Entrevista | Jacinto Colaço cessa cargo de 21 anos à frente do Agrupamento de Escolas Padre João Coelho Cabanita

10:50 - 08/03/2021 ENTREVISTAS
Jacinto Colaço ocupou a liderança do Agrupamento de Escolas Padre João Coelho Cabanita 21 anos e cessa agora o cargo com o dever de missão cumprida. Do seu percurso, orgulha-se de valorizar a escola inclusiva e revela que sempre teve uma equipa que o apoiou. A saúde é agora a sua prioridade, mas admite que estará ao lado do novo diretor sempre que ele necessitar.

VA- Conte-me um pouco do seu percurso. Como surgiu este gosto pela educação?

JC- Vim para Loulé em 1969. Nasci em Alcarias, uma aldeia que pertence a Ourique, que agora até faz parte de freguesia (Panoias e Conceição). Fiz o estudo possível em Loulé, o 5º e 6º ano (equivalente ao ciclo preparatório). Depois fiz os três anos na Escola Industrial e Comercial de Loulé (equivalente ao 9º ano de hoje) e terminei o secundário na Tomás Cabreira. Comecei a lecionar ainda com 18 anos. Terminado este curso, como não tinha possibilidades de continuar o curso académico, comecei a trabalhar. Fui então chamado para a Escola Preparatória de Loulé, em 1978, onde havia um horário completo de 17 horas disponível, para Educação Visual. A partir dai fui-me sentido à vontade com esta profissão e percebi desde cedo que tinha jeito para tirar dúvidas.

 

VA- Como chegou à direção do Agrupamento de Escolas de Cabanita?

JC- Quando a Universidade do Algarve começou a funcionar, decidi concorrer para esta zona. Estive um ano em Quarteira e voltei para Lisboa entre 1988 e 1989. Passei depois por Portimão, Albufeira e Loulé. Entretanto abriu a escola de Salir e eu fiquei colocado lá no quadro, até passar a definitivo. Passados dois anos, entrei para a gestão a convite de um colega. Começou aí o meu percurso na gestão, durante 9 anos. Em 2003 já estava colocado no quadro da Escola Básica da Cabanita e decidi retirar-me das funções de gestão e regressei como docente à Padre Cabanita. Dois anos depois de lecionar lá, fui desafiado por um colega (que já não está entre nós), a concorrer à direção da escola e fizemos uma lista. Foi em 2006/2007 que começa o meu percurso de gestão na Padre Cabanita.

Jacinto Colaço explica que a  "escola inclusiva" foi uma das suas missões

VA- Ao longo de todos estes anos, teve de formar várias equipas. Que critérios tomou como principais nessa escolha?

JC- Escolho sempre pessoas em que tenho confiança nas suas competências, no seu carácter e todos eles sabem que nunca lhes perguntei coisas como o clube, o partido político, nada disso. Os critérios que foram utilizados foram os que anunciei acima e nunca nenhum me dececionou. 

 

VA- Durante estes 21 anos à frente deste Agrupamento, quais foram os seus objetivos principais? E as dificuldades?

JC- Neste momento estamos a tentar implementar a “escola inclusiva” e penso que estamos a conseguir que todas as crianças tenham acesso às mesmas oportunidades. A aposta, penso eu, é agora na qualidade da escola pública. Também eu tive esse objetivo, de criar oportunidades. Costumo utilizar esta frase: ‘Procurar dar mais, a quem mais precisa’. É preciso tratar todos por igual e está provado que é essa a melhor opção pedagógica. Em termos de dificuldades, sabemos que o Governo tem feito um esforço para aumentar a escolaridade dos portugueses. Contudo, há algumas questões que não têm sido bem resolvidas, como a da carreira docente, que não tem sido bem tratada em termos de remuneração e congelamentos (foram quase 10 anos). Agora fomos descongelados cerca de 2 anos apenas. Já temos falta de docentes, há disciplinas em que não encontramos ninguém com formação. Tenho uma disciplina de Educação Tecnológica que desde setembro que a professora está de baixa médica e não conseguimos encontrar ninguém para ocupar esse horário. Isto é um sinal de que não há oferta no mercado para algumas disciplinas.

 

VA- Já teve, certamente, contacto com o novo diretor, o professor Rodolfo Campos da Silva, como espera a sua liderança?

JC- Este modelo de concurso permite criar uma situação aqui um pouco sensível. Este colega nunca trabalhou no nosso Agrupamento. É uma das razões pelas quais eu discordo deste modelo. Antes isto não acontecia. O colega vem de fora e de uma realidade diferente da nossa. Tivemos um encontro já e eu procurei colocá-lo a par da situação do funcionamento de tudo, das estruturas e dos planos. No nosso caso, temos uma particularidade, porque somos um Território Educativo de Intervenção Prioritária, o que faz com que o nosso Agrupamento tenha um contrato com o Governo e tenhamos metas e compromissos assumidos a cumprir. O professor Rodolfo Campos da Silva pode contar comigo para o que for necessário, porque o êxito dele é o meu. Vou fazer o que puder para o ajudar.

 

VA- Cessado este cargo, quais são agora os seus objetivos?

JC- Sinto alguma fadiga e isso está a perturbar-me em termos de saúde. O meu pedido de cessação de mandato foi acompanhado de um atestado médico. Essas são as principais razões. Na escola, o que está combinado é que eu preste acessoria ao professor Rodolfo até pelo menos ao final do ano.  Para além das funções letivas, faço voluntariado na Instituição de Solidariedade Social do Barranco do Velho e passei em janeiro a vice-presidente. Vou baixar o nível de exigência de trabalho, procurar controlar estes indicadores de saúde e ter mais tempo livre, também com a família. Mas o meu feitio não me permite que vá para um banco de jardim.

 

Sobre o novo diretor, Jacinto Colaço mostra-se disponível para ajudar

 

Filipe Vilhena