A ajuda dos EUA à Ucrânia e a cobiça dos minerais e terras raras

12:00 - 14/03/2025 OPINIÃO
André Magrinho, Professor Universitário, Doutorado em Gestão | andre.magrinho54@gmail.com
Com a nova presidência de Trump acelera-se o desmoronamento da ordem internacional construída a partir da 2ª guerra mundial, baseada em valores, regras e na força da lei, em que se alicerçou um mundo mais multilateral e mais global, a par de um forte crescimento continuado do comércio internacional e das cadeias globais de valor (CGV). Neste contexto, a NATO foi o garante da paz e da segurança na Europa, por força da solidariedade colectiva atlântica, ao abrigo do seu artigo quinto. Ora, a nova ordem internacional que está a emergir conduz-nos a um mundo “mais multipolar, mas menos multilateral”, onde a “lei da força” se impõe à “força da lei”, em particular no direito e na diplomacia internacionais. Nesta nova ordem internacional, com base na lei dos mais fortes, o mundo tende a organizar-se em esferas de influência, uma espécie de retorno à “doutrina Monroe” do século XIX. Tudo leva a crer que, no essencial, é essa a visão de Trump, na qual a principal prioridade é a política doméstica (America first) e o poder americano no seu hemisfério ocidental. Neste ponto de vista, a Europa e o resto do mundo seriam geridos através de acordos com a China na Ásia e a Rússia na Europa. Esferas de influência e negócios seriam a melhor forma de estabilizar a geopolítica internacional. `
 
Com a sua postura “transaccional”, Trump reivindica uma parte significativa das terras raras e minerais críticos na Ucrânia, sendo isso o preço a pagar pelo apoio financeiro e em armas americanas. E, não importa que se confunda o agredido com o agressor. Em paralelo com a postura “transacional”, têm sido referidos o “método do caos” ou a “teoria do louco” para enquadrar as atitudes do presidente Trump em matéria de política internacional e de negociação diplomática. São atitudes que visam criar imprevisibilidade, medo e o caos, para gerar a confusão, para depois baralhar as pessoas e conseguir aquilo que quer. É este método negocial que também está a ser tentado com a Ucrânia, “encostando-a à parede”, ameaçando retirar-lhe os apoios se não ceder em relação a esta pretensão, e nem sequer são asseguradas garantias de segurança em relação à Rússia. É quase uma espécie de capitulação imposta à Ucrânia, se esta aceitar os termos do acordo que Trump pretende. Provavelmente, os EUA e a Ucrânia vão ter de renegociá-lo e incluir cláusulas de segurança e defesa para que possa ser aceite.
 
As terras raras e minerais críticos são riquezas valiosas que a Ucrânia possui, e que têm crescente importância geopolítica e económica. São, entre outros, reservas de lítio, titânio, urânio, grafite, manganês e terras raras, essenciais para tecnologias modernas, incluindo baterias de veículos elétricos e eletrónica de consumo. Algumas estimativas avaliam-nas entre 12,5 biliões  e 26 biliões de dólares. Vão ser muito importantes para a reconstrução da Ucrânia quando a guerra terminar. E, os tempos que se avizinham vão ser muito difíceis para a Ucrânia e para a Europa, porque esta, ao ter descurado a segurança e defesa, não é um sujeito geopolítico com capacidade dissuasora suficiente. Vai ter de lutar contra o tempo para ganhar um nível de autonomia estratégica credível.