Novo diretor vem diretamente do Norte
O nosso jornal entrevistou o novo responsável do Agrupamento de Escolas Padre João Coelho Cabanita, que tomou posse a dia 1 de março. Rodolfo Campos da Silva tem 50 anos e é natural de Vila Nova de Gaia, de uma freguesia chamada Crestuma. Tem duas licenciaturas: uma em Ciências Católicas na Universidade Católica de Lisboa e outra em Direto na Universidade de Coimbra, onde também fez o primeiro ano do mestrado em Direito Penal. Fez ainda uma pós-graduação na Universidade do Minho e começou a dar aulas de Educação Moral Religiosa e Católica (EMRC) em 1993.
Novo diretor da Padre Cabanita explica que “o meu papel como diretor não é o mesmo que enquanto professor de Moral”
VA – Quando percebeu a sua paixão pela área da educação?
RS- Eu sempre estive ligado a paróquias e a grupos de jovens […] e a certa altura achei que esta área da Religião e Moral me dizia muito. O meu pai era professor de Educação Musical e, evidentemente, isso influenciou-me na escolha. Essa relação com o mundo dos jovens e das crianças nas paróquias para mim foi a preparação para dar aulas. Assumo isto como quase uma continuação do trabalho que eu fazia a nível paroquial e, portanto, só o comecei a fazer ao nível do Ministério da Educação e para mim não houve assim grande divisão. Já lecionei em Lisboa, em várias escolas, e no Porto. Nos últimos três anos tenho estado em Ribeira de Pena, Vila Real.
VA – Apesar deste percurso ligado à educação, não esteve sempre nesta área, correto?
RS- Eu tive um interregno nesta área da educação para trabalhar na FNAC Portugal, entre 2006 e 2012 e exercer Direito, entre 2012 e 2016. Em 2014 regressei ao ensino e tive este percurso ‘misto’, entre as aulas de Moral e a área mais comercial.
VA – Sendo um “homem do Norte”, como é que o Algarve aparece na sua vida?
RS - É uma pergunta curiosa. Eu nunca passei férias no Algarve porque os meus pais não tinham possibilidades […] e imagino que terei ido duas ou três vezes a esta zona porque tinha colegas padres que se Ordenaram e fui à Missa deles no Algarve. A minha companheira é professora do 1º. Ciclo e tem ficado colocada nos últimos anos em Portimão e eu comecei a visitá-la […] de 15 em 15 dias ou de três em três semanas. Foi uma descoberta a um Algarve que eu não conhecia, mas que pouco a pouco nos fomos afeiçoando e então tomámos a decisão de tentar criar raízes neste sítio. Quando vi o anúncio da abertura de concurso para diretor da escola de Loulé pareceu-me ‘ouro sobre azul’ e decidi tentar. Felizmente tudo se concretizou.
VA – Como foi esse processo de seleção no concurso e como se sentiu quando recebeu a resposta final?
RS - Eu candidatei-me e houve uma entrevista, que eu gostei muito. A entrevista estava programada para uma hora e acho que demorou cerca de uma hora e meia. No final da entrevista senti logo que queria trabalhar com aquelas pessoas. Depois de duas semanas ligaram-me e disseram que, dos três candidatos, tinham-me escolhido e eu fiquei ‘super’ feliz. Nunca realizei trabalho como diretor, mas fiz parte de estruturas de coordenação pedagógica de escolas, Conselho Pedagógico e coordenador de diretores de turma.
VA - Que ideias tem traçadas à priori para a sua liderança?
RS - O meu primeiro grande objetivo é conhecer a realidade do Agrupamento. Já estive lá com o Professor Jacinto Colaço para tomar conta dos dossiers e para formar a minha equipa, mas preciso de meter as mãos no terreno e conhecer as 11 escolas que o Agrupamento tem. Quero conhecer os meus colegas, os alunos e os pais. A minha intenção é continuar um trabalho que tem sido feito nas escolas há muitos anos, que tem tido avanços e recuos, mas que no fundo é a democratização dos espaços escolares. Ou seja, é que cada escola tenha uma identidade própria e que as pessoas a assumam e participem na vida da instituição, não sendo meros destinatários das orientações do Ministério da Educação. Essas orientações são importantíssimas, mas acho que as escolas perdem por não terem uma voz mais ativa. Infelizmente, nós criamos escolas padrão e se for a qualquer escola do país não verá grandes diferenças e o objetivo é que haja diferenças consoante a identidade das pessoas.
VA – Sabendo que uma das suas formações foi em Ciências Católicas e que foi professor de EMRC, vai tentar que os alunos tenham um contacto mais direto com a religião?
RS - O meu papel como diretor não é o mesmo que enquanto professor de Moral. Obviamente que, como professor de EMRC, tenho as preocupações que acabou de dizer, mas há um professor de Moral na escola de Loulé e essa será a linha de trabalho dele. A minha será que a escola funcione em todas as suas dimensões. Se o professor de EMRC entender que tem de tomar iniciativas ou propor atividades, eu enquanto diretor vou aceitá-las.
VA - Já teve algumas conversas com o professor Jacinto Colaço e certamente já tentou perceber como foram estes 21 anos dele à frente do Agrupamento. Sente que tem a missão facilitada pelo trabalho do seu antecessor? Quer deixar-lhe algumas palavras de agradecimento?
RS - Mais do que eu, quem agradece ao professor Jacinto Colaço é o Agrupamento – os pais, os alunos, os professores e os não docentes. Em relação à minha missão, não lhe sei dizer. Imagino que a missão é sempre exigente independentemente de quem esteve antes, mas tenho noção do papel importantíssimo que o doutor Jacinto Colaço teve. Alias, posso dizer que a equipa que vou escolher para trabalhar comigo é basicamente a equipa que o professor Jacinto Colaço teve nestes últimos anos, com pequenos reajustes. Não tenho dúvidas em relação à qualidade do trabalho que está a ser feito e as notícias e os resultados escolares dão notícia de que é um excelente Agrupamento, com uma direção que tem sido muito boa. Quero dar os parabéns ao professor Jacinto Colaço e os agradecimentos serão do Agrupamento e não propriamente meus.
Em três candidatos, foi o escolhido para assumir a direção do Agrupamento
VA - Estamos em tempos de pandemia. A sua missão começa de forma mais difícil ou, pelo menos, condicionada?
RS - Sim. Mesmo que não fosse um novo diretor a chegar, de facto, este é um ano difícil. O ano passado também o fui e agora continua a ser. Sem dúvida que irei encontrar situações que exigem muito cuidado. As escolas quando estão preparadas respondem às conjunturas e esta está a responder bem. Na semana passada tive uma reunião online com os Encarregados de Educação para avaliarem o ensino à distância e, do que vi, foi muito positivo.
VA - Neste momento, assistimos a uma redução dos professores jovens nas escolas. Qual é a sua visão sobre este assunto?
RS - Vejo isto com grande preocupação. Posso dizer que quando estou com os meus alunos, principalmente do secundário, ‘provoco-os’ com a possibilidade de serem professores e são poucos os que acham esta profissão aliciante. Isso preocupa-me. Há muitos professores da zona Norte que gostariam de ir trabalhar para o Algarve, mas as condições de habitação tornam quase impossível essa situação. A curto prazo vamos ter falta de professores e tenho pena porque gosto muito da minha profissão.
Filipe Vilhena