Proprietários de pequenas produções agrícolas de Aljezur estão sem acesso à água do Perímetro de Rega do Mira (PRM) por estarem fora da área beneficiada, mas a associação de beneficiários justifica a medida com a insuficiência de reservas.
Em causa estão cerca de 30 pequenos produtores que, segundo os presidentes da Câmara de Aljezur e da Junta de freguesia de Odeceixe, mesmo tendo terrenos fora do perímetro, costumam ser abastecidos pela água gerida pela Associação de Beneficiários do Mira (ABM).
José Gonçalves, presidente da Câmara de Aljezur, explicou à agência Lusa que a Câmara e as Juntas de Freguesia se reuniram com a ABM para perceberem as "regras que foram agora colocadas" sobre a "gestão da água", depois de terem sido "alertadas" sobre a falta de acesso destas pequenas explorações à água.
O presidente da Câmara algarvia afirmou à Lusa que foi manifestada a preocupação por a medida "poder afetar pequenos agricultores que, até aqui, acediam a água", referindo estarem em causa entre "25 a 30 consumidores nestas condições especiais", das freguesias de Odeceixe e Rogil.
Também o presidente da Junta de Freguesia de Odeceixe, Carlos Vieira, salientou que podem ser afetadas "pequenas hortas" ou não haver água para "dar de beber a alguns animais", reconhecendo que "isso vai ter algum impacto" na economia de subsistência dessas pessoas.
Em declarações à Lusa, Carla Lúcio, diretora executiva da Associação de Beneficiários do Mira, explicou que, para os "agricultores que são totalmente precários, ou seja, que têm explorações totalmente fora do aproveitamento hidroagrícola" daquele perímetro de rega, a "água está sempre sujeita às reservas" existentes.
"A reserva de Santa Clara [barragem que abastece a zona] não garante uma campanha de rega normal e o que foi aprovado em assembleia-geral é que, no ano de 2021, não seriam autorizados fornecimentos precários", esclareceu.
Aquela responsável sublinhou que "quem está dentro do aproveitamento hidroagrícola paga uma taxa de conservação” e está dentro de uma zona de regadio, sendo, por isso, “os primeiros com acesso à água”.
“Os precários são aqueles que, havendo disponibilidade, têm, não havendo disponibilidade, são os primeiros a serem afetados", justificou Carla Lúcio.
A mesma fonte esclareceu que as produções que se encontram abrangidas pelo perímetro de rega têm também uma "dotação limitada aos 3.500 metros cúbicos por hectare inscrito", mas adiantou que, "como a albufeira já recuperou" nas últimas semanas alguma capacidade, "essa dotação vai ser revista".
Questionada sobre se o aumento das reservas é insuficiente para repor o abastecimento aos designados produtores "precários", Carla Lúcio respondeu que a associação "está a tentar que essa decisão seja tomada o mais tarde possível no inverno, para perceber o que vai acontecer à albufeira" de Santa Clara, no concelho de Odemira, distrito de Beja.
"Se houver um inverno chuvoso e a albufeira recuperar, poderá não haver essa limitação. Mas isso não depende de nós", frisou.
O presidente da Junta de Odeceixe afirmou que tem sido "facultada água" aos terrenos não incluídos no perímetro do Mira e "colocados contadores" para contabilizar e "pagar a que gastavam".
Carlos Vieira disse, no entanto, perceber a posição da ABM, afirmando que "é injusto disponibilizar água a outras pessoas que não estão dentro do perímetro", quando "se está a racionar água para as pessoas que pagam para ter terrenos dentro do perímetro".