As células estaminais do tecido do cordão umbilical estão a ser investigadas como forma de tratamento inovadora para impedir a degeneração, ou até mesmo para promover a regeneração, do nervo ótico em contexto de glaucoma.
O estudo, recentemente publicado na revista Stem Cells International, reportou resultados favoráveis desta estratégia inovadora no tratamento de glaucoma em modelo animal, podendo tornar-se numa mais-valia para estes doentes no futuro.
O glaucoma caracteriza-se pela perda progressiva das células do nervo ótico e constitui a principal causa de cegueira irreversível a nível mundial. Na maioria dos casos, está relacionado com o aumento da pressão intraocular, que não é dolorosa nem percetível pelo doente, podendo passar despercebida durante muitos anos até que se comecem a notar alterações na visão. Esta doença ocular afeta cerca de sete milhões de pessoas, só na Europa, e aproximadamente 200 mil indivíduos em Portugal.
Embora haja tratamentos (farmacológicos, com laser ou cirurgia) disponíveis para o tratamento de glaucoma, estes são incapazes de recuperar a visão já perdida. “O uso de células estaminais tem vindo a ser investigado como estratégia inovadora no tratamento do glaucoma, no sentido de impedir a degeneração das células do nervo ótico, ou mesmo, idealmente, promover a sua regeneração”, afirma a Dr.ª Bruna Moreira, investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal.
“De acordo com os resultados deste estudo, as células estaminais do cordão umbilical têm capacidade para proteger o nervo ótico, potencialmente impedindo a progressão da doença. Para além disso, a facilidade com que é possível colher estas células após o parto, de forma não invasiva e totalmente indolor, e a possibilidade de multiplicação em laboratório tornam-nas atrativas para aplicação clínica”, sublinha a especialista.
Neste estudo, foi utilizado um modelo animal de glaucoma, que apresentava pressão intraocular elevada, com subsequente lesão na retina e perda de células do nervo ótico, e procurou-se determinar a sobrevivência e a mobilidade das células estaminais após aplicação direta no olho. Para isso, as células foram marcadas com fluorescência, de forma a ser possível rastrear a sua localização ao longo do tempo.
Os resultados revelaram que as células estaminais do cordão umbilical, após aplicação no olho, são capazes de migrar para a zona lesada e sobreviver durante pelo menos dois meses. “Estes dados são de extrema relevância no âmbito da translação desta tecnologia para a prática clínica, sugerindo que estas células sobrevivem tempo suficiente para exercerem um efeito terapêutico, e que são capazes de se dirigir para o local da lesão, onde são mais necessárias”, esclarece Bruna Moreira.
Os investigadores verificaram, ainda, que as células estaminais do tecido do cordão umbilical exercem um efeito protetor contra danos na retina causados por pressão intraocular elevada, tendo a sua administração estado associada a uma menor perda de células do nervo ótico.