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Acesso à habitação pior que em 2008 – e juros agravam cenário

14:59 - 09/10/2023 ECONOMIA
Custos para comprar casa dispararam. Em 2022, esforço financeiro estava 11% acima dos máximos registados na última crise.

O acesso à habitação via crédito bancário em Portugal continua a degradar-se, e está pior que na última crise financeira em 2008, segundo o Banco de Portugal (BdP). Estudo do regulador mostra que o esforço financeiro para aquisição de habitação, no final de 2022, “situava-se em valores elevados, cerca de 11% acima dos máximos observados em 2007-2008”. Comprar uma casa é, por isso, cada vez mais difícil, e o cenário que tende a agravar-se face à subida galopante das taxas de juro que, segundo o governador Mário Centeno, “ainda não se repercutiu todo nas condições de financiamento".

Vários fatores estão a contribuir para a deterioração da acessibilidade à habitação em Portugal. No boletim económico de outubro, o BdP aponta o aumento dos preços das casas e das rendas - que não está a ser acompanhado pelo aumento do rendimento das famílias -, além da “recente subida das taxas de juro” que, segundo o regulador, “reduziu a procura por habitação”.

O BdP explica que a acessibilidade à habitação via crédito é medida por um indicador de esforço financeiro, que avalia a capacidade de um indivíduo com um rendimento médio pagar os custos anuais estimados com a aquisição de uma habitação tipificada (112,4 m2 – área útil média de um alojamento familiar clássico de acordo com os dados dos Censos 2021) com recurso a crédito bancário, caracterizado pela taxa de juro e pela maturidade. Este indicador é dado pelo rácio entre a prestação de um empréstimo e o rendimento disponível médio.

 

Comprar via crédito ou arrendar: esforço disparou

As conclusões da análise do regulador mostram que, no período entre 2015 e 2019, “o nível do indicador de esforço era baixo, registando um agravamento a partir de 2019”. No final de 2022, por outro lado, “situava-se em valores elevados, cerca de 11% acima dos máximos observados em 2007-2008", no estalar da última crise financeira.

Em paralelo, o número de anos para comprar habitação – dado pelo rácio entre o valor da casa e o rendimento – também aumentou para oito no final de 2022.

“Entre 2016 e 2019, a medida de acessibilidade à habitação via crédito manteve-se relativamente estável, com o impacto da subida dos preços da habitação a ser compensado pela redução das taxas de juro e pelo crescimento do rendimento disponível. No período recente, observou-se uma deterioração da acessibilidade decorrente da conjugação da continuada subida dos preços da habitação com o ciclo de aumento das taxas de juro, não obstante o crescimento do rendimento nominal”, lê-se no documento.

 

O BdP também analisou a acessibilidade à habitação via arrendamento, que pode ser avaliada pelo rácio entre as rendas da habitação para os novos contratos e o rendimento disponível.

O regulador constata que, tal como os preços da habitação em Portugal, “as rendas também se têm mostrado muito dinâmicas, com um crescimento anual em torno de 8% no período 2021-22”. Este aumento, diz, contribuiu para uma deterioração da acessibilidade via arrendamento em 2021, tendo sido “em grande parte compensado pelo aumento do rendimento disponível nominal em 2022”.

Aperto dos juros “ainda não se repercutiu todo”

Na conferência de imprensa de apresentação do boletim económico, o governador do BdP, avisou para o facto da transmissão da política monetária ocorrer “com desfasamento de 12 a 18 meses" pelo que o efeito das subidas das taxas "já ocorridas ainda não se repercutiu todo nas condições de financiamento e, por conseguinte, na economia". O que quer dizer que o aperto dos juros pode ainda não estar perto do fim, mas a meio caminho, sendo esperadas dificuldades, pelo menos, até meados de 2025.

“Temos de ter cautela com as decisões que tomamos no futuro próximo; a inflação está a cair e mesmo com taxas de juro nominais estáveis tal significa que as taxas reais vão continuar a aumentar", alertou Mário Centeno.

O governador frisou ainda que "o que resta de 2023 e o ano de 2024" será marcado por uma "grande desaceleração". "Agora temos um crescimento inferior ao que tivemos em 2021 e 2022, uma evolução normal e expectável, mas que está neste momento claramente já marcada também pelo ciclo da política monetária e pelos apertos financeiros”, disse.

 

Por: Idealista