O crescimento da pandemia na Europa deve-se à insuficiente vacinação e ao levantamento de restrições, afirmou ontem a Associação de Médicos de Saúde Pública, considerando «pouco provável» uma nova vaga em Portugal com a do início de 2020.
“Uma quarta vaga com a dimensão e a gravidade das anteriores será muito pouco provável, mas Portugal faz parte de um mundo aberto. Se outros países estão a assistir a um aumento de casos, e com a mobilidade que as pessoas têm, é normal que Portugal possa ter, durante os meses de inverno, um aumento de casos e uma nova vaga, que a vacinação pode tornar menos letal”, adiantou à Lusa o vice-presidente da associação, Gustavo Tato Borges.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Europeia do Medicamento (EMA) consideraram hoje “preocupante” a situação da pandemia da covid-19 na Europa, com um aumento significativos de infeções em alguns países, tendo mais do que duplicado as hospitalizações associadas à doença numa semana.
Segundo Gustavo Tato Borges, esta evolução negativa da pandemia deve-se, em grande medida, às assimetrias de cobertura da vacinação entre os países europeus, assim como ao relaxamento das medidas não farmacológicas, que “fez aumentar o risco dos contactos próximos e a maior transmissibilidade da doença, o que era perfeitamente expectável”.
Em relação ao crescimento do número de casos em Portugal nos últimos dias, o especialista de saúde pública salientou que não está a ser acompanhado por um aumento proporcional em termos de mortalidade, devido ao efeito protetor da vacina contra a covid-19.
“Não vamos ter aquilo que aconteceu em janeiro e fevereiro de 2020. Acho que essa dimensão catastrófica de casos e de mortes não deve voltar a acontecer, mas poderemos assistir a um aumento considerável que pode `boicotar´ o normal funcionamento do Serviço Nacional de Saúde” nos meses de inverno, adiantou Gustavo Tato Borges.
A EMA considerou hoje que a situação epidemiológica relacionada com a covid-19 na União Europeia (UE) é “muito preocupante”, dado a aproximação do inverno, instando os cidadãos a vacinarem-se ou completarem o esquema de vacinação.
Dados de outra agência europeia, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), revelam que, até ao momento, 75,4% da população adulta na UE está totalmente vacinada, enquanto 80,6% tomou apenas a primeira dose.
Isto equivale a 275 milhões de pessoas com o esquema de vacinação completo, segundo a página na internet do ECDC referente à vacinação na UE e que tem por base dados dos Estados-membros.
Por países, existem grandes discrepâncias nas taxas de vacinação, entre os 26,4% de vacinação total na Bulgária e os 92,3% na Irlanda.
Também a OMS avisou hoje que a situação da pandemia de covid-19 na Europa é "muito preocupante" e apontou a cobertura insuficiente de vacinas e o relaxamento de restrições para explicar o aumento de casos nas últimas semanas.
"Estamos em outro ponto crítico para a eclosão da pandemia. A Europa está mais uma vez no epicentro da pandemia, onde estávamos há um ano. A diferença, hoje, é que sabemos mais e podemos fazer mais", disse o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS) Europa, Hans Kluge, numa conferência de imprensa.
Portugal registou hoje 1.382 casos confirmados de infeção com o coronavírus SARS-CoV-2, quatro mortes associadas à covid-19, uma redução nos internamentos em enfermaria e um novo aumento nos cuidados intensivos, segundo dados oficiais.
O número de novos casos registados hoje antecipa em três dias a previsão avançada pela ministra da Saúde, Marta Temido, em conferência de imprensa a 28 de outubro.
Segundo Marta Temido, as estimativas e as análises de modelação epidemiológica realizadas pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge apontavam para 1.300 casos confirmados no dia 07 de novembro, caso se mantivesse o risco de transmissão registado à data.
A covid-19 provocou pelo menos 5.020.845 mortes em todo o mundo, entre mais de 248,03 milhões infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.
A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em vários países.