Entrevista | Pedro Vasconi, Diretor da In The Pink

19:10 - 10/07/2022 ENTREVISTAS
Diretor da nova Galeria de Fotografia Contemporânea, In The Pink.

Pedro Vasconi tem 33 anos é o diretor da nova Galeria de Fotografia Contemporânea de Loulé, a In The Pink. O responsável nasceu em São Paulo, no Brasil, e tem formação em História da Arte, tendo trabalhado em Buenos Aires e Madrid.

 

A Voz do Algarve (V.A.) – É licenciado em Relações Internacionais, mas é na cultura e arte que se revê. O que nos pode mais dizer sobre o seu percurso profissional?

Pedro Vasconi (P.V.) – Exatamente, sou licenciado em Relações Internacionais, mas percebi logo que queria era trabalhar com cultura e arte. Quando fiz o meu primeiro Mestrado, em Buenos Aires, comecei a dedicar-me a projetos artísticos e culturais (na sua maioria independentes) e depois voltei ao Brasil e trabalhei na Cooperação Universitária Internacional. O que eu queria fazer era trabalhar com arte contemporânea, então mudei-me para Madrid e começo lá um Mestrado, no Museu Reina Sofia, onde também trabalhei no departamento de exposições, como coordenador assistente das exposições temporárias do museu. Esse era um trabalho complexo, que toca todas as áreas da execução de exposições – especialmente naquele museu de primeira classe. Depois disso, comecei a trabalhar no Ministério dos Assuntos Exteriores Espanhol, mais especificamente para a Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e lá fiz a coordenação de vários tipos de exposições. Foi uma época da minha vida intensa e, só depois disso, comecei a interessar-me pelo mundo das Galerias. Colaboro com algumas Galerias internacionais e um número grande de artistas.

 

V.A. - Acredito que a sua experiência profissional noutros países influencie as suas atuais decisões e gostos.

P.V. - Todos nós somos produtos das nossas vivências. A minha experiência apoia-me no meu trabalho hoje, para além das decisões que tomo, que claramente têm influências do que fui experienciando. Além disso, vamos fazendo sempre muitos contactos a nível profissional que nos podem ser úteis ao longo da vida. Acho que é importante passarmos por várias fases e momentos, porque confere aos profissionais uma perceção mais holística do trabalho.

 

V.A. - Apesar do sotaque de português do Brasil, a sua família pertence à região do Algarve e Alentejo? De onde são? Como foi regressar para perto deles?

P.V. - É isso mesmo. Metade da minha família é de Boliqueime e a outra metade do Alvito, no Alentejo. Foi uma felicidade imensa saber que poderia voltar, apesar de não ser esse o meu objetivo principal. Regressei ao Algarve em meados de março, atualmente resido em Silves, e vim precisamente pela oportunidade de ser diretor da In The Pink. Foi muito bom reencontrar os meus tios, tias e primos e primas.

 

V.A. - Como surge o convite para ser diretor da Galeria de Fotografia Contemporânea, In The Pink?

P.V. - Havia uma vaga aberta e eu fui contactado. A partir daí fomos falando... percebi logo que era um projeto que poderia gerar frutos e ter muito impacto na região. Assim que visitei o espaço, ainda em construção, confesso que foi impactante.

 

V.A. - Quais são os seus objetivos enquanto diretor?

P.V. - Os meus objetivos estão alinhados com os dos sócios-proprietários. Queremos construir um espaço de referência na fotografia, não só no Algarve, mas em contexto nacional. Queremos apresentar artistas de renome nacional e internacional para o público louletano poder explorar as capacidades de impacto e de acolhimento dessas práticas artísticas da fotografia contemporânea. Isto tudo, evidentemente, sem perder o carácter comercial da Galeria, que às vezes é mal compreendido pelo público, mas é o que gera a possibilidade da produção de cultura na nossa sociedade. O papel de uma Galeria é quase como se fosse um articulador e dinamizador dos artistas, para que estes cheguem aos colecionadores.

 

V.A. – Quando refere “carácter comercial”, está a afirmar que a Galeria vai vender peças? De quem serão essas peças?

P.V. - Todas as peças que apresentamos aqui estão à venda e pertencem aos artistas comercialmente representados por nós. Fazemos a intermediação das vendas, apresentamos esses artistas a um público maior e, claro, apoiamos e incentivamos à sua produção. Os artistas podem contactar-nos e apresentar os seus dossiers de trabalho. Agora a relação direta entre apresentar e ser exposto, passa por critérios da Galeria, por exemplo: tem de estar dentro do que procuramos para as nossas programações. Além disso, deve ir ao encontro das nossas capacidades e do que o nosso público procura.

 

V.A. – Como é que uma obra pode não ser aceite na In The Pink?

P.V. - Um dos critérios poderá ser a não viabilidade em termos de vendas ou se é algo que se afasta dos objetivos do programa da Galeria. Pode também acontecer sentirmos que a produção daquele artista pode esperar um pouco, porque existem alguns pormenores a resolver. Diria que essencialmente é isto, assim como não termos capacidade no momento de receber aquela proposta, por estarmos com outras já em vista.

