A Fundação Manuel Viegas Guerreiro assinala o centenário do nascimento do poeta «do eu com o mundo» com o cunho da ciência, das leituras por uma bookstagrammer louletana, da arte da Associação Satori e das mãos das crianças de Querença.
Celebra-se Ramos Rosa através de um vídeo raro de Adão Contreiras e das páginas dos livros que a Fundação guarda no “Centro de Estudos Algarvios Luís Guerreiro”.
O encontro de dia 19 de outubro, pelas 15h30, na sede da Fundação, tem como oradora convidada Ana Paula Coutinho Mendes, professora catedrática da Faculdade de Letras do Porto e com uma tese sobre a obra poética e crítica de António Ramos Rosa (“António Ramos Rosa: mediação crítica e criação poética”, Prémio Pen-Club Ensaio, 2004). Em 2005 assinou a Fotobiografia do autor. Em 2001, foi responsável pela seleção, prefácio e bibliografia da antologia poética de Ramos Rosa, tendo publicado vários ensaios sobre o poeta.
A sessão “António Ramos Rosa, ele escreve sol” enquadra-se nos Estudos Gerais Livres (EGL), projeto que o etnólogo, antropólogo e pedagogo Manuel Viegas Guerreiro (1912-1997) concebeu com o amigo e filósofo Agostinho da Silva. Os EGL tinham como objetivo criar e dinamizar “Aulas Livres” sobre os mais variados temas, das diversas áreas do conhecimento, para todos e para todas, independentemente da classe social, faixa etária ou habilitações literárias. Como o próprio nome indica, as “Aulas” eram universais, de acesso livre e gratuito. Foram concretizadas entre 1989 e 2001.
Prévias à do próximo sábado, as anteriores foram ministradas por Francisca Van Dunem (1.ª “Aula Livre”, sobre crescer num país em guerra e escolher Direito como forma de actuação, 2019), Pilar Del Río (2.ª “Aula Livre”, sobre os deveres humanos, 2022) e Maria Rosa Paiva (3.ª “Aula Livre”, sobre o declínio dos insectos, 2023).
Um conjunto de ensaístas também estará presente através de Pedro Lopes Adão, escritor e coordenador do livro “Ele escreve sol, nos cem anos de António Ramos Rosa”, lançado em Maio deste ano pela Poética Edições, obra que também reúne desenhos do poeta, intercalados com cinco artigos, entre eles, o de Nuno Júdice (“in memoriam”).
LETRAS E ARTE
A homenagem a um dos nomes maiores da poesia portuguesa contemporânea é complementada com um filme de Adão Contreiras, artista, poeta e co-fundador da Associação Casa-Museu José Pinto Contreiras (Gorjões, Faro), aquando de uma visita do editor Fernando Esteves Pinto a Lisboa, para lhe entregar em mãos a obra “Prosas seguidas de diálogos”. O filme, editado pela FMVG numa versão mais curta, evidencia as múltiplas dimensões de António Ramos Rosa em momentos de afeto e cumplicidade com a sobrinha Gisela Ramos Rosa, de criação literária e de humor. Termina com a leitura de poesia de um autor grego, pelo próprio Ramos Rosa, que comenta o poema.
Outras leituras se seguem, no auditório da Fundação, pela jovem Rita Chumbinho, aluna na Escola Secundária de Loulé e bookstagrammer (@bnblibrary).
Uma pequena mostra exibe a coleção bibliográfica do poeta na Fundação. Ainda que constitua apenas um fragmento da extensa obra de Ramos Rosa, esta é bastante representativa, atravessando as décadas de 70, 80, 90 e pontuando títulos até 2012. A singularidade do acervo da Fundação assenta ainda no facto de que este integra, na sua maioria, primeiras edições e que, alguns dos títulos incluem “fac-símiles” de poemas manuscritos. Outros, incorporam desenhos do “poeta do visual”. Além da poesia e da crítica literária, também se encontra a sua escrita par a par com outros autores, como Casimiro de Brito em “Duas Águas, Um Rio”. Em “Declives”, a poesia de Ramos Rosa integra um desenho desdobrável de Artur Cruzeiro Seixas. Noutra publicação, fotografias de Paulo Gaspar Ferreira (livro que inclui um “compact disc”). Revela-se ainda em “António Ramos Rosa, a colecção do Centro de Estudos Algarvios Luís Guerreiro”, a profusão de editoras ligadas aos livros do poeta, assim como a diversidade da origem da impressão, que vai de Faro a Guimarães, de Sintra a Lisboa, do Porto à Póvoa de Varzim.
A sessão será pincelada pelo artista de Quarteira Mistik, que fará, ao vivo, o retrato de António Ramos Rosa, numa colaboração com a Associação Satori. Mais cores se juntam, resultado de uma atividade no passado dia 9 com as crianças do Jardim de Infância e do 1.º ciclo de Querença, escola integrada no agrupamento Pde João Coelho Cabanita, Loulé. As primeiras foram desafiadas a pintar sobre a palavra escrita: “Ele escreve sol” e as do 1.º ciclo a prolongarem o traço de Ramos Rosa no desenho que faz capa do livro “Ele escreve sol, nos cem anos de António Ramos Rosa”. Pinturas de “Aldeia: António Ramos Rosa pelos olhos do futuro” e mostra bibliográfica do poeta à vista e em comunhão de espaço no acesso ao auditório da Fundação.
Graças a uma colaboração com a Poética Edições, poderá adquirir o livro “Ele escreve sol, nos cem anos de António Ramos Rosa”, recentemente publicado. Também a Biblioteca Municipal António Ramos Rosa se aliou à “Aula Livre” n.º 4, viabilizando, em Querença, a compra do livro “António Ramos Rosa, Fotobiografia”, de Ana Paula Coutinho Mendes. Recorde-se que na aldeia não existe Multibanco.
A “Aula Livre” n.º 4 conta com o apoio da Câmara Municipal de Loulé e da União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim.