6 Outubro é Dia Mundial da Paralisia Cerebral. Estudo revela eficácia e segurança do procedimento em irmãos com paralisia cerebral.

Um estudo recente australiano mostrou que a recolha, o armazenamento e, depois, a infusão de células do cordão umbilical de um recém-nascido pode ter resultados eficazes e seguros num irmão com paralisia cerebral. Por ocasião do Dia Mundial da Paralisia Cerebral, que se celebra a 6 de outubro, a investigadora e especialista biologia celular e molecular Andreia Gomes destaca as evidências que apontam no sentido da segurança e eficácia da utilização de células estaminais no tratamento de vários problemas de saúde, tais como as lesões cerebrais. A paralisia cerebral é a deficiência motora mais frequente na infância, afetando nos países mais desenvolvidos entre 1,7 e 2,2 por mil crianças.

O ensaio clínico, liderado pelo Murdoch Children’s Research Institute (MCRI) e publicado este ano na revista Cytotherapy, indicou que a infusão intravenosa de células sanguíneas do cordão umbilical de uma criança é segura num irmão com paralisia cerebral. Embora não haja uma cura para a paralisia cerebral, as células estaminais do cordão umbilical têm o potencial de melhorar a lesão cerebral e, consequentemente, a função motora bruta devido à sua capacidade de ativar processos de reparação e regeneração de tecidos.

O ensaio clínico de fase I envolveu 12 participantes australianos, com idades compreendidas entre 1 e 16 anos. Os mesmos foram infundidos com células do sangue do cordão umbilical dos seus irmãos e, após o procedimento, todos os participantes foram seguidos durante 12 meses. No entanto, três meses bastaram para se observarem melhorias na função motora bruta em três crianças. As melhorias mais significativas nas capacidades motoras brutas foram observadas em crianças mais novas que ainda não tinham atingido 90% do seu potencial de capacidades motoras brutas previsto.

«Este ensaio clínico veio, uma vez mais, demonstrar que a infusão do sangue do cordão umbilical é completamente segura, sem qualquer reação adversa nas crianças que participaram. Além disso, promoveu uma melhoria significativa na função motora bruta das crianças mais novas, o que sugere que a intervenção pode ser mais eficaz nos primeiros anos de vida, quando o desenvolvimento se encontra numa fase inicial», refere Andreia Gomes, investigadora e diretora técnica e de I&D do laboratório BebéVida.

Visto que ainda não existem agentes terapêuticos capazes de restabelecer a função motora, «estes resultados são importantes e muito promissores», sustenta a especialista em biologia celular e molecular. «A deteção precoce da patologia associada à aplicação do sangue do cordão umbilical, nesta fase inicial, pode melhorar significativamente a função motora bruta devido à sua capacidade de ativar processos de reparação e regeneração».

Andreia Gomes explica que a intervenção terapêutica na paralisia cerebral incide maioritariamente na componente motora e, por isso, as crianças são sujeitas a longos períodos em instituições de reabilitação. «De forma a perceber a componente neurológica, e assim combater esta patologia, têm sido conduzidos vários estudos. Atualmente mais de mil ensaios clínicos foram ou estão a ser realizados para tentar encontrar um alvo terapêutico para esta patologia, nomeadamente o cordão umbilical, através das células estaminais do mesmo».

Com efeito, este é mais um estudo que demonstra que o cordão umbilical é eficaz e seguro na melhoria da vida e quotidiano de crianças, representando uma potencial estratégia terapêutica para doentes com paralisia cerebral. Ainda assim, continuam a ser necessários mais estudos que permitam perceber em que mecanismos, quer o sangue quer o tecido do cordão umbilical, atuam para ajudar na recuperação da paralisia cerebral.

Segundo o relatório Paralisia Cerebral em Portugal no Século XXI, a incidência da patologia diagnosticada aos cinco anos de idade tem vindo a diminuir desde 2001.  Em 2001, a taxa era de 2,01 por mil bebés e em 2010 esta taxa situou-se em 1,05 casos por mil nados vivos em Portugal.

É uma doença que diz respeito a um grupo de distúrbios neurológicos que aparecem na primeira infância e afetam permanentemente o movimento do corpo e a coordenação muscular. É causada por danos ou anormalidades dentro do cérebro em desenvolvimento que interrompem a capacidade do cérebro de controlar o movimento, manter postura e o equilíbrio.

Apresentando sintomas relacionados com a dificuldade na deglutição e reduzida amplitude de movimento em várias articulações do corpo, devido à rigidez muscular, é uma patologia que apresenta implicações significativas no plano individual e social da criança.