A MEDICINA DO FUTURO

19:04 - 07/09/2024 OPINIƃO
Por F. Inez

Os povos primitivos eram dominados por crenças e lendas, mitos, ritos mágicos para explicar a doença e a morte. Antigamente, em épocas muito recuadas, a saúde e a doença eram explicadas pelos humores dos deuses e por poderes ocultos. Mas vamos deixar de lado as práticas de bruxaria, de feitiçaria, de benzeduras e ocultismo, que ainda hoje subsistem e impressionam as pessoas menos letradas e sobretudo os desesperados e desiludidos … cujo último recurso é o sobrenatural e o oculto! Como qualquer outra Ciência, a Medicina não para de evoluir. Há muito que a realidade ultrapassou a ficção.

Todos os dias nos surpreende com novas tecnologias que frequentemente mais parecem ficção científica, de tal modo que se poderá dizer que o Futuro da Medicina já vem de trás … é já hoje … e acontece todos os dias. Todos temos mais ou menos a ideia de que a Informática, a Robótica, a Inteligência Artificial, a Biotecnologia e a Nanotecnologia há muito vêm revolucionando o mundo em que vivemos … e a Medicina não é exceção, antes pelo contrário, tem sido um campo fértil para a sua aplicação com novas tecnologias que desafiam a imaginação.

O ritmo dos novos conhecimentos e novas técnicas é hoje exponencial, de tal modo que os progressos alcançados nos últimos 40-50 anos transformaram por completo a Medicina, como tem transformado outras Ciências. A esperança de vida subiu 2 décadas (passou dos 60 e … para os 80 anos e …). A qualidade de vida, desse acréscimo, nem tanto … mas estamos a viver melhor. Hoje, muitas doenças passaram a ter cura, outras uma prevenção e um diagnóstico precoce eficaz. O domínio dos exames complementares de diagnóstico foi alvo duma evolução espetacular. Criam-se cada vez mais áreas da Medicina, subespecialidades com novas competências. Há muito que se definia a Medicina como uma ciência e uma arte … e hoje a arte parece estar a dar o lugar à ciência., com preponderância desta! Todavia, saber comunicar e gerar empatia, continuam a ser os pilares fundamentais dos profissionais de saúde, já que muito do sofrimento humano resulta da insegurança e do medo! Entretanto, nem tudo são “rosas”, a relação médico-doente tem sofrido algumas quebras e fragilidades. As dificuldades atuais no acesso à saúde, sobretudo das populações mais carenciadas, tem dado lugar a novas-velhas profissões sem ciência nem pudor, que procuram explorar a desgraça e o sofrimento alheios, para fazer disso um negócio. Diagnósticos e cirurgias são hoje executadas por técnicos a milhares de quilómetros dos pacientes, pela telemedicina, … e precisões cirúrgicas milimétricas, incompatíveis com a mão humana, são praticadas por robôs em órgãos particularmente delicados como o cérebro.

Diagnósticos e terapêuticas de doenças raras ou de grande complexidade são já feitas por supercomputadores em poucos minutos, o que levaria dias ou semanas se feitos pelos médicos apenas pelos métodos convencionais. A progressiva desospitalização que desde há anos a cirurgia laparoscópica vem permitindo enviar para casa o doente operado no mesmo ou no dia seguinte, fugindo-se, assim, às terríveis infeções hospitalares (que neste momento ainda matam 12 doentes por dia em Portugal) está já a permitir que a generalidade dos doentes passe a ser “internada” e tratada em sua casa sob a vigilância direta do pessoal médico e de enfermagem. e ainda com o controlo remoto permanente dos seus sinais vitais. No futuro só as situações mais graves serão internadas nos hospitais.

Os sensores de contacto, já hoje uma rotina, que permitem a cada momento   avaliar a glicemia dos diabéticos, sem as sempre incómodas “picadinhas” diárias sempre desagradáveis. Os smartphones que avisam o paciente de ataque cardíaco eminente. A chamada medicina à medida, com a individualização dos tratamentos com base nos genes de cada paciente – a farmacogenética - já hoje largamente praticada, evitando-se assim os temíveis efeitos colaterais adversos. A nanomedicina, que através de microscópicos mini-robôs leva direta e exclusivamente a medicação às células doentes, poupando as saudáveis. A medicação através de pensos, tipo tatuagem artificial, aplicados na pele para libertarem o medicamento de forma controlada, de acordo com as necessidades de cada momento, vai relegar para o museu pílulas e as incómodas injeções. 

Todavia, todas estas supertecnologias nos anunciariam o melhor e mais perfeito dos mundos … não fosse faltar-lhes “qualquer coisa” … indispensável nas horas más … a essas… a maquinaria tecnológica, desprovida de sentimentos e indiferente às nossas emoções, jamais nos poderá responder! Nessas horas … só o calor humano nos poderá consolar! E é nessas horas que terá de reaparecer um João Semana qualquer, com uma palavra amiga e que nos ponha a mão no ombro … No dia em que se perder esta cumplicidade e esta empatia entre o paciente e o médico que o trata, a Medicina começa a perder a sua aura de misticismo indispensável para que o paciente confie no médico que o trata, de quem espera que lhe alivie o sofrimento físico, mas também o emocional!

 

“Em nada o Homem se aproxima mais dos deuses do que em dar saúde a outros homens … ” Cícero – filósofo romano.