As organizações ambientalistas Acréscimo e Zero repudiaram hoje o que chamam a «eucaliptização» de áreas de mato, defendida por representantes de empresas de celulose, e dizem ser tudo uma questão monetária.

“Na verdade, o que está em causa é um aspeto pecuniário, ou seja, é mais barato plantar em áreas de mato do que replantar atuais áreas de eucaliptal abandonado ou mal gerido, sendo que a diferença de custos ronda valores por hectare 50% superiores nas replantações”, dizem as associações num comunicado divulgado hoje.

O comunicado das associações ambientalistas surge na sequência de uma notícia recente, segundo a qual proprietários florestais e indústrias da celulose pediram o aumento da área de eucalipto e de outras espécies de árvores de crescimento rápido em zonas de mato abandonadas para reduzir o risco de incêndio e desenvolver o setor.

“A área devia ser aumentada e não reduzida”, afirmou à agência Lusa Luís Damas, presidente da Federação Nacional das Associações de Proprietários Florestais (FNAPF), como também defendeu a Associação da Indústria Papeleira - Celpa.

A Acréscimo e a Zero manifestam no comunicado “total repúdio por esta tentativa de criar pressão sobre o Governo para voltar a desregulamentar as arborizações com eucalipto, quando o que verdadeiramente está em causa é a existência de um passivo ambiental que a indústria não tem qualquer intenção de solucionar mas sim de acentuar”.

As associações explicam que as áreas de eucaliptal mal gerido e abandonado representam cerca de dois terços da área total de eucalipto em Portugal, 560 mil hectares de um total de ocupação oficial de 845 mil hectares.

A Acréscimo e a Zero acrescentam que a ocupação real de eucaliptos rondará já, “muito provavelmente, cerca de um milhão de hectares, com esta espécie exótica a dominar a paisagem florestal a norte do rio Tejo” (dados de 2015 do 6.º Inventário Florestal Nacional ).

Depois, afirmam as duas associações, a análise das celuloses está “completamente enviesada”, porque os registos indicam que a presença das áreas de matos tem vindo a decrescer e o envolvimento das áreas de eucaliptal na área ardida total apresenta uma tendência crescente. A proposta da indústria da celulose não terá qualquer impacto na redução dos incêndios, garantem.

A proposta, consideram, é baseada apenas “em interesses financeiros insustentáveis, que colocam em causa a economia, o bem-estar das populações, rurais e urbanas, e o património ambiental do país”.

Acréscimo e Zero lembram também no comunicado que o país já tem a maior área relativa com estas plantações a nível mundial, “sendo detentor da maior área absoluta a nível europeu e a quinta a nível global, mas apresenta a produtividade média unitária mais deplorável e a maior área relativa de risco de incêndio e de propagação de pragas e de doenças”.

As associações ambientalistas exigem que o Governo assuma os compromissos de redução de área de plantação de eucaliptos.

A área de eucalipto passou de 810 mil hectares em 2010 para 845 mil hectares em 2015, dos quais cerca de 300 mil são certificados, de acordo com os últimos dados.

As associações estimam que esta área tem vindo a reduzir desde 2017, em resultado dos incêndios de 2017 e 2018 e das condicionantes impostas.

O eucalipto representa 26% da floresta portuguesa.

Portugal é o terceiro maior produtor europeu de pastas de celulose e o segundo de papel.