Dois em cada 3 jovens arrenda casa por falta de dinheiro para comprar

18:01 - 19/12/2023 ECONOMIA
Maioria dos jovens inquilinos quer comprar casa, mas não tem capacidade financeira para o fazer. Situação tem-se agravado

As famílias portuguesas, tendencialmente, preferem ser proprietárias da sua residência. Mas nem todas têm capacidade financeira para ter uma casa própria, sobretudo as mais jovens. Já em 2020, dois em cada três jovens arrendatários admitiram que preferiam comprar casa, mas não tinham condições financeiras para o fazer, tendo de mergulhar no mercado de arrendamento, apesar dos altos preços das rendas. E, hoje, tudo indica que o acesso à habitação para comprar por parte dos jovens terá piorado, sendo que o poder de compra diminuiu e dificulta a poupança, as casas à venda continuam caras e os juros no crédito habitação estão bem mais elevados.

Os resultados do Inquérito à Situação Financeira das Famílias 2020, levado a cabo pelo Banco de Portugal (BdP), revelam que a grande maioria das famílias terá decidido ser arrendatário apesar de ter preferido comprar casa. Acontece que já na altura “não tinha condições financeiras para isso”. Este motivo é o “mais relevante” independentemente das idades dos inquilinos e da época da decisão.

O que salta à vista é que este continuou a ser o principal motivo que levou os inquilinos a manter-se na casa arrendada – a sua residência principal – no momento da entrevista realizada em 2020, sobretudo, nas camadas mais jovens (34 anos ou menos). Portanto, há três anos, cerca de 65% destes jovens arrendatários admitiu que preferia comprar casa, mas não tinha condições financeiras para o fazer, ou seja, quase dois em cada três jovens.

Há ainda outros motivos pelos quais os inquilinos mais jovens continuaram a viver numa casa arrendada em 2020, de acordo com os dados divulgados pelo BdP no Boletim económico de outubro:

  • consideraram uma situação temporária e queriam comprar em breve (22%);
  • consideraram que a compra de casa naquele momento não era um bom investimento (9%);
  • não queriam mudar de casa, independentemente das questões financeiras (2%);
  • preferiram arrendar, independentemente das questões financeiras (1%);
  • não queriam ficar endividados (1%).

De notar ainda que nenhum jovem até aos 34 anos disse preferir ter dinheiro disponível ao invés de aplicar numa casa ou considerou a renda menor do que a prestação da casa em 2020. Até porque nessa altura, note-se, a Euribor ainda estava negativa e as prestações no nível mais baixo de sempre.

Olhando para nos níveis de rendimentos, o BdP concluiu que “entre os arrendatários, em todas as classes etárias e todos os quintis de rendimento, exceto no mais elevado, o principal motivo para não comprarem continua a ser, tal como no momento da decisão, a ausência de condições financeiras que o permitam (51%). Nas famílias de maior rendimento, a justificação mais frequente para as situações de arrendamento é o facto de se tratar de uma situação temporária”, concluem.

Importa recordar que os dados são referentes a 2020, uma altura em que os preços das casas para comprar e arrendar já estava em alta, mas as taxas de juro nos créditos habitação estavam nos valores mais baixos de que há registo. De lá para cá, muito mudou: apesar da pandemia e da guerra na Ucrânia, a venda de casas disparou em 2022 para níveis recorde e os preços continuaram a subir. Mas 2023 trouxe um cenário diferente: a escalada da inflação e dos juros, em resultado do conflito armado em placo europeu, acabou por arrefecer a venda de casas nos dois primeiros trimestres e a subida dos preços das habitações começou a abrandar a nível nacional.

O que é certo é que com o poder de compra diminuído, preços das casas elevados e os juros nos créditos habitação ainda em alta, as famílias têm hoje menos fatores favoráveis à compra de casa do que tinham há três anos, agravando, assim, o acesso à habitação em Portugal, especialmente por parte dos jovens, que são empurrados ainda mais para o mercado de arrendamento.

 

Por: Idealista