Famílias com menores rendimentos vão ver a taxa de esforço para pagar os créditos a taxa variável estabilizar em 2022, diz BdP.
A subida da inflação e das taxas de juro aumenta a pressão sobre os orçamentos das famílias. E estes “choques” têm impactos diferentes nos agregados consoante o nível de salários e características socioeconómicas. Tendo em conta este cenário e a subida dos salários em 2023, o Banco de Portugal (BdP) conclui que a generalidade das famílias com empréstimos a taxa variável (inclusive a hipoteca da casa) conseguirá manter o consumo de bens essenciais e satisfazer o serviço da dívida com os seus rendimentos em 2023. E mesmo as famílias com menores salários vão ver a taxa de esforço para pagar os créditos de taxa variável a estabilizar em 2022 e a subir ligeiramente em 2023.
Na análise às principais despesas sobre os rendimentos dos portugueses, o regulador liderado por Mário Centeno conclui que, em 2023, “a generalidade das famílias consegue manter um volume de consumo de bens essenciais igual ao de 2021 e satisfazer o serviço da dívida a partir do rendimento corrente, sem pôr em causa outro tipo de despesas”, lê-se no Boletim Económico de dezembro de 2022 publicado na passada sexta-feira, dia 16 de dezembro.
Analisando à lupa os impactos da inflação e do aumento das taxas de juro na situação financeira das famílias com dívida a taxa de juro variável em 2023, o BdP estima que:
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Rendimento disponível das famílias excluindo juros vai subir 6,1% em 2023 face a 2022 para as famílias com baixos rendimentos e 5,4% para as famílias com rendimentos mais elevados;
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Despesas em bens alimentares e energéticos: terá um maior impacto no rendimento das famílias com menores salários (de +5,4%), do que para as famílias com maiores rendimentos (+1,5%). Em 2023, “os efeitos negativos do aumento dos preços dos bens alimentares e energéticos serão menores do que os observados em 2022”, destaca ainda;
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Serviço da dívida anual com taxa variável (incluindo o crédito habitação indexado à Euribor): terá um impacto de +3,3% sobre os rendimentos das famílias mais vulneráveis e um impacto de 1,2% nos agregados com salários mais elevados;
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Impacto líquido do aumento do rendimento disponível, dos encargos com a dívida e do aumento dos preços dos bens alimentares e energéticos volta a ser negativo, em média, para as famílias com rendimentos inferiores a 26 mil euros em 2021 (-2,4% e -1,0% do rendimento do respetivo quintil), mas é positivo nos restantes níveis de rendimento.
O que é certo é que “a capacidade de ajustamento deverá ser mais exigente” para as famílias endividadas que obtiveram em 2021 um rendimento disponível (excluindo juros) inferior, em média, a 18.500 euros anuais, diz o supervisor português. “Ainda assim, a taxa de esforço destas famílias é de 22,7% em 2021, permanece estável em 2022 (22,6%), subindo apenas ligeiramente, menos de 2 pontos percentuais, para 24,4% em 2023”, referiu ainda.
Além disso, “as famílias com dívida têm uma situação no mercado de trabalho mais favorável e escolaridade mais elevada do que que as restantes nesse segmento. É possível também que este grupo de famílias tenha acumulado poupança durante a pandemia, num contexto de maior incerteza e limitações ao consumo de diversos bens e serviços, e beneficiando das medidas de apoio, em particular, das moratórias de crédito”, explica ainda o regulador liderado por Mário Centeno na mesma publicação.
Por outro lado, o BdP também conclui que as famílias portuguesas com menores rendimentos vão precisar de um novo apoio extraordinário em 2023 de quase 700 euros para compensar a subida das taxas de juro e inflação. Tendo por base a informação da Central de Responsabilidade de crédito (CRC), o BdP estima que cerca de 400 mil famílias recorreram a moratória, com um benefício médio por família de cerca de 3.700 euros. E, partindo esta análise, o regulador conclui que “as famílias com dívida do primeiro quintil necessitariam, para manter as quantidades de consumo de bens essenciais e o serviço de dívida, de um montante líquido adicional de 699 euros em 2023 face a 2021. Este valor corresponde a 19% do montante total de que as famílias beneficiaram, em média, com as moratórias”.
Por: Idealista