O custo direto do excesso de peso e obesidade foi estimado em cerca de 1,2 mil milhões de euros, aproximadamente 0,6% do PIB e 6% das despesas de saúde em Portugal.
A revelação é feita pelo estudo «O Custo e Carga do Excesso de Peso e da Obesidade em Portugal», divulgado hoje e elaborado pelo Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência (CEMBE) e pela consultora Evigrade-IQVIA, com o patrocínio científico da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO) e o apoio da Novo Nordisk Portugal.
Segundo o último Inquérito Nacional de Saúde com Exame Físico (INSEF) do Instituto Ricardo Jorge, aproximadamente dois terços da população adulta portuguesa (67,6%), vive com excesso de peso (Índice de Massa Corporal (IMC)≥25) ou obesidade (IMC≥30), sendo que a prevalência de obesidade é de 28,7%.
O estudo hoje conhecido, mostra que as doenças relacionadas com a obesidade que mais contribuem para os 1,2 mil milhões de euros de custos diretos em saúde são a diabetes, o acidente vascular cerebral (AVC), a doença cardíaca isquémica (DCI) e a doença renal crónica (DRC). É importante realçar que o custo do tratamento destas doenças é 88 vezes superior aos custo do tratamento da obesidade per se, que ultrapassa os 13 milhões de euros anuais.
Em 2018, ocorreram 46 269 óbitos por doenças relacionadas com obesidade, o que representa 43% dos óbitos totais ocorridos em Portugal Continental naquele ano. No que diz respeito à carga da doença, esta foi avaliada em anos de vida ajustados pela incapacidade, que juntam os anos de vida perdidos por morte prematura e os anos de vida perdidos por incapacidade. Concluiu-se que a obesidade em Portugal provoca a perda de 203 002 anos de vida ajustados pela incapacidade por ano, valor que supera o número de anos perdidos por AVC.
Margarida Borges, a investigadora que liderou este estudo explica que “os números que obtivemos evidenciam que 46% das pessoas que morrem num ano, morrem com doenças relacionadas com a obesidade. Para percebermos melhor a magnitude do problema, e quando olhamos para a perda de mais de 200 000 anos de vida ajustados pela incapacidade, isto significa praticamente o mesmo que retirar nove dias de vida, por ano, a cada português adulto. Estes são números avassaladores, que retratam uma verdadeira pandemia não transmissível e sublinham a urgência de envolvermos ativamente a população na prevenção do excesso de peso e da obesidade e de assegurarmos um diagnóstico precoce e um tratamento adequado das pessoas que vivem com a doença.”
Já Paula Freitas, endocrinologista e presidente da SPEO sublinha que “a resposta eficaz na luta contra a obesidade depende efetivamente de todos nós. Sem tratamento, a evolução da obesidade em Portugal é uma barreira à equidade socioeconómica e ao progresso do país. Os números deste estudo reforçam o sentido de urgência de “recalibrar a balança”, com maior enfoque na prevenção, no reforço da intervenção dos cuidados de saúde primários, na abordagem multidisciplinar, no acesso equitativo ao tratamento adequado - cirúrgico e farmacológico e à tolerância zero com o estigma e discriminação de qua ainda são vítimas as pessoas que vivem com obesidade”.
Considerada como a “pandemia do século XXI”, a obesidade é a segunda principal causa de morte no mundo e o maior desafio global de saúde na área das doenças crónicas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Sem tratamento adequado, a obesidade danifica gradualmente o normal funcionamento do organismo. O seu impacto vai além da esfera individual, ao afetar famílias, sistemas de saúde, economias e o progresso social, comprometendo a saúde das próximas gerações. Ignorar o risco é contribuir para um país mais doente, vulnerável e assimétrico, incapaz de travar a progressão desta doença crónica e as suas consequências.
Mais do que nunca, precisamos de estratégias e respostas eficazes para conter e reverter a prevalência da obesidade. Do ónus individual é urgente passar para uma visão partilhada de saúde pública, no qual todos têm um papel a desempenhar.