Habitação para pessoas com paralisia cerebral faz nascer Observatório Ibérico

13:50 - 25/09/2024 NACIONAL
A procura de soluções de habitação para pessoas com paralisia cerebral fez nascer o Observatório Ibérico de Residências (OIR) que reúne sete associações de Portugal e de Espanha ligadas ao setor na partilha de conhecimento, foi hoje anunciado.

Velhice ou incapacidade do cuidador para tratar do familiar com paralisia cerebral, e o aumento da esperança de vida destes, são fatores que, segundo o Observatório, pesam muito nas respostas sociais existentes nos dois países, que enfrentam “grandes listas de espera”.

As entidades fundadoras são a Associação do Porto de Paralisia Cerebral (APPC), a Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa, a Associação de Paralisia Cerebral de Viseu, o Centro de Paralisia Cerebral de Beja, a Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral de Faro e, ainda, a Asociacíon de Familias de Personas com Parálise Cerebral e o Centro de Atención Integral AMENCER-ASPACE Vigo.

Da Asociacíon de Familias, com sede em Vigo, Espanha, a gerente Conchi Somoza conta que o convite partiu de Portugal, da APPC, com "um email que procurava profissionais para partilhar boas práticas e que acabou por receber a adesão de duas instituições espanholas, mas com capacidade para crescer”.

Com “mais de 200 mil pessoas com paralisia cerebral em Espanha”, segundo Conchi Somoza, “o número de pedidos para estrutura residencial está a subir muito, o que é um problema, pois os residentes vivem cada vez mais anos”.

“Acresce a isto as mudanças ocorridas na sociedade. Antigamente, a mãe de uma pessoa com paralisia ficava em casa a cuidar dela, hoje já não pode ser assim, as pessoas têm de trabalhar”, sublinhou.

Para além disso, e continuando a radiografia ao país vizinho, “há cada vez mais jovens a chegar às estruturas residenciais, sendo que em Espanha só podem entrar depois dos 16 anos, mas há pedidos para pessoas com menos idade”.

Dispondo, tal como em Portugal, de “recursos residenciais com várias tipologias que vão da moradia ao apartamento”, a representante no OIR das associações espanholas lembra os “50 anos de experiência no tratamento da paralisia cerebral” em ambos os países para justificar “os ganhos que surgirão pelo trabalho em conjunto”.

“Isso vai permitir-nos partilhar muitas boas práticas e apontar ao futuro em termos de apoios fora, também, da Península Ibérica”, assinalou.

Composto por técnicos especializados e de diferentes áreas, o observatório vai dedicar-se a quatro temáticas: Saúde, Políticas Sociais, Direitos e Prestação de apoio/autonomia funcional e tem como principal objetivo capacitar a sociedade civil, as tutelas institucionais e os técnicos de instrumentos que possam melhorar a tomada de decisão sobre diferentes temáticas, melhorando e otimizando os serviços prestados a milhares de beneficiários destas respostas, lê-se na informação enviada à Lusa.

O Diretor-técnico das unidades residenciais da APPC, Pedro Meireles, revelou à Lusa que em Portugal a estimativa é que existam “entre 20.000 a 22.000 pessoas com paralisia cerebral”.

“No primeiro ano trataremos o envelhecimento dos beneficiários das residências e todos os desafios que, no âmbito da saúde, ligados ao envelhecimento, trazem para as residências”, acrescentou o responsável, explicando que em Portugal “as respostas residenciais estão distribuídas por sete associações, com várias tipologias e tipo de ocupação”.

Sobre os ganhos que podem surgir com o exemplo de gestão em Espanha, Pedro Meireles assinalou que “o facto de funcionar por regiões” aliciou os portugueses, dado que os espanhóis “têm mais autonomia, e, ao contrário dos portugueses, não recebem apoio apenas do estado central, mas também do governo regional”.

O Observatório está aberto, segundo o diretor da APPC, a outras áreas da deficiência, relevando o responsável que a ideia é chegar “às associações que tratam as doenças neurológicas e afins e onde existem também residências que acolhem”.

“Enquanto nós acolhemos sobretudo pessoas com paralisia cerebral, existem outras em que está tudo misturado (...) há grandes filas de espera”, disse.

 

Lusa