Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com
Caríssimas Andorinhas, estimadas irmãs,
Contemplo o céu ao entardecer, o desenho de silhuetas ágeis que cortam o ar com precisão. Sois vós, as andorinhas, aves migratórias que, há séculos, povoais a imaginação humana. A vossa chegada anuncia a primavera, e a vossa partida sussurra o fim do verão. Mas, para além de serdes mensageiras das estações, sois pequenas criaturas aladas a refletir, em muitos aspetos, a essência do próprio ser humano. Tal como nós, viveis em comunidade, reunis em bandos, construis os vossos ninhos em parapeitos, beirais e telhados, bem perto das nossas casas. Há quem veja em vós, símbolos de fidelidade e perseverança. A vossa constância ecoa também nos laços humanos, no desejo de pertença e no instinto de voltar ao que nos é familiar. A vossa migração, longa e arriscada, lembra-nos os caminhos que os homens percorrem em busca de um destino melhor. Deixais para trás terras frias e viajais milhares de quilómetros até encontrardes refúgio.
Pensava: não é isso que fazemos também? O desejo de encontrar um lar, um lugar de acolhimento, move tanto os pássaros quanto os homens. Também simbolizais a liberdade. O voo rápido e destemido desafia os limites do céu, lembrando-nos do sonho humano de romper fronteiras e explorar novos horizontes. Mas essa liberdade não significa ausência de raízes. Regressais sempre. Talvez porque, como os homens, saibais que a verdadeira liberdade não está em partir, mas em ter para onde voltar. Com os humanos partilhais, assim, uma essência comum: a busca por lar e liberdade, o desejo de comunidade e a coragem para enfrentar distâncias. No fundo, ao observar-vos no céu, talvez veja em vós um reflexo de nós mesmos, cumprindo um papel que parecia maior do que sua própria existência. Na dança do vosso voo rápido e certeiro, desenhando trajetórias invisíveis que parecem coreografadas pelo próprio vento, pequenas e delicadas, vos tornais também um dos símbolos mais belos do amor. Não apenas do amor romântico, mas de todos aqueles laços que resistem ao tempo, à distância e às tempestades da vida.
Diz-se que as andorinhas escolhem um único parceiro para toda a vida. Encontram-se uma vez e, a partir desse momento, tornam-se inseparáveis. Quando a primavera chega, regressam ao mesmo ninho para nidificar, à mesma casa, como se o coração as guiasse de volta ao lugar onde foram felizes. Há algo de profundamente humano nesse instinto: a vontade de voltar, de preservar o que foi construído a dois, de renovar promessas silenciosas a cada reencontro. Mas o amor das andorinhas não se manifesta apenas na fidelidade. Ele está também na partilha e no sacrifício. Juntas, construis o lar com paciência e dedicação, dividindo tarefas e protegendo os vossos filhotes com uma devoção incansável. Sois um lembrete de que o amor verdadeiro não é apenas paixão efémera, mas um compromisso diário, feito de gestos pequenos, mas essencial. E, no entanto, o vosso amor não aprisiona. Sabeis que amar não é prender, mas sim permitir o voo. Assim, partis em longas migrações, enfrentais o desconhecido, desafiais os céus, mas sempre voltais. Talvez essa seja a maior lição que nos deixais: amar é confiar que, mesmo depois da distância, do inverno e das tempestades, o amor verdadeiro encontra sempre o caminho de regresso. Ao ver-vos a riscar o céu, lembro-me de que o amor não se mede pelo tempo que se passa junto, mas pela certeza de que, não importa onde estejamos, sempre haverá um lugar para voltar.