A Câmara Municipal de Vila do Bispo espera abrir em 2023 o museu municipal «O Celeiro da História», onde dará a conhecer um território com uma história natural e ocupação humana «únicas», disse o arqueólogo municipal.
Ricardo Soares explicou à agência Lusa que o museu começou a ser “pensado” em 2014, em 2016 avançou-se com o projeto e a “obra física, com a reabilitação dos antigos celeiros da Federação Nacional de Produtores de Trigo, começou efetivamente em 2018”, mas dificuldades do empreiteiro obrigaram a realizar um segundo concurso, atrasando a recuperação do edifício sede do museu, entretanto retomada.
Este tempo foi aproveitado para “recolher mais materiais, ponderar melhor a narrativa” e, “se não houver mais problemas e tudo continuar a correr bem, como agora, durante o ano que vem o trabalho esteja concluído e possam abrir-se as portas”, estimou o técnico municipal.
“O concelho de vila do Bispo é único à escala global, num pequeno triângulo reunimos apontamentos de património natural e cultural que são únicos ao nível do próprio planeta, desde geomonumentos que documentam como em determinado momento da história geológica da terra terá havido um supercontinente (Pangeia), a pegadas de dinossauros ou icnofósseis em vários pontos do concelho”, afirmou Ricardo Soares.
O “passado humano remonta há 34.000 anos, com uma jazida paleolítica em Vale de Boi que é a mais antiga do sul peninsular”, mas o território conta também com “a maior concentração de monumentos megalíticos da Península Ibérica”, acrescentou.
O “Infante [de Sagres, D. Henrique] e a globalização”, iniciada com os portugueses nos séculos XV e XVI, “serão também temas abordados” no museu, que vai buscar o nome (O Celeiro da História) à “própria história do edifício” em requalificação, antigo “celeiro dos produtores de trigo, no âmbito da campanha do trigo iniciada em 1929” pela ditadura militar, e prosseguida pelo Estado Novo.
“Com esta riqueza e diversidade patrimonial, nós podemos contar a história da própria Terra e da sequência da ocupação humana do território, que remonta há 300 milhões de anos do ponto de vista natural e há 34.000 anos do ponto de vista cultural”, argumentou.
Ricardo Soares classificou o projeto como “ambicioso” e “diferenciador”, por poder “contar uma história tão vasta e tão completa” e por abranger “várias realidades que se difundem à escala global”.
“Tendencialmente pensa-se, no país e no Algarve em particular, em realizar projetos a pensar no turismo e no turista, mas o espírito deste museu é que seja de facto um museu do território, participativo e inclusivo, de e para as pessoas de Vila do Bispo”, considerou, frisando que os visitantes podem depois “beneficiar” de um “projeto genuíno”.
A parte educativa também foi destacada por Ricardo Soares, que deu o exemplo de uma criança que frequentou aulas extracurriculares relacionadas com o património e acabou por “reconhecer e encontrar uma lucerna romana” na zona.
O projeto desenvolvido em 2016 tinha previsto um investimento de 1,3 milhões de euros, mas essa verba ficou desatualizada e atualmente o orçamento “ronda os três milhões de euros”, quantificou, frisando que dos 1,3 milhões iniciais foi obtido um financiamento comunitário de 800.000 euros.
Por: Lusa