José Carlos Rolo, Presidente da Câmara Municipal de Albufeira, esteve à conversa com a Voz do Algarve e explicou os motivos que o levaram a ser candidato nestas eleições autárquicas. O edil falou sobre o que foi feito e aquilo que ainda falta fazer no Concelho.
A Voz do Algarve - Já por duas vezes assumiu a Presidência da Câmara Municipal de Albufeira, na primeira vez com a saída de Desidério Silva para a RTA e neste mandato, após a súbita morte do Dr. Carlos Silva e Sousa, em fevereiro de 2018. Que balanço faz deste atual mandato após mais de 11 anos como Vice-presidente e agora como Presidente praticamente por quase todo o mandato?
José Carlos Rolo - No primeiro período, a Câmara estava numa crise financeira e económica muito drástica. Consegui nesse ano e pouco, reequilibrar essa parte financeira e de alguma forma caminhar para o futuro. Agora, estes três anos de mandato, foram muito diferentes na primeira e segunda fase por via da questão da pandemia.
A primeira fase foi de projetos para o futuro, variadíssimos projetos para empreitadas e obras a decorrer. Na segunda fase, entrou a pandemia e fez alterar aqui obviamente tudo aquilo que tinha programado no início.
Há de haver situações que não se vão concretizar para já, porque estamos num desaceleramento financeiro. Num ano, de março a março, entre receita não cobrada e custos relacionados com a Covid, nos apoios que demos a toda a sociedade albufeirense, gastámos quase 18 milhões de euros e esse valor de quebra, é muito num ano só.
Sendo assim, há aqui uma inversão do percurso que estava inicialmente pensado de uma outra forma e agora tem de haver alguma desaceleração nesse aspeto.
VA - O que é que ficou por fazer durante este seu mandato?
JR - Muita coisa. Ficaram por fazer algumas obras de requalificação urbana que são extremamente importantes até para a imagem daquilo que é a Cidade de Albufeira em termos turísticos. Depois, ficaram por fazer algumas ampliações que ainda estão em projeto, de escolas e jardins de infância apesar de termos algumas em execução neste momento.
Existe ainda a necessidade de continuar com o desenvolvimento do Plano Geral de Drenagem, se bem que já fizemos algumas obras nesse sentido.
Há ainda muitas outras coisas, quer a nível material, quer imaterial, mas isso é sempre assim. A vida continua. Provavelmente dentro de um ano já temos uma perspetiva completamente diferente em termos económicos, depois desta crise realmente passar. Ainda bem que a Câmara de Albufeira tinha as finanças bem apuradas, porque só assim permitiu esta ajuda que falei há pouco à comunidade albufeirense.
VA - Na sua opinião, quais são ainda os principais problemas do Concelho?
JR - Os problemas do Concelho são a diversificação daquilo que é o destino turístico. Nós temos de apostar e estamos a apostar neste momento no interior, portanto, parte mais rural e a parte do mar.
Temos uma parceria com o Concelho de Loulé e Silves do Geoparque Algarvensis. Somos já aspirante a Geoparque. Vai ter o selo da Unesco, mas vai demorar algum tempo. Essas situações não são imediatas. Não são selos fáceis de conseguir porque é a Unesco mas quando acontecer irá catapultar Albufeira e o interior dos Concelhos envolvidos.
Neste caso particular de Albufeira, nomeadamente da freguesia de Paderne e uma parte da freguesia de Ferreiras, vem catapultar a possibilidade de haver um incremento turístico de uma outra forma que não apenas o sol e praia. No fundo trata-se de complementaridade.
Não podemos esquecer que o sol e praia é realmente o grande prato forte do turismo albufeirense, mas também temos de ter a complementaridade de outros produtos turísticos no Concelho. Aí o Geoparque poderá catapultar e potenciar, nomeadamente, a gastronomia, o artesanato, percursos pedestres, o turismo de natureza, entre outros.
Depois temos uma área de interesse, uma área marítima, que é em parceria com o município de Silves e de Lagoa, no sentido de criar também ali um cluster de caráter ambiental, o que permite alguma atenção nesse campo, portanto, há aqui duas complementaridades.
Uma vez que temos uma terra de mar, também temos de apostar um pouco nesta área, nomeadamente, na questão da piscicultura, da pesca, mergulho e das visitas de mar. Não esquecer que as marítimo-turísticas foram uma atividade económica e turística que evoluiu extraordinariamente muito nos últimos anos, embora neste ano de pandemia tenha sido das atividades mais prejudicadas.
