporto, Direção Regional de Cultura, ICNF, Direção Regional de Agricultura e Pescas e Segurança Social?
JA - Eu acho que nós temos uma estrutura competente e empenhada em defender os interesses da região. Na CCDR também há uma equipa profissional. Precisamos de juntar todas as vontades porque o eixo imediato tem de ser apoiar as empresas, as pessoas, e também quem ficou sem emprego em resultado da pandemia. Temos de ter um grande foco sobre o tema do emprego porque os problemas estão aí. Nós somos uma região muito dependente do turismo. Precisamos absolutamente de salvar empresas, de salvar postos de trabalho e apoiar outras atividades que apoiam o turismo.
VA - Que tipo de apoios é que pretendem dar?
JA - Para já é preciso mobilizar os apoios existentes, concertar todos juntos. Juntar tudo o que existe, procurar disseminar o máximo de informação e mobilizar vontades. É esse o desafio que está colocado.
VA - O que é que nos pode adiantar sobre a revisão do PROTAL e a aprovação dos PDM em curso? Sabemos que o de Lagos é recente, no entanto, os outros estão em revisão.
JA - Nós temos a expetativa que venha brevemente “a revolução” para dar início a um processo de revisão do PROTAL. Iremos na parte do Ordenamento do Território, dedicar o máximo de atenção na articulação com os municípios.
“É preciso apoiar as empresas e as
pessoas para sobreviver ao inverno no
Algarve”
VA - José Apolinário foi até há bem pouco tempo Coordenador Regional do combate à Covid-19. Quais têm sido os impactos do coronavírus no setor do turismo? O que ainda falta fazer nesse sentido?
JA - O turismo é a atividade global. Naturalmente que o medo, o receio, a transmissão do vírus e as posições de encerramento de fronteiras têm consequências sobre esta atividade global que é o turismo. O turismo é uma atividade sem fronteiras. O aumento do desemprego e as situações sociais que vivemos na região são consequência, grande parte, da nossa grande dependência do turismo, por isso é necessário apoiar as empresas e as pessoas para conseguir responder e sobreviver neste período tão difícil e que vamos atravessar também no inverno, que vai ser muito rigoroso no Algarve.
Stefanie Palma