 

V.A. - Que tipos de atividades vão ser feitas na Galeria, para além das exposições?

P.V. - No futuro gostaríamos de articular visitas com escolas, para além de criar encontros com diferentes públicos e estabelecer redes de contactos. Workshops, debates e tertúlias podem ser ideias, apesar de nada estar pensado ou definido. Queremos que este seja um espaço capaz de articular e dinamizar redes. Obviamente queremos dar a conhecer o espaço da Galeria e, a partir daí, pensar em colaborações pontuais.

 

V.A. – O Algarve é uma das regiões do país que “sofre” com a sazonalidade. No inverno, existe receio de uma quebra de público na In The Pink? Como estão a pensar “dar a volta” a essa época mais baixa do ano?

P.V. - Já pensámos nisso, sim. O contexto social no qual estamos inseridos, passa por essa baixa de intensidade no inverno, mas isso acontece noutros locais do mundo. Podemos pensar em programas e exposições que acabem por dar a volta a isso. Agora vamos estar abertos o ano inteiro e vamos receber muito público, teremos um verão intenso de trabalho. No inverno, teremos de criar outras alternativas, obviamente. Para nós era essencial inaugurar no verão, porque a próxima exposição é já em setembro e queremos aproveitar ainda o público do verão, ou seja, da época alta.

 

V.A. – Quem são os proprietários da Galeria? Como é que eles adquiriram o espaço?

P.V. - O Philip e Anja Burks são um casal teuto-britânico [a Anja é alemã e o Phillip é inglês] que se conheceram no Algarve e residem cá há muito tempo. Eles partilham uma paixão pela região e, já durante o tempo da pandemia, viram que o edifício estava à venda e interessaram-se. Na altura, encontraram uma ruína, em enorme estado de abandono e degradação. Depois de adquirirem o edifício, o casal decidiu investir na fotografia contemporânea, uma vez que essa é também uma das suas paixões – eles são colecionadores de fotografia contemporânea. O Philip e a Anja Burks decidiram também fazer esta aposta, pela falta de oferta na área da fotografia contemporânea em Portugal. O objetivo seria criar um espaço que pudesse apresentar a fotografia de forma principal e, também, porque eles sabem que Loulé e o restante Algarve atravessam um período de desenvolvimento e maior importância no setor cultural. Podemos então dizer que a paixão e respeito pela região, a possibilidade de criar um espaço de referência até a nível nacional e o dinamismo de públicos que a região oferece (residentes e sazonal), foram as bases que fizeram nascer a In The Pink. 

 

V.A. – Os proprietários decidiram manter a fachada do espaço intacta, mantendo a cor rosa. Foi por uma questão de conservação de património? A cor rosa (em inglês “pink”) tem ligação ou influenciou o nome da Galeria?

P.V. - Este é um edifício icónico e o público já o identificava como “a casa rosa”. Foi uma parte que aproveitamos para construir a identidade da Galeria. O nome In The Pink surge de uma expressão que significa “estar de boa saúde” ou “estar com boas condições” e, claro, “pink” é o inglês da palavra portuguesa “rosa”. Quisemos ter um gesto de respeito e preservação.

 

V.A. - No passado dia 25 de junho, aconteceu a inauguração. Como correu? Superou as vossas expectativas?

P.V. - Foi excelente, porque as pessoas estavam curiosas e já viam aqui obras há muito tempo, queriam saber como iria ser reconvertido este espaço. Foi também muito interessante perceber que as pessoas ficaram contentes pela reabilitação do edifício. Tivemos ainda muito feedback positivo no que toca às obras e aos artistas que apresentámos. Estiveram presentes cerca de 150 pessoas, sem contar com as que olham pela janela curiosas por saber o que temos cá dentro.

 

V.A. - Já me falou que esta é uma Galeria diferente em Portugal. Porquê?

P.V. - Várias coisas tornam esta Galeria diferente. Primeiro porque é um espaço físico privilegiado e com três andares de exposição. Depois, porque se insere num centro histórico de uma cidade que não é Lisboa ou Porto, é uma cidade mais “periférica”. Em terceiro, porque explora públicos residentes e turísticos e pelo programa da Galeria, vai buscar e representar artistas de interesse, com uma trajetória nacional e internacional. E, por fim, porque é um espaço que finalmente traz a fotografia para primeiro plano.

 

V.A. - Que projetos tem para o futuro da Galeria?

P.V. - Para já, temos prevista uma exposição para setembro. Depois disso, estamos a pensar noutra, que ainda está “no forno”. Queremos ter um programa anual, coerente e contínuo de exposições, para além de agregar uma comunidade interessada em arte à volta da Galeria. Queremos ainda aproximar-nos de potenciais colecionadores que queiram fazer parte. Por fim, poder receber grupos, escolas e o público geral, bem como responder a perguntas sobre a fotografia e sobre os artistas.

 

V.A. - Porque é que as pessoas têm de visitar a In The Pink?

P.V. - Porque a qualidade das obras é impressionante e o edifício foi restaurado com muito carinho. Acho que é fundamental apoiar a cultura na nossa sociedade, porque nos faz melhor todos os dias.

 

Por: Filipe Vilhena