Atualmente os portugueses enfrentam tempos difíceis provocados pela subida exponencial do custo de vida e a consequente redução do poder de compra. Isto tem colocado a descoberto a fragilidade e a instabilidade económica das famílias portuguesas.
Realizar uma gestão orçamental adequada em função dos gastos mensais é uma tarefa cada vez mais complexa. Prova disso, é o facto de, em Portugal, 74% das famílias reconhecerem que enfrentam situações de maior debilidade económica.
Segundo dados recentemente divulgados pelo Banco de Portugal (BP), o grau de endividamento das famílias portuguesas cresceu 4,8 mil milhões de euros em 2022. Sendo o maior crescimento a que assistimos desde 2008.
Este endividamento tem sido provocado principalmente pela:
- Subida acentuada de despesas relacionadas com alimentação, mobilidade, saúde, habitação, educação, seguros e contratos de serviços;
- Aumento das taxas de juro e comissões associadas aos contratos de crédito com taxas variáveis, sendo cada vez mais complicado evitar situações de incumprimento.
Perante este cenário desanimador, que alternativas têm os portugueses para melhorar a sua situação financeira e cumprir com todas as suas obrigações?
Embora implementar estratégias de poupança seja um ótimo princípio para reduzir parte dos encargos mensais, para muitas famílias a maior fatia das suas despesas concentra-se nas prestações dos seus créditos.
Por isso, com os aumentos constantes dos juros (TAN, TAEG, Euribor, Spread) associados aos contratos de crédito com taxas variáveis, é cada vez mais complicado os consumidores suportarem as suas obrigações contratuais com entidades credoras.
O Que é Uma Consolidação de Créditos?
Uma solução cada vez mais falada nos meios de comunicação social e anunciada pelas entidades financeiras em Portugal é o recurso a crédito consolidado, que promete na teoria aliviar os encargos mensais das famílias portuguesas.
Ora, esta solução permite juntar todas as dívidas num único contrato, o que faz com que, na prática, o consumidor consiga reduzir até 60% o valor das prestações mensais. Ou seja, no caso do consumidor possuir mais do que um crédito ativo no seu nome, pode optar por consolidar créditos para aumentar o rendimento disponível mensal.
Esta alternativa é uma forma bastante eficaz de reduzir significativamente o risco de entrar em situações de incumprimento e diminuir as suas responsabilidades, uma vez que tem de se preocupar apenas com o pagamento de uma única prestação mensal.
Além disso, se precisar de um capital extra para financiar um determinado projeto ou despesa inesperada, o consumidor pode também solicitar o financiamento em questão alocado à consolidação de créditos.
Consolidar Créditos: Será a Alternativa Mais Viável Para Reduzir os Encargos Mensais?
Tendo em conta todos os problemas económicos do país acima mencionados, será que a consolidação de créditos pode ajudar os consumidores a recuperar alguma estabilidade económica e melhorar a sua qualidade de vida?
Vamos a um exemplo. Suponhamos que determinado consumidor possui três contratos de crédito ao consumo (por exemplo: crédito pessoal, crédito automóvel e cartão de crédito) com prazos de pagamento distintos. Com um capital em dívida de 20.000 euros, o cliente paga atualmente 650 euros em prestações.
Ao recorrer à consolidação de créditos, para um prazo de pagamento a 84 meses (7 anos), a nova mensalidade é de 349,75 euros. Ou seja, o consumidor teria uma poupança mensal de 300,25 euros por mês.
Não obstante, este processo financeiro tem as suas desvantagens, o que pode deixar o consumidor de “pé atrás” com esta alternativa. Uma vez que:
- Ao consolidar créditos está a aumentar o prazo de pagamento: por norma para o prazo de 84 meses (7 anos), salvo raras exceções em que pode conseguir alargar o prazo de pagamento para 120 meses (10 anos);
- Aumenta, consequentemente, o custo total do empréstimo em juros. Por isso o consumidor deve ter em atenção o MTIC apresentado no novo contrato de crédito;
- Em alguns casos poderão existir despesas associadas ao processo de contratualização do novo crédito - como valores cobrados devido a amortizações, comissões de abertura do novo contrato e pelo pagamento do imposto de selo.
Em suma, de modo a evitar situações de incumprimento, juntar créditos é uma alternativa viável para o consumidor. No entanto, é essencial ter em conta o caso em particular de cada família e avaliar as vantagens e desvantagens deste processo em conjunto com várias credoras.