VA - A pandemia trouxe uma crise sem precedentes no Algarve em geral e neste Concelho em particular. Como apoiou e pensa apoiar no futuro os mais afetados nomeadamente famílias e empresas?
JR - Desde logo na questão das famílias, nós temos um subsídio ao arrendamento. Pagamos também a parte da alimentação com acordos que temos com as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) do Concelho. A maior parte dos medicamentos também estão incluídos nesse apoio. Está a aumentar muito a ajuda alimentar e medicamentosa porque as pessoas, muitas delas, deixaram de ter o seu emprego.
Depois apoiámos as escolas não apenas na parte dos computadores. Lembro que no primeiro confinamento, em abril do ano passado, cedemos aos agrupamentos escolares quase 800 tablets para serem destinados aos alunos do 1º, 2º e 3º ciclo do Ensino Básico para que pudessem assistir às aulas.
Este ano cedemos também aos agrupamentos escolares, 110 computadores portáteis, principalmente para os alunos do Ensino Secundário. A gestão desses equipamentos foi feita pelos diretores dos três agrupamentos escolares.
Para além disso, tivemos o apoio a tudo o que é o fornecimento de equipamentos de proteção individual, nomeadamente, máscaras, álcool gel, a testagem que foi feita às pessoas da linha da frente: GNR, Bombeiros, Cruz Vermelha, Proteção Civil, Polícia Marítima e Polícia Municipal. Todos os que quiseram ser testados. Tivemos também colaboração ao nível da alimentação aos profissionais de saúde durante algum tempo.
Demos ainda, estadia àqueles profissionais da linha da frente, que não queriam ir a casa porque quando tiveram os primeiros contactos com o vírus, tinham receio de infetar a sua própria família.
Depois, apoiámos as empresas em três fases do Fundo Empresarial e Associativo. Já empregámos à volta de 1 milhão e meio de euros no apoio às empresas. Para além disso, há outro tipo de empresas que foram apoiadas, nomeadamente, a questão dos táxis através da Albucoop, em conjunto com a restauração. Houve uma ajuda simultânea entre estes dois setores porque nós definimos que os táxis transportariam a comida dos restaurantes inscritos e aderentes até à casa das pessoas. Foi uma forma de, por um lado, ajudar a restauração e por outro lado, ajudar os táxis.
Apoiámos também o comércio local no âmbito do cheque prémio que foi distribuído no Natal às crianças. para depois descontarem nas lojas. Neste momento ainda podem usufruir dele porque o prazo foi prorrogado.
Depois, tivemos aqui muita outra coisa em termos de apoio no campo da vacinação. Está agora a ser montado no Espaço Multiusos de Albufeira (EMA), um Centro de Vacinação Municipal para as pessoas serem vacinadas. A partir do início desta semana, vamos ter em frente à Câmara um espaço para testagem em massa, para todas aqueles que queiram fazer o teste rápido para poder despistar algum caso, que possa estar a infetar a comunidade.
As entidades regionais dizem que Albufeira é um Concelho onde o vírus está disperso na comunidade. Logo, aproveitando essa situação, justifica-se essa testagem. Só assim é que muitas vezes se consegue despistar e monitorizar alguém que esteja infetado, para evitar que a infete mais pessoas.
Não podemos esconder que isto é um vírus e o vírus propaga-se. Dizem os entendidos que o vírus que está no Algarve neste momento é 94% da estirpe de origem britânica, o que é altamente infecioso, atingindo as idades mais jovens.
Nos nossos jardins de infância existem alguns casos e há turmas em isolamento. No Algarve, no total, existem 42 turmas em isolamento e 16 surtos de infeção em estabelecimentos escolares, segundo a Autoridade de Saúde Regional. Estamos a colaborar com o Centro de Saúde na montagem de um pavilhão exclusivamente dedicado ao Covid-19. Dentro de poucos dias, deve começar-se a fazer lá a vacinação.
VA - Atualmente, 20% dos desempregados do Algarve são do Concelho de Albufeira. Que estratégias tem pensadas de modo a dinamizar o Concelho sem que este esteja somente focado no setor do turismo?
JR - Temos de promover a diversificação. Um dos aspetos muito importantes que temos de pensar para o futuro é a diversificação da economia do Algarve, nomeadamente, a economia de Albufeira.
Albufeira nunca vai poder sair daquela atividade principal que é o turismo, nomeadamente, o turismo de sol e praia, mas dentro desta área existem outras possibilidades, como disse há pouco.
