O Governo apresenta hoje uma nova campanha contra a violência doméstica, que este ano já matou 19 pessoas, defendendo que «Enquanto houver uma mulher vítima de violência doméstica não vai ficar tudo bem» e lembrando o impacto nas vítimas.
“É uma campanha muito centrada no retrato daquilo que são situações familiares e comuns, é uma situação familiar de violência em que há uma criança que presencia, que assiste, que por essa via também é ela própria vítima daquela situação de violência, que parece ser não uma novidade naquela família, mas um continuo”, explicou, à Lusa, a secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade.
Tal como descreveu Rosa Monteiro, a criança expressa depois essa violência no seu desenho, dando uma “perspetiva de presente e futuro negra”.
“A campanha joga precisamente com esse sentido do impacto profundo que a violência tem nas mulheres e nas crianças, ao mesmo tempo que apresenta uma saída, que é uma saída mais colorida, em que o desenho feito pela criança se transforma com a intervenção das pessoas que, no fundo, somos todas e todos nós, e que nos devemos mobilizar para a denúncia e para o apoio às pessoas que são vítimas”, explicou a secretária de Estado.
Rosa Monteiro salientou que a campanha acaba por ter um lado “interessante e cativante” graças à ilustração, da autoria da artista visual portuguesa C’Marie, e aposta numa “ampla disseminação nos mais diversos canais e meios”, desde vários órgãos de comunicação social de âmbito nacional, regional e local, salas de cinema, meios de transporte, postos de combustíveis, hipermercados e também na rede de multibanco.
O objetivo da campanha #PortugalContraAViolência, que serve para assinalar o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres, é o de, “num momento em que também os constrangimentos impostos pela pandemia de covid-19 provocaram desafios acrescidos, consolidar o sentido de responsabilidade coletiva, transmitir confiança a cada mulher, na sua luta, e à sociedade em geral, no combate a este crime, bem como divulgar as respostas e mecanismos de apoio às vítimas”, tal como refere o comunicado do gabinete da secretária de Estado.
Rosa Monteiro adiantou que a campanha inclui também a divulgação de um código QR, (um código de barras bidimensional que é lido através dos telemóveis), através do qual tem-se acesso a um guia de recursos com todas as respostas do país em matéria de violência doméstica, “onde as pessoas poderão procurar apoio e ajuda direta nas situações que presenciem ou que vivam de violência doméstica”.
De acordo com a secretária de Estado, esta campanha é como que uma “sequela” da campanha lançada no ano passado e que remetia para casos de violência doméstica ocorridos nos períodos de confinamento, salientando que a campanha apresentada hoje também remete para uma situação doméstica e usa a imagem do arco-íris para remeter ainda para a situação de pandemia.
“Primeiro [o arco-íris aparece] sem cores, a cinza e que se vai colorindo à medida que a intervenção das pessoas, do coletivo, da sociedade, no apoio àquela e àquela criança que aparecem depois à janela”, descreveu.
Para Rosa Monteiro, a mensagem é clara: “Enquanto continuar a haver violência doméstica, não vai ficar tudo bem”.
Disse ainda que a violência doméstica “é uma pandemia permanente na vida das mulheres e das crianças”.
A campanha é da responsabilidade da secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade e da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG), com a colaboração da AMCV - Associação de Mulheres Contra a Violência, Associação Projeto Criar, Associação Ser Mulher, APAV - Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, Associação Plano I, Associação Portuguesa de Mulheres Juristas, Coolabora, Cruz Vermelha Portuguesa, Movimento Democrático de Mulheres, Mulheres Século XXI, UMAR - União das Mulheres Alternativa e Resposta e Quebrar o Silêncio Associação.
Os números mais recentes mostram que nos primeiros nove meses do ano a violência doméstica matou 19 pessoas e que a Rede Nacional de Apoio às Vítimas de Violência Doméstica (RNAVVD), que abrange atualmente 95% território nacional, incluindo respostas especializadas de atendimento e acolhimento, registou até final do passado mês de setembro 97.172 atendimentos.
Por: Lusa