Dentro da atividade económica, também existem outras possibilidades. Temos alguns sítios que são excelentes para a prática da agricultura, podendo ser uma agricultura de excelência e de produtos âncora, não em quantidade, mas essencialmente em qualidade.
Temos o peixe desta zona que é do mais completo em termos de sabor e de nutrientes. Acho que é dos mais completos a nível mundial, segundo dizem os entendidos, não sou eu apenas que o digo.
Deveremos apoiar, não apenas o turismo, mas a agricultura, as pescas e temos de potenciar o Concelho porque existe aqui uma confluência de vias de comunicação vindas do norte do país, de Espanha e de outros lados. Podemos potenciar a sua colocação no país para poder ter empresas em termos de desenvolvimento industrial e tecnológico.
VA - Sendo o atual Presidente é naturalmente o candidato do PSD à Camara de Albufeira. Quais foram os motivos principais que o levaram a candidatar-se à presidência da Câmara Municipal de Albufeira?
JR - Primeiro de tudo, tenho mais de 40 anos de vida pública. Sempre servi o Estado e as pessoas, quer na área da educação, quer na vertente autárquica. Estive na Escola Secundária de Loulé e na Escola Secundária de Albufeira e também na Direção Regional da Educação onde fui Diretor de Serviços. Estou na Câmara Municipal de Albufeira desde 2002 onde tenho sido membro dos executivos.
Acho que é um número de anos que justifica continuar aqui, porque desde que tenha saúde e capacidade mental, irei continuar a desenvolver trabalho no Concelho. Depois, ainda alguma coisa do que teria pensado está por fazer, como é o caso de um Espaço para Feiras, Congressos e outro tipo de Eventos Temáticos. Já temos o terreno para começar a trabalhar nesse sentido. Este é mais um aspeto que Albufeira necessita porque é uma centralidade, muito no aspeto geográfico e pela importância que tem no resto do mundo.
A marca Albufeira, segundo oiço dizer muita vez, independentemente de se poder ter uma razão muito objetiva ou mais subjetiva, é uma marca mais forte do que o próprio Algarve, principalmente em determinados países que conhecem Albufeira como sendo Portugal. Para eles, Albufeira é sinónimo de Portugal e sinónimo do Algarve. Temos de pugnar por isso, desenvolver e melhorar o desempenho desta marca.
VA - Se ganhar as eleições, quais são as principais prioridades para o novo mandato?
JR - Continuar neste aspeto que disse na pergunta anterior: a diversificação da economia. Apoiar muito o interior do Concelho, porque precisa de movimentações demográficas para que não esteja apenas tudo concentrado no litoral e desenvolver os aspetos económicos, não só na parte primária, no caso da agricultura e pescas, por exemplo, mas depois temos a questão dos novos destinos turísticos, novas atrações turísticas, nomeadamente, no interior e também no mar.
Depois, é a questão da requalificação urbana, que ainda faltam algumas obras que são fundamentais, por exemplo a Avenida Sá Carneiro, que temos o projeto praticamente terminado, numa iniciativa que até foi discutida com a comunidade. A Rua António Aleixo, a Rua do Movimento das Forças Armadas, a Avenida 25 de Abril na Baixa e a Avenida do Ténis, que são 4 vias fundamentais no casco urbano de Albufeira que precisam de ser requalificadas.
Neste sentido, ainda faltam algumas coisas. Falta promover o sentido de melhoria substancial das instalações do Conservatório de Música de Albufeira, que tem sido um estabelecimento de ensino e educação muito importante para o Concelho ao longo dos anos. Precisa de melhorar e marcar a sua posição. Depois, criar uma Escola Profissional relacionada com o turismo e não só.
VA - Conhece bem o Desidério Silva já que foi o seu Vice-presidente. Não o “assusta” lutar desta vez contra o Desidério?
JR - Não estou a lutar contra ninguém até porque eu estava cá. É lógico que como disse sempre, se tivesse saúde, condições físicas e mentais, naturalmente seria candidato. Assim aconteceu. O Partido entendeu que deveria ser eu o candidato. Cá estou, não para fazer uma campanha pela negativa, mas sim sempre pela positiva, embora não concorde com determinadas situações, nomeadamente, com os cartazes que estão por aí, que não abonam a favor do coletivo.
VA - Desidério Silva afirmou recentemente que Albufeira “quase parou no tempo”. Quer comentar esta afirmação?
JR - Albufeira não parou no tempo. Albufeira parou porque foi obrigada a parar por via da pandemia. Só não vê quem não consegue ver. Evidentemente não parou. Tudo aquilo que tenho dito nesta entrevista espelha bem aquilo que se foi fazendo. As obras urbanas não pararam, nada parou. É preciso que se entenda que só parou o que tinha de parar. Evidentemente que se a pandemia não tivesse existido, há mais de 1 ano, naturalmente estariam muito mais obras feitas.
VA - No que diz respeito à área da saúde, há muito tempo que os albufeirenses anseiam por um novo Centro de Saúde. Qual o ponto de situação, está para breve?
JR - Está. Em primeiro lugar, já abri concurso para uma Unidade de Cuidados Continuados que vai ser construída na Guia. Relativamente ao Centro de Saúde, a autarquia assumiu e assinou o protocolo com o Ministério da Saúde no sentido da transferência de competências na área da Saúde a partir de 1 de janeiro passado, portanto há apenas 3 meses e meio.
Recentemente, tentei falar com Presidente da Administração Regional de Saúde, Paulo Morgado, precisamente para marcar uma reunião, para iniciarmos as linhas mestras para a elaboração de um projeto de arquitetura que vamos lançar dentro de pouco tempo para que possamos ter uma estrutura a médio prazo. A localização está ainda em estudo, ou será próximo do já existente ou então se não for aí, será num outro local já definido.
VA - Quanto à área da cultura/animação, que atividades pensa dinamizar de modo a dar mais vida à Cidade?
JR - A área da cultura nós temos de pensar na questão do interior, temos que promover e incentivar a criação de grupos culturais. Não pode ser só a cultura por catálogo, nem por encomenda. Temos também de incentivar a própria cultura dentro dos nossos atores locais, nomeadamente, contribuindo muito para aquilo que é a disseminação da cultura pelas escolas, que é por aí que tudo começa, de forma que possamos ver aqui um concerto de uma orquestra. Por exemplo, a Orquestra do Sul vir aqui ao auditório e estar completamente cheio.
Ver outro tipo de ações culturais e de atividades que se possam desenvolver. Agora temos patente ao público, na galeria João Bailote, uma exposição de fotografia e pintura de alunos da Escola Secundária de Albufeira que acho que é extraordinária e um bom exemplo do que pode ser a cultura a nível local, não apenas vinda de fora, mas feita também pelos atores locais.
VA - Acha que Albufeira tem potencial para ser mais e melhor? De que modo pretende dinamizar a imagem do Concelho além-fronteiras?
JR - A imagem do Concelho pode ser sempre mais. Não podemos pensar que aquilo que temos hoje é o melhor que já se atingiu. Não é. Temos de ser humildes no sentido de pensar que aquilo que hoje é, eventualmente é melhor do que ontem, mas ainda não é tão bom como amanhã poderá vir a ser.
Temos de nos reger por esse princípio da melhoria contínua e essa situação tem de ser uma verdade e uma estratégia a adotar. Temos de estar sempre a melhorar e evidentemente que Albufeira, sendo uma Cidade que recebe os turistas, é preciso mostrar-se e dizer que existe.
É preciso também, mostrar que temos uma Albufeira, que tem uma capacidade extraordinária de receber turistas, quer pela simpatia das pessoas, quer também pela beleza das suas praias e falésias.
Também temos um projeto pensado relacionado com a costa. Queremos fazer ao longo de toda a costa, nos sítios onde for possível, um grande passadiço para que as pessoas possam fazer caminhadas e observar a praia de uma zona onde não correm perigo. Tenho um grande projeto que seria esse. Um grande passadiço ao longo de toda a praia desde uma ponta à outra, nos locais possíveis, onde estará incluído uma extensão do passeio marítimo, que faria a ligação da praia do Peneco à Marina de Albufeira.
Temos também de manter a imagem de Albufeira nas origens do nosso turismo internacional quer em Inglaterra, no Reino Unido, mas também noutros países. Não esquecer que recebemos gente de inúmeros países.
Temos também que preservar e melhorar aquilo que é nosso, ajudar as escolas a desenvolver-se cada vez mais, quer em termos materiais, quer em termos humanos quer em equipamentos. Também, ajudar o Centro de Saúde de Albufeira com algumas competências dentro da área da saúde que a Câmara Municipal de Albufeira assumiu. Essencialmente é isso.
VA - Que razões apontaria para os munícipes votarem em si?
JR - Dedicação, trabalho, disponibilidade, honestidade e rigor.
Por: Stefanie